19 de agosto, de 2015 | 15:01

Mais 14 anos de cadeia para Pitote

Tribunal do Júri entende que falso policial é culpado pela morte do fotógrafo Walgney Carvalho


Com atualização às 19h15 


Durou dez horas, aproximadamente, a sessão do Tribunal do Júri Popular da Comarca de Coronel Fabriciano, em que foi julgado o falso policial civil Alessandro Neves Augusto, o Pitote, de 34 anos, acusado de assassinar a tiros, em 14 de abril de 2013, o fotógrafo Walgney Assis Carvalho, de 43 anos.

Ao fim do julgamento, o Conselho de Sentença decidiu que o réu era culpado das acusações. Com a decisão, o juiz criminal Vitor Luís de Almeida fixou em 14 anos e 3 meses de reclusão a pena a ser cumprida pelo réu. Pitote foi condenado por homicídio duplamente qualificado: motivo fútil e para esconder um outro crime.

Foi negado ao réu o direito de recorrer em liberdade. Ainda que tivesse esse direito, ele não poderia sair da cadeia, pois recorre já preso de outra condenação, pelo assassinato do repórter Rodrigo Neto, em Ipatinga.
A promotora de Justiça, Juliana Silva Pinto, que atuou na acusação, disse que estava satisfeita com o resultado. Justamente no dia da sessão ela completou dez anos de atuação no Ministério Público. Juliana ainda vai avaliar se recorrerá para aumentar a pena.

Já a defesa, coordenada pelo advogado Rodrigo Márcio do Carmo Silva, confirma que irá recorrer imediatamente da sentença, por não concordar com a autoria do crime imputada a seu cliente.

Pitote voltará, nesta quinta-feira, 20, para a penitenciária de segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem, de onde foi trazido para o julgamento de ontem, em Coronel Fabriciano. A pena em Ipatinga soma 12 anos pela morte do repórter e quatro anos pela tentativa de homicídio contra um jovem que acompanhava Rodrigo Neto.

Silêncio

No encerramento do Júri, no começo da noite desta quarta-feira, familiares da vítima, que acompanharam o julgamento, evitaram falar com a imprensa. Já em relação aos familiares de Pitote, a pedido dele mesmo, informam advogados, os parentes não foram ao julgamento.

Walgney Carvalho tinha uma filha (atualmente adolescente) com uma policial militar, com quem foi casado. A ex-mulher acompanhou o julgamento pela manhã.

Essa foi a segunda condenação de Alessando Neves Augusto, no mês de abril, ele foi levado a julgamento e condenado a 12 anos de prisão pelo assassinato do repórter Rodrigo Neto, em Ipatinga e quatro anos por tentativa de homicídio contra um jovem que acompanha o repórter na hora da execução. 

No processo em Ipatinga, o primeiro a ser levado a julgamento foi ex-policial civil Lúcio Lírio Leal, também considerado culpado e condenado a uma pena de 12 anos de prisão por ter ajudado Pitote na trama do assassinato do repórter. Conforme as investigações, Lúcio não participou do assassinato do fotógrafo. 


Detalhes do julgamento 

 

Com a tréplica da defesa, iniciada por volta das 17h45, chegou a dez horas, o julgamento no Tribunal do Júri da Comarca de Coronel Fabriciano, que teve no banco dos réus o falso policial civil Alessandro Neves Augusto, o Pitote, acusado de matar o fotógrafo Walgney Carvalho, em 14 de abril de 2013. 

 

A defesa de Pitote é foi feita por quatro advogados, o coordenador, Rodrigo Márcio do Carmo Silva e outros três: Reginaldo Malaquias Silva, Sheila Santos de Carvalho e Thiago Xavier de Souza. 

 

Eles contestaram provas e mantiveram a negativa de autoria, diante do réu que optou por ficar em silêncio, quando pela manhã foi chamado para responder perante o Júri Popular.

 

A tréplica é o momento em que a defesa rebate e explica pontos ressaltados pela acusação, nesse julgamento, representada pela promotora Juliana Silva Pinto, com a assistência do advogado criminalista Délio Gandra. 

 

Embates 

 

Ascom TJMG


Julgamento de Pitote em Coronel Fabriciano


Entre os muitos embates do dia, a defesa de Pitote afirmou, na sessão, que a investigação do caso, perto da campanha eleitoral, foi plataforma de campanha política e que teve muita repercussão da mídia. A defesa também questionou a capacidade de a vítima saber quem matou o jornalista se a própria polícia não sabia. "É melhor um culpado solto do que um inocente condenado", afirmou o advogado Rodrigo Márcio.

Delegado

O delegado do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil em Belo Horizonte, Emerson Morais, foi o responsável pelo inquérito do assassinato do fotógrafo Walgney Assis Carvalho, em 14 de abril de 2013.

Ele foi a primeira testemunha a ser ouvida na manhã desta quarta-feira, 19/08, pelo Tribunal do Júri da comarca de Coronel Fabriciano. Das sete testemunhas inicialmente arroladas, seis foram dispensadas.

