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28 de outubro, de 2012 | 00:10

Duas décadas da privatização

Há 21 anos a Usiminas era vendida e há 20 anos era a vez da Acesita

IPATINGA – Nesta semana que se inicia será comemorado o aniversário das duas maiores empresas da região do Vale do Aço, é também o momento em que se completa 20 anos de privatização da antiga Companhia Acesita, hoje Aperam South America, e 21 anos da desestatização da Usiminas.
A Usiminas foi a primeira empresa a ser privatizada, em 24 de outubro de 1991, dentro do Programa Nacional de Desestatização, criado por lei no ano anterior pelo governo do presidente Fernando Collor de Mello. Em uma quinta-feira, marcada por protestos, a companhia ipatinguense foi arrematada na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro por cerca de US$ 1,17 bilhão.
Com sete minutos de leilão a Usiminas já tinha sua venda garantida devido a demanda pela compra que superava a oferta. De acordo com a edição do DIÁRIO DO AÇO, de 25 de outubro de 1991, os dois maiores compradores individuais da Usiminas foram o Fundo de Pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ), que arrematou o equivalente a 14,94% das ações, e a Companhia Vale do Rio do Doce (CVRD), com 14,62%. Mas o controle acionário ficou com um grupo de investidores: Banco Bozzano Simonsen, Nippon Usiminas, o Clube de Investimentos da Usiminas, formado por uma associação de empregados, e quatro empresas distribuidoras de aço.
Empreguismo
Para o economista Daniel Miranda, quando as siderúrgicas do Vale do Aço foram desestatizadas, havia realmente um problema de forte influência política em suas gestões. Os representantes do governo indicavam filhos, conhecidos e “afilhados” para cargos de importância nas companhias. “Havia um empreguismo grande, tudo na base do ‘jeitinho brasileiro’. Então esse lado negativo das estatais precisava ser corrigido, eram empregados mais pessoas do que o necessário” analisa.
Ainda segundo Daniel Miranda, a folha de pagamento representava 22% do faturamento das empresas e por isso os salários pesavam no orçamento. Segundo ele, depois da privatização houve uma forte redução e hoje os salários representam cerca de 6%, de acordo com o economista. “Então essa é uma parte positiva das privatizações que houve a partir dos anos 90. Este vício político foi corrigido, quando as empresas privadas com interesse de gerenciar e melhorar o desempenho das empresas passaram a demitir e contratar outras pessoas mais especializadas para aumentar a eficiência” argumenta.
Vantagens
Sobre os ganhos no período de desestatização, Daniel Miranda aponta a eficiência econômica do setor siderúrgico, com o aumento da produtividade resultado do enxugamento dos custos; e melhoria na competitividade dos preços no mercado. No entanto logo depois das vendas das ações, as empresas não conseguiam aumentar a produção e por isso precisam demitir um número maior do que o previsto para a redução inicial.
Por isso houve uma redução drástica de mão de obra, acarretando ainda em redução de salários, precariedade das condições de trabalho e queda da qualidade social. “Esse é o aspecto negativo das privatizações, do lado capital foi muito bom, mas para os trabalhadores não foi. Piorou as condições de trabalho e aumentou o número de acidentes” define Miranda.
Pesquisas
Outro ponto positivo citado pelo o economista foi a melhoria de investimentos para os Centros de Pesquisas de Desenvolvimento. Nestes setores houve uma pequena redução no número de profissionais, mas aprimorou a linha de pesquisas porque as administrações procuravam atender bem o mercado e por isso precisavam se especializar naquilo que o mercado podia absorver.
 
Alex Ferreira


ESCRITÓRIO CENTRAL - ARCELORMITTAL

 Vale do Aço sente os efeitos da privatização
O enxugamento da máquina acarretou em cerca de 6 mil demissões na antiga Acesita
 Nas duas décadas do pós-privatização, as duas siderúrgicas mineiras, Usiminas e a antiga Aços Especiais Itabira S/A (antiga Acesita e hoje Aperam) sofreram com as reduções, transformações estratégicas, trocas de comando de capital. Hoje elas enfrentam um mercado global extremamente competitivo.
A Acesita nasceu privada, fundada em 31 de outubro de 1944 pelos engenheiros Amyntas Jacques de Moraes, Percival Farqhuar e Athos Lemos Rache. Em 1951, transferiu o seu controle para o Banco do Brasil, tornando-se então uma estatal. Mas em 22 de outubro de 1992, no governo do então presidente Fernando Collor de Melo (PRN), a empresa foi a leilão na Bolsa de Valores no Rio de Janeiro. A edição do DIÁRIO DO AÇO da época relata que a venda da antiga Acesita ocorreu sob fortes protestos do lado de fora da bolsa, e também no interior do recinto com uma briga corporal entre parlamentares contrários a operação e um conselheiro da bolsa.
O leilão só foi concluído no dia seguinte devido às confusões e impasses com a falta de compradores para todos os lotes de mil ações. A Acesita foi adquirida por 31 investidores; os 10 maiores acionistas entre eles a Previ (Caixa Previdência funcionários Banco do Brasil), o Clube de Investimento Empregados Acesita (CIGA), Fundo Telebrás de Segurança Social (Sistel); ficaram com uma participação de 48,64% do capital votante, como maior acionista individual, e conduziu as negociações que resultaram em um acordo de acionistas, delimitando o grupo controlador.
O primeiro presidente pós-privatização foi Wilson Nélio Brumer, um executivo oriundo da presidência da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e que também se tornou presidente da Usiminas em abril de 2010. Brumer realizou profundas modificações em termos estratégicos, estruturais e operacionais na época.
Reprodução


