14 de janeiro, de 2017 | 09:04

Como é saber escutar no mundo digital

Sulamita Mendes*


A maioria das pessoas sabe, ou já leu em alguma mensagem, que para se comunicar adequadamente é preciso aprender a ouvir. E que deve aprender a ouvir sem querer responder o tempo todo. Escutar para compreender o outro e assimilar o que ele quer expressar, e não já ficar bolando o que vai dizer como resposta ou interromper sem nem dar chance ao outro de falar.

Pois bem, e como é isso nos dias atuais, de mídias sociais? Como vou ouvir alguém se estamos num mundo do faz de conta que está tudo bem, todo mundo é igual e pensa da mesma forma? Algumas pessoas desconhecem que vivem em uma bolha de opiniões. Exato, não conseguem perceber que nem todo mundo pensa igual ao que elas defendem. Claro que os iguais se atraem no mundo digital, e que nas redes sociais muitos somem de nossa timeline não porque deixaram de ser nossos amigos, mas porque não compartilham de mesmas opiniões e gostos, e daí começam a aparecer cada vez menos.

E o que isso tem a ver com aprender a escutar? Ora, se uma pessoa entra em nossa página e escreve algo que contradiz o que defendemos, nós perdemos a chance de aprender com a diferença se já saímos brigando, se não damos a chance para “escutar”. Com isso, ficamos cada vez mais incapacitados para o diálogo, o novo, o crescimento. Não quer dizer que seja preciso mudar de opinião, mas não precisamos e não devemos nos fechar para o mundo e para as opiniões contrárias.

Isso se repete no ambiente físico é lógico. No passado se respeitava a opinião do outro, se conversava valorizando o diálogo e aprendendo com opiniões contrária. Hoje a pessoa sabe que sua opinião política ou sobre um filme ou qualquer outro assunto é contrário, e mesmo assim, se fecha para a troca de opiniões. Na verdade, não quer a conversa, mas a briga. Às vezes a falta de habilidade em escutar é acompanhada de interrupções ou de expressões faciais que dizem: “Não avance que não vai dar em nada, não estou te ouvindo, tenho minha opinião e pronto”.
Loucura! Não há como fazer de conta que a opinião contrária não existe e que é possível se fechar e só falar com quem comunga do mesmo raciocínio e argumento. Cada vez mais o mundo fica pequeno, a partir de quando acontece o boicote ao novo, ao diferente. Com isso, promove-se uma comunicação de raiva, de ganha-ganha ou de perde-perde. Dia desses ouvi de uma amiga uma frase que resolvi aplicar na minha comunicação. Preciso me comunicar com minha mente e meu coração, e não com o meu estômago. Temos que reaprender a ouvir, e quem sabe muitos conflitos resultem em crescimento e inovação.

Especialista em comunicação e marketing, doutoranda em psicologia social e professora do Centro Europeu de Curitiba (PR)
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