Carvalho declarava conhecer o autor dos disparos que mataram o jornalista Rodrigo Neto de Faria, na madrugada de 8 de março de 2013, em Ipatinga. Ao fim da oitiva da testemunha, ao meio dia, iniciou-se o interrogatório do réu, mas Alessandro Neves Augusto revelou que exerceria seu direito de permanecer calado. Os trabalhos foram retomados às 13h.

Inicialmente, o juiz Vitor Luís de Almeida leu depoimentos de pessoas que presenciaram o ataque ou estavam em local próximo à cena do crime. Eles, na data, confirmaram que a moto de um dos amigos do réu tinha características compatíveis com o veículo usado pelo executor de W., a saber: era preta, tinha a mesma marca e vazava óleo na ocasião. Outras testemunhas viram a troca de motocicletas entre o acusado, que possuía um veículo de cor vermelha, e seu colega.

A testemunha afirmou que, quando do crime contra o jornalista, foi montada uma força-tarefa da delegacia de homicídios de Belo Horizonte e de equipes locais para apurar uma série de assassinatos não solucionados ocorridos no Vale do Aço. À época, várias linhas investigativas foram examinadas, inclusive uma indicando como provável assassino o fotógrafo Walgney Carvalho, por disputas profissionais com o repórter, mas em nenhum caso se verificaram indícios de autoria, exceto no do réu.

Indícios

Entre as evidências, o delegado citou perícia que comprovou que os projéteis encontrados nos corpos de Rodrigo Neto e de Walgney Carvalho pertenciam à mesma arma. As investigações da primeira ocorrência, de acordo com a testemunha, já então apontavam como suspeito o réu. O álibi apresentado por ele – estaria em outra localidade na data dos fatos – não se sustentava, porque a quebra do sigilo telefônico e contradições nas informações prestadas por ele demonstravam que ele estava em Coronel Fabriciano no período.

Além disso, um trajeto alternativo da casa do acusado ao pesque-pague onde ocorreu o crime era estrada de terra, o que condizia com informações do dono da moto, que reclamou que o veículo lhe foi devolvido sujo de poeira. Informações disponíveis no perfil do réu no Facebook foram utilizadas para incriminá-lo: ele era amigo da vítima na mídia rede social e teve acesso à postagem em que o fotógrafo informava onde estaria na data do crime.

Quando detido, Alessandro Neves portava ou possuía em casa pistola com numeração raspada, estojos percutidos e deflagrados, documento falso de policial civil, e reportagem com foto feita pelo fotógrafo denunciando o réu como falso policial civil.

Além disso, ele tinha registrados o nome e o endereço de testemunha ocular de uma chacina na região pela qual quatro policiais civis eram investigados e o contato e os dados pessoais de um policial, que cumpria pena em Belo Horizonte.

O delegado afirmou que Pitote circulava livremente pela delegacia regional e pelo fórum, identificando-se como membro da corporação Polícia Civil e que policiais que se relacionavam com ele foram investigados pela Corregedoria da Polícia Civil. Concluindo seus esclarecimentos à Promotoria, o delegado declarou que, em diversos momentos, em companhia de outras pessoas, Carvalho disse saber quem havia matado o jornalista, o que explicaria a chamada “queima de arquivo”.
Alex Ferreira


julgamento pitote coronel fabriciano


Defesa e jurados

Respondendo à defesa, o delegado disse que a moto preta não foi periciada e que sabe que a localização por estações rádio-base não é precisa a ponto de definir o exato ponto, a localização exata em que uma pessoa está. Ele não se recorda de quantos amigos o fotógrafo tinha no Facebook nem se o policial civil condenado pela morte de Rodrigo Neto (Lúcio Lírio), em Ipatinga, era ou não amigo do fotógrafo na rede social.

A testemunha disse que esteve na cena do crime no dia do acontecimento, mas não se lembra do horário em que chegou. Havia, além dele, delegados de Coronel Fabriciano e de Belo Horizonte, e outros investigadores da força-tarefa.  

O delegado negou que o julgamento do caso de Rodrigo Neto  tenha sido o único evento a vincular Alessandro Pitote ao crime contra Walgney Carvalho.  O fotógrafo, ouvido no caso do jornalista, acompanhou diligência em que teve sua casa revistada e, enquanto o fazia, falou para os policiais que, embora conhecesse o assassino do repórter, não o revelaria.

O delegado afirmou que o fotógrafo era querido nos meios policiais e que não se recorda de ele ter desafetos. Declarou que não acompanhou a realização técnica do exame de microbalística e que a arma apreendida com o réu, uma pistola 380, tinha calibre diferente do constatado nos crimes contra o jornalista e o fotógrafo, um revólver calibre 38.

Relatou que o proprietário do jornal, que publicou a reportagem encontrada na casa de Carvalho, até então investigado no inquérito sobre a morte de Rodrigo Neto, identificou Walgney como o autor do texto, apesar de o nome dele não ser mencionado e haver apenas uma sigla nos créditos da matéria. Por ser aposentado, o fotógrafo não poderia assinar peças jornalísticas.

Respondendo aos jurados, informou que não é comum nem permitido que terceiros estranhos à atuação da Polícia transitem por delegacias e disse que, no dia da morte do fotógrafo, não foi encontrada arma de fogo com a vítima.

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Acusado de matar fotógrafo vai a júri popular - 18/08/2015

 
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