11 de janeiro, de 2017 | 16:59

Febre Amarela no Leste Mineiro - um surto silvestre

Márcio Castro

O aparente surto de Febre Amarela que vem sido observado em municípios da região leste mineira está exclusivamente relacionado à forma silvestre, e não justifica alarde nas áreas urbanas da região, onde não há evidências de que possa vir a ocorrer uma epidemia urbana e onde a população apresenta boa imunidade.

Como amplamente noticiado, tem sido relatada a ocorrência de vários casos sugestivos de Febre Amarela na região Leste de Minas, estando todos eles restritos à zona rural. Estes dados refletem um provável surto relacionado ao Ciclo Silvestre do vírus, que acomete primatas não humanos e tem como vetores os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, que têm hábitos estritamente silvestres (usualmente circulam em copas de árvores, onde podem picar os macacos). A forma Silvestre da Febre Amarela é considerada uma epizootia, pois acomete animais silvestres com potencial de rápida disseminação e letalidade. Os humanos podem ser acometidos acidentalmente ao entrarem em contato com zonas rurais, especialmente aquelas próximas a florestas tropicais. Esta apresentação da Febre Amarela é considerada como sendo endêmica nas áreas tropicais das Américas, onde há uma circulação recorrente do vírus.

Por outro lado, a forma urbana da Febre Amarela, que é uma condição epidemiológica muito distinta da forma silvestre, está erradicada do Brasil desde 1942. No ciclo urbano, o vírus da Febre Amarela é transmitido por mosquitos Aedes, que tem hábitos urbanos, e têm o próprio homem como reservatório. Esta é uma condição improvável de se desenvolver novamente no Brasil, devido à ampla vacinação da população, o que confere uma condição de imunidade coletiva ("imunidade de rebanho").

A vacina contra Febre Amarela é a principal forma de prevenção contra esta infecção e é disponibilizada pela rede pública de saúde de forma contínua. Além de já compor o calendário vacinal de crianças e adultos, houve, nas últimas décadas, várias campanhas de vacinação em situações específicas, atingindo uma ampla imunização. Esta vacina é altamente eficaz e segura, sendo considerada de imunidade duradoura. Ou seja, uma única dose da vacina pode gerar imunidade por toda a vida, conforme definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que alterou o Regulamento Sanitário Internacional a partir de junho de 2016.

No Brasil, o Ministério da Saúde propõe um esquema vacinal ainda mais seguro, com uma dose e um único reforço após 10 anos, para indivíduos com mais de cinco anos de idade. Nas crianças menores, é proposta uma dose aos 9 meses e um reforço aos 4 anos, devendo ser considerados imunizados todos aqueles que já receberam as duas doses da vacina.

Neste momento, em que as condições epidemiológicas não evidenciam haver o risco iminente de epidemias, não se justifica promover alarde entre as populações urbanas. Assim, a vacinação deve ser considerada prioritária para as populações que residam ou frequentem as áreas rurais, em especial nas comunidades acometidas pelo surto.

* Especialista em Clínica Médica e Infectologia, pós-graduado em Gestão em Saúde, trabalha na Clínica São Vicente.

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Comentários

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Marcelo

12 de janeiro, 2017 | 12:30

“Atentar para as pessoas que moram na zona urbana e utilizam a zona rural como lazer ou trabalho. Grato.”

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