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19 de junho, de 2012 | 00:05

Associação preserva cultura japonesa em Ipatinga

Instalação de imigrantes japoneses na região é parte da história local

Wesley Rodrigues


ANBI Associação Nipo Brasileira de Ipatinga

IPATINGA – Nessa segunda-feira (18), foi comemorado o Dia da Imigração Japonesa no Brasil, país com a maior colônia nipônica fora da ilha asiática. São 104 anos de história, desde que o navio Kasato Maru trouxe ao Brasil a primeira leva de imigrantes japoneses, em 1908, após negociações entre o Japão e o Brasil. Os nikkeis, japoneses que vivem regularmente no exterior ou descendentes nascidos no exterior, são parte da história de Ipatinga e do Vale do Aço.
Fundada há 45 anos, a Associação Nipo-Brasileira de Ipatinga (ANBI), visa manter viva a cultura da comunidade descendente do país asiático na região. Localizado no bairro Cariru, com cerca de 60 associados, o clube, dentre muