23 de novembro, de 2015 | 07:55

O mar ficou amarelo com a lama da Samarco

A onda de lama que causou morte e destruição ambiental sem precedentes em MG e ES chegou ao Atlântico


"Acabou tudo. Estamos sem peixes". A frase de um barqueiro de pesca artesanal em Regência, na foz do rio Doce, no município de Linhares, Espírito Santo, resume a situação daquele trecho do oceano Atlântico, atingido nesse domingo (22/11) pela onda de lama que percorreu mais de 600 quilômetros do rio Doce, depois de vazar da barragem da Samarco em Mariana, mineradora de propriedade da brasileira Vale e da anglo-australiana BHP Billiton.

O rompimento da barragem aconteceu no dia 5 de novembro e causou uma enxurrada de lama que devastou o  distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, e ainda os povoados de Paracatu de Cima, Paracatu de Baixo e a cidade de Barra Longa, até chegar ao rio Doce.

A água com elevada turbidez ultrapassou as boias de contenção da barreira de 9 km instalada por uma empresa contratada pela Samarco, na foz do Rio Doce. Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, isso já era esperado, porque as boias são para conter óleo e não lama. As equipes da Samarco fizeram uma adaptação e acreditam que o recurso reduziu o impacto da lama sobre o mangue.

A foz do rio Doce é um berçário de centenas de espécies que, na avaliação dos pesquisadores da vida marinha naquela região, foram impactadas. No sábado (21/11), o juiz federal Rodrigo Botelho decidiu aceitar o plano que a empresa apresentou e suspender temporariamente uma multa milionária, imposta para que a empresa instalasse recursos para reduzir os impactos da lama no litoral. 

Nessa segunda-feira (23/11), a Samarco vai ter, até 18h, para detalhar quais medidas serão tomadas. Se desobedecer, a mineradora vai pagar multa de R$ 10 milhões por dia.

A Prefeitura de Linhares emitiu um alerta para que as pessoas não entrem nas praias de Regência, Povoação e Pontal do Ipiranga, porque a água está imprópria para banho. Pontal do Ipiranga é onde localiza-se uma colônia de férias do Sindicato dos Metalúrgicos de Timóteo e Coronel Fabriciano (Metasita) e refúgio para muitas famílias em férias no fim do ano. Ainda não há informação de quanto tempo o impacto da lama da mineração vai prejudicar o uso do balneário.  
Enviadas por leitores


mar de lama


O biólogo André Ruschi, que atua na região de Linhares, tem divulgado que a chegada da lama no oceano pode ter um impacto ambiental equivalente à contaminação de uma floresta tropical do tamanho do Pantanal brasileiro. Ele acredita que, se nada for feito, o prejuízo ambiental do 'tsunami marrom' pode demorar 100 anos para ser revertido.

Já o engenheiro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Rosnan, afirma que os estragos estão sendo superdimensionados pelos órgãos ambientais. “No mar, eu creio que não será nada relevante. Haverá só uma mancha colorida muito grande que se dispersará normalmente, como se dispersam as manchas que saem dos rios em épocas de grandes chuvas”, explicou o engenheiro.

A prefeitura de Linhares informou que o abastecimento de água não será prejudicado pela chegada da lama, haja vista que a principal fonte de abastecimento do município é o rio Pequeno, canal entre a Lagoa Juparanã e o rio Doce.

Com o abastecimento garantido, a prefeitura de Linhares está enviando caminhões-pipa com água potável para Colatina, que ainda estava com o abastecimento de água interrompido por causa da onda de lama.

O Ministério Público chegou a notificar a Prefeitura de Colatina na sexta-feira (20), após tumultos na distribuição de água mineral fornecida pela Samarco à população. O órgão solicitou 100 postos de distribuição, mas a prefeitura ressaltou que não tinha efetivo para isso.

Em Baixo Guandu, a captação de água do Rio Doce foi cortada desde segunda-feira (16). A prefeitura abriu um canal do Rio Guandu até uma estação de bombeamento e está utilizando a água do rio para abastecer a população.

MAIS:

Juiz de Linhares determina que Samarco aumente a foz do rio Doce - 21/11/2015

Perdas com usinas paradas por lama no rio Doce ainda são avaliadas - 21/11/2015

Produção da Cenibra permanece interrompida - 18/11/2015

Perdas com usinas paradas por lama no rio Doce ainda são avaliadas - 21/11/2015
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
MAK SOLUTIONS MAK 02 - 728-90

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário