24 de agosto, de 2014 | 00:00

“Precisamos de respeito”

Agentes de combate a endemias enfrentam desafios na jornada diária de trabalho


IPATINGA – O trabalho desenvolvido por agentes de combate a endemias nas ruas da cidade é marcado por fatos curiosos, engraçados, mas, na maioria das vezes, os profissionais enfrentam dificuldade na hora de desempenhar seu papel. Na última quinta-feira (21), a reportagem do DIÁRIO DO AÇO acompanhou um dia de trabalho de uma equipe no bairro Bom Jardim. Era início de tarde e o sol brilhava quando as oito mulheres saíram de porta em porta, chamando pelos moradores, alguns pelo nome, devido à proximidade adquirida.

Em seis anos de profissão, Raquel Prata do Carmo relata que, certa vez, um rapaz a ameaçou com um martelo. “A mãe dele me deixou entrar, mas eu já sabia que tinha alguém que usava drogas naquela casa, só não imaginava que pudesse usar remédio controlado. Quando entrei e fui olhar no banheiro, ele chegou por trás e perguntou o que estava fazendo ali. A mãe interferiu e eu corri nesse momento. Nunca mais voltei lá”, conta.

Esse foi o caso mais arriscado que Raquel enfrentou, mas a agente já encontrou pessoas despidas e um deficiente mental fazendo necessidades fisiológicas no quintal. “Um caso engraçado foi de uma colega nossa que foi cantada por uma mulher. De um modo geral, sou bem recebida. Comecei no bairro Esperança e, dois meses depois, vim pro Bom Jardim”, recorda. Perguntada sobre as dificuldades da profissão, ela aponta que moradores de bairros considerados mais nobres não gostam de receber os agentes, por medo de assaltos.

Em algumas casas, Raquel do Carmo nunca conseguiu entrar, pela ausência de morador ou mesmo por desculpas como “perdi a chave” ou “minha esposa saiu e trancou a porta de casa”. “Percebo que não querem atender e vou embora. Gostaria de pedir respeito conosco, porque muitos acham que nosso serviço é inferior aos outros. Precisamos de respeito, e que saibam que vamos entrar na casa das pessoas e que eles vão nos acompanhar. Esse trabalho é tão perigoso para nós quanto pra eles. Entramos, mas não sabemos se vamos sair. Precisamos de respeito”, pediu.

Amizade
Pelo caminho, os agentes de combate a endemias fazem amigos. Moradora da rua Angélica, Pergentina da Silva, de 94 anos, relata que recebe a equipe de vez em quando, e que gosta da visita. “Acho bom, o trabalho deles é importante porque existem muitos casos de dengue por aí. Mas graças a Deus aqui em casa nunca teve. Minha vizinha já adoeceu umas quatro vezes. Acho que é um pouco de ignorância as pessoas tratarem mal quem faz esse serviço. Já ouvi dizer que nos bairros mais ricos o pessoal é mais enjoado. A visita deles é importante, eu me sinto bem porque eles também me fazer companhia. Moro sozinha e qualquer um que chega aqui e bate um papo comigo eu gosto”, pontua.   
Wôlmer Ezequiel


Agentes de endemia


Como nem tudo são flores, a agente Elaine Ferreira do Vale, que completa quatro anos na profissão no mês de novembro, recorda que, no início do ano, correram atrás dela na rua Avenca, com um machado. “Peguei uma área nova, o marido atendeu e, quando fui assinar a fichinha de controle, sua esposa correu atrás de mim e disse que iria me matar, que eu poderia chamar a polícia que ela tinha atestado de doida e que nada a aconteceria”, aponta.

Elaine, que em suas visitas já foi mordida por cachorro, conta que as pessoas batem a porta na cara dos agentes, apesar do trabalho de combate à dengue ser divulgado em todo o Brasil. Ao chegar à residência dos moradores, os profissionais olham o quintal, caixas d’água, vasilhames com água, ralos, vasos, entre outros itens. “Nossa função é boa porque fazemos amigos na rua, tenho vários, e acabamos fazendo parte da vida da pessoa, assim como também fazem da vida da gente”, afirma.

A agente destaca que era mal recebida em bairros como Cidade Nobre até pouco tempo, mas com o índice de dengue crescendo, as pessoas estão recebendo melhor, a exemplo do que está ocorrendo no Horto e no Bom Retiro. “Mas pessoas mais humildes nos atendem melhor. Gostaria de pedir aos moradores para terem mais consciência e nos receberem melhor, com mais boa vontade, porque o trabalho contra a dengue é muito importante, eliminamos focos todos os dias, para o bem da população. Nosso trabalho é tão digno quanto qualquer outro”, reitera Elaine do Vale.

Zoonoses
Coordenadora dos agentes ligados ao Centro de Controle de Zoonoses de Ipatinga, Márcia Almeida pontua que, apesar de os profissionais usarem uniformes e crachá, ainda assim existe a desconfiança em relação ao trabalho desenvolvido. Entretanto, é possível conferir se a pessoa é mesmo uma agente. Basta ligar para o Centro de Controle de Zoonoses, por meio do número 3829 8383.

“O morador pode pegar o documento deles e ligar para conferir se realmente é um agente nosso. Eles têm a bolsa padronizada e costumam ser conhecidos da população pelo tempo de trabalho nas ruas. Pedimos que tratem bem nossas equipes, porque estamos fazendo nosso trabalho, voltado para trazer um bem para toda a sociedade”, concluiu Márcia Almeida.

 

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