30 de maio, de 2014 | 20:01

Histórias de outro tempo da polícia

Delegado aposentado, Francisco Pereira Lemos fala do lançamento da segunda edição do livro do lendário Paulo Maloca


DA REDAÇÃO – A segunda edição do livro “Detetive Paulo Maloca – Só os fortes sobrevivem” foi lançada nesta sexta-feira, às 20h. O evento, com entrada franca, ocorreu no salão Brunella Recepções, na avenida Sanitária, bairro Santa Terezinha, em Coronel Fabriciano. Hoje aposentado, Paulo Maloca relata no livro detalhes de casos vividos por ele na década de 1990, quando atuou em cidades do Leste de Minas Gerais.

O discurso do livro é “apimentado”, como a sua sinopse: “A polícia, às vezes, agia errado para poder dar certo, muitas vezes se expondo, dando a cara para a justiça bater, em função de pessoas de bem, que gritavam a todo instante para mais segurança a uma polícia totalmente debilitada de recursos, mal equipada, pouco remunerada e sem um contingente necessário para combate os crescentes problemas sociais de violência e insegurança em um país de pura demagogia”.

Quem relata sobre Paulo Orlando de Matos Maloca é o ex-delegado de Polícia Civil, Francisco Pereira Lemos. Quando ainda era detetive, Lemos conta que trabalhou com Paulo Maloca no Vale do Rio Doce.

“Era um parceiro de trabalho que acreditava no exercício da Segurança Pública como um sacerdócio. Naquela época, em Governador Valadares, valia a pena correr risco em prol de uma segurança melhor. Vemos que os policiais de agora estão retraídos no combate ao crime. Mesmo porque, não querem correr risco de uma ação judicial e ter que enfrentar as mazelas de um processo”, detalhou Lemos. 

Para o delegado aposentado, todo policial que encara a profissão com determinação, cedo ou tarde encontra as barras da lei. Paulo Maloca, explica Lemos, foi julgado e absolvido em todos os processos que sofreu ao longo de sua vida profissional. “Muitos segmentos sociais reclamam uma segurança mais contundente. Eu esclareço sempre que, na atual conjuntura as leis lenientes que temos beneficiam quem vive à margem da legalidade. Dessa forma, não pode fazer segurança hoje como se fazia antigamente”, observa.

Para Francisco Lemos, um exemplo recente e típico da situação é o do assaltante que atirou e matou o soldado da PM, André Luiz, no dia 16 de maio na Pampulha. O acusado do crime já tinha 16 passagens pela polícia e estava nas ruas. Poucas pessoas sabem, mas um crime cuja pena é inferior a quatro anos, não mantém o infrator na cadeia. Ele responde em liberdade e assim permanece depois de condenado. Uma pessoa só é considerada reincidente depois de ser indiciada e condenada uma segunda vez. “Mas, quantos cometem o primeiro crime, voltam a delinquir e permanecem como primários porque o segundo processo demora?”, indaga.

Reincidência

Para o delegado aposentado, quem cobra mais segurança da polícia, precisa entender que essa cobrança precisa ser feita, primeiramente, aos legisladores que a própria sociedade elege.

“Chegamos ao ponto em que vemos nas ruas policiais militares fazendo manifestação pública pedindo mudança nas leis. Ocorre o seguinte: antes, íamos para as ruas, prendíamos as pessoas e elas permaneciam presas. Hoje, o indivíduo comete um crime, vai preso e o delegado ou juiz é obrigado a liberar a pessoa, porque assim a lei determina. Está aí a origem da sensação de impunidade. Temos um índice de 65% dos crimes com envolvimento de menores de idade. Eles são apreendidos, levados para a delegacia e ainda saem rindo da polícia. O que antes eles tinham coragem de dizer somente para o policial na rua, passou a dizer para o delegado e agora já falam até com os juízes e promotores”, detalhou.

Reflexão

Lemos avalia que o livro de Paulo Maloca é importante porque as pessoas vão ter acesso a uma época em que a atividade quando o policial tinha condições plenas de exercer o seu ofício e atender aos anseios da sociedade ordeira.

“Somos constantemente cobrados para que voltemos à atividade, mas não existe hoje um policial que possa resolver as demandas da segurança, em função das leis do nosso país. E não é só lei. Essa discussão envolve outros segmentos, a base permanece na família. A escola é um complemento, e ambas precisam estar interligadas. Um menino de 12 anos, sem amparo da família e da escola, está desamparado para ser um cidadão de bem”, concluiu. 

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A vida perde o valor - 11/01/2013

Uma morte violenta a cada dois dias e meio - 04/01/2014
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