Acesita histórica

Resistência
O grande temor por parte dos empregados da empresa era a demissão em massa. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Timóteo e Coronel Fabriciano (Metasita) da época, José Gonçalves Ribeiro, 57 anos, relata que o governo federal fazia uma forte campanha alegando que a Acesita era um grande elefante branco e por isso era preciso enxugá-la. “Já havia ocorrido à venda da Usiminas e de outras empresas do país e com isso houve uma forte pressão para privatizar a Acesita” relembra.
O sindicato se posicionou contrário à privatização, tentou diversas mediações com representantes do governo federal, lideranças sindicais de outras regiões industriais e organizou diversas manifestações. Orientar os trabalhadores sobre os riscos dos efeitos da mudança administrativa foi outra tentativa do Metasita para resistir à privatização.
Mas segundo o metalúrgico, aos poucos a massa trabalhadora foi cedendo à privatização, atraída pelas promessas de benefícios oferecidas pelo governo. “A intensificação da campanha em favor da privatização, prometendo ações aos trabalhadores dizendo que o trabalhador passaria a ser dono da empresa, acabou mudando a cabeça das pessoas” rela José Gonçalves.
Demissões
Para Gonçalves o problema administrativo da companhia não era motivo para a venda, muito menos o argumento de que a redução de empregos era necessária para fazer a empresa voltar a lucrar. “Tinha um problema de administração. A gente sabe que tinha, mas o problema não era só isso, mas sim o fato de o governo querer ficar livre da responsabilidade da empresa” lamenta.
Conforme José Gonçalves, a Acesita tinha 8.600 empregados naquele ano e em janeiro do ano seguinte, cerca de 2.200 trabalhadores foram demitidos de uma só vez. “A empresa sobreviveu por vários anos com esse número de empregos, se fosse tão ruim, tão inchado, ela tinha quebrado e na verdade não quebrou. Os acionistas é que queriam um lucro maior, mais exorbitante”, acusa o sindicalista.Posteriormente houve várias etapas de demissões atingindo grupos de 400 a 500 pessoas e hoje a atual Aperam possui 2.450 funcionários.
No pós-privatização a empresa chegou a ser vendida para o grupo francês, Usinor, que foi incorporado pelos belgas da Arcelor, grupo cujo controle foi assumido pelos indianos da ArcellorMittal, que há dois anos separou as unidades de produção de aços especiais (entre eles o inoxidável) em unidades que passaram a ser chamar Aperam.
Impactos
As ações recebidas se diluíram com o tempo e as demissões trouxeram transtornos sociais em toda a região, provocando depressão e prejuízo, conforme Gonçalves. A depressão foi outro impacto sofrido nos anos posteriores e o governo federal não teria cumprido o que prometera. “O governo dizia que a venda das ações seria para investir no social, o que não ocorreu, o dinheiro da privatização a gente não sabe para onde foi e tudo isso provocou o achatamento nos salários” lamenta.
Reprodução


história Usiminas

“Havia maior respeito”
No ano da privatização, Darci Silva Barbosa, 58 anos, era mecânico de manutenção e lá trabalhou por 33 anos, hoje ele pertence à diretoria do Metasita. Ele conta que houve uma piora nas condições de trabalho, resultando em vários acidentes fatais nos anos posteriores. Muitos demitidos não conseguiram empregos rapidamente e por isso perderam patrimônios ou se entregaram ao alcoolismo e a depressão.
“Naquela época o nosso uniforme era azul e havia um respeito do trabalhador junto à sociedade. Se nós entrássemos em uma loja com o uniforme o comerciante não tinha dificuldade de nos vender. Automaticamente a empresa trocou o uniforme para que os trabalhadores não continuassem a usá-lo” conta. Sobre os “cabides de emprego” ele acredita que isso só existia nos altos escalões da empresa, com indicações políticas, mas nos setores da produção isso não era realidade.
 
 LEIA MAIS:

Competitividade na ordem do dia - 28/10/2012
50 anos da Usiminas - 26/10/2012
 
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Comentários

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Oscar

04 de abril, 2020 | 16:37

“Fui funcionário da ACESITA por dez anos e me lembro com saudades daquele tempo! Não era cabide de empregos!Bem administrada e eficaz e eficiente !”

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