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09 de janeiro, de 2017 | 17:26

Os abutres da Previdência

Por Paulo César Régis de Souza

Foi só o governo atual encaminhar um documento, tipo “ colcha de retalhos”, tipo “Frankenstein”, cheio de cacos e pegadinhas, e chamar de "Reforma da Previdência" que os abutres de plantão intensificaram as propagandas enganosas sobre as vantagens de uma previdência complementar privada. Reforma exigida por um mercado ávido em lucros e dividendos. E que se dane o povo brasileiro...

Em verdade, diante das insistentes afirmações do Presidente Temer e seus sinistros ministros de que a Previdência pública iria acabar, diante da realidade temerária de uma aposentadoria ridícula e do fato de que 70% da aposentarias do INSS não passam de um salário mínimo, diante do sequestro do dinheiro da Previdência pela DRU e da liquidação do Ministério da Previdência, diante da omissão da Receita Federal que não fiscaliza, não arrecada e favorece os caloteiros com sonegações, renúncias, desonerações e Refis, inviabilizou-se, por algum tempo, a previdência pública no país.

A corrida ao ouro dos planos de previdência mostra que 13 milhões de brasileiros, por falta de horizontes e perspectivas, já fugiram do INSS para os planos, que acumulam ativos de quase R$ 700 bilhões, aproximando-se dos ativos dos fundos de pensões. Os recursos de ambos, quase 1 trilhão e 400 bilhões, são usados pela política fiscal com uma extraconjugal avidez! A proposta de reforma apresentada tem jeito de um "Frankenstein" brasileiro, elaborada por um técnico do IPEA, que não ouviu nenhum técnico do INSS, que é quem verdadeiramente entende de Previdência. Aliás, por se encontrar na torre da Fazenda, esnoba o INSS...

Na “defesa da reforma”, que tem cara e coração de Frankenstein, gráficos, tabelas, números e projeções, apresentadas nos meios de comunicação são elaborados por técnicos, terceirizados, gente com genéricos PHDs e MBAs, ligados aos bancos e seguradoras que há anos sonham em ampliar a sua presença no mercado de Previdência, graças ao desmantelamento dos fundos estatais de pensão e o desmanche progressivo do INSS. Eles tentaram nas diversas reformas, constitucionais e infraconstitucionais – só reduzindo direitos sociais, foram mais de 100 nos governos FHC, Lula e Dilma - e obtiveram algumas vitórias, como o empréstimo consignado que endividou milhares de aposentados e pensionistas país afora. Antes do consignado, nenhum aposentado ou pensionista devia um centavo aos bancos e tamboretes. Hoje, devem quase R$ 100 bilhões...

Não somos contra reformar, mas somos contrários a exploração do pobre do aposentado, que já foi roubado o suficiente antes, com a implantação do famigerado "fator previdenciário".

Não somos contra a reforma, queremos uma discussão maior com a população, os mais de 203 milhões de brasileiros, 5 milhões de empresários, os 106 milhões de pessoas que compõem a População Economicamente Ativa, os 12 milhões de desempregados, os 60 milhões de segurados contribuintes e os 33 milhões de segurados beneficiários, aposentados e pensionistas.

Não queremos uma reforma de um só, elaborada pelo IPEA, que entende só de números, gráficos, tabelas etc, mas se esqueceu do eixo ou vetor principal da reforma: o financiamento, como se esqueceu de arrumar a Previdência dos militares da União, dos Estados e dos municípios, de arrumar a previdência do rural, do judiciário e do legislativo.
Somos contra a reforma feita por senadores e deputados, gente sem qualquer moral, comprometidos pela corrupção e que votam, nas madrugadas, em troca de verbas parlamentares e partidárias.

Só para lembrar, decerto todo parlamentar tem um aposentado ou pensionista na família, pai, mãe, irmãos, esposa, cunhados, primos etc. E eu recomendo ouvi-los. Não embarquem neste novo avião boliviano, sem combustível...

(*) Paulo César Regis de Souza é vice-presidente Executivo da Associação Nacional dos Servidores da Previdência e Seguridade Social - ANASPS.

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