05 de março, de 2013 | 00:10

Entrave para o desenvolvimento

"Duplicação da BR-381 depende de participação popular e privada"

DA REDAÇÃO - A tão esperada obra de revitalização da BR-381 parece perdida entre incertezas e especulações. O anúncio de suspensão dos editais para a contratação das empresas que executariam as obras para fazer o novo traçado rodoviário entre Belo Horizonte e Governador Valadares, foi feito de maneira lacônica e permanece sem maiores esclarecimentos. Em nota, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), informou ao DIÁRIO DO AÇO que os editais foram suspensos para a realização de ajustes.
Na prática, a suspensão foi justificada com os pedidos de impugnação dos editais pelas construtoras, alegando falta de informações indispensáveis. Foram alegados equívocos técnicos e omissões nos projetos de duplicação da estrada como, por exemplo, prazos e acertos com a Vale para mudança do traçado da Estrada de Ferro Vitória Minas em alguns trechos paralelos à rodovia. O Dnit não estabelece prazos para a publicação do novo edital.
 
O atual traçado da rodovia, que une o excesso de curvas à imprudência de motoristas, é um desafio diário de sobrevivência para os profissionais que a utilizam diariamente, como é o caso dos carreteiros de diferentes regiões do país ouvidos na reportagem publicada na edição de domingo (3) do DIÁRIO DO AÇO.
 
Mas são muitos os personagens de um drama ainda sem desfecho. Advogado da Viação Presidente, concessionária do transporte de passageiros entre municípios do Vale do Aço e Belo Horizonte, James Houara conta que os condutores dos ônibus de viagens que passam pela via, por exemplo, demandam treinamentos intensos para possibilitar preparo físico e psicológico no transporte. "É preciso ser exigente no controle do tempo de viagem, dos locais onde estão os pontos críticos, além de uma fiscalização na estrada. No ano passado, não tivemos nenhum acidente", pontua.
 
Houara critica o posicionamento do Dnit para explicar a suspensão dos editais da duplicação da rodovia. Na opinião do advogado, falta vontade política para que as obras saiam do papel. "O edital não foi feito de um dia para o outro. O que falta é sair a ordem para iniciar o serviço. Mas a cada hora uma nova desculpa, menos sustentável e menos fundamentada é apresentada. Enquanto isso, a sociedade sofre economicamente, com um custo de transporte mais elevado, sem falar no sofrimento das famílias, com um número imensurável de acidentes contabilizados a cada ano na BR-381", lamentou.
Wesley Rodrigues


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 Agressivo
Com 79 anos, o empresário e ex-presidente da Câmara de Ipatinga e da Associação Comercial de Ipatinga, Helvécio Thomaz Martins, tem uma história de luta pela duplicação da BR-381. Segundo ele, a estrada surgiu quando fazia pouco tempo que o município de Ipatinga havia sido emancipado de Coronel Fabriciano. Mas a via foi feita com economia e sem maiores preocupações com a qualidade. "Ela nunca foi tecnicamente satisfatória", enfatiza. E, com o aumento da frota de veículos nas últimas décadas, o fluxo de trânsito ficou "insuportável".
Helvécio, também presidente da Associação de Moradores do Bairro Horto, se recorda, inclusive, do movimento que encabeçou para a criação da terceira pista da rodovia, há mais de 20 anos, quando a via foi duplicada entre os bairros Horto e Veneza, em Ipatinga. "Chegamos a ameaçar paralisar a rodovia. Foi um movimento localizado, mas feito para atingir as autoridades e mostrar que nós tínhamos força para fazer com que o Estado reagisse favoravelmente à construção da terceira pista. Foi nos dado um prazo, e esse prazo foi cumprido", rememora.
Agora, o que falta para que a duplicação de ponta a ponta sair do papel, conforme o pioneiro, é um movimento mais agressivo e maior interesse da iniciativa privada. "Há uma acomodação muito grande das autoridades regionais, dos clubes de serviço, das entidades e demais forças. Nós somos centenas e centenas de entidades em todos os municípios por onde a 381 passa. Passou, e muito, da hora de nos mobilizarmos de maneira mais eficaz. Se não fizermos um movimento mais agressivo, as obras nunca serão iniciadas", sentencia.
PPP
Um ponto argumentado por Helvécio Martins é visto como crucial pelo presidente da Agência para o Desenvolvimento de Ipatinga (ADI), Elísio Cacildo. Ele defende que a concretização das obras somente será possível por meio das Parcerias Público Privada (PPP). "Embora tenha minha dose de ceticismo eu ainda acredito que poderá se concretizar, embora a realidade não seja favorável. Acredito mais na realização dessa estrada na medida em que ela tenha uma ação das PPPs. Enquanto ela estiver dependente tão somente da União, a dúvida é se a obra sairá do papel, irá permanecer".
E, se por um lado, os impactos refletem as tragédias ocorridas anualmente na estrada, por outro, a infraestrutura arcaica resulta na estagnação do desenvolvimento regional. "Logística de transporte é extremamente importante. O setor metalomecânico do Vale do Aço sofre com o escoamento de produtos de maior dimensão. O problema logístico, além disso, impede uma grande empresa de trazer uma filial ou uma central de abastecimento para cá", concluiu o dirigente.
 
Wesley Rodrigues


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Portal da Transparência
 
Liderada por entidades representativas do setor produtivo mineiro, entre elas a Fiemg, Sest-Senat, Federaminas e empresas privadas, está em fase de organização o Portal da Transparência da BR-381. Os dirigentes das entidades explicam que o portal será uma página na internet para que o cidadão possa acompanhar detalhes sobre o andamento das discussões sobre a BR-381.
 
 
 
 
 
 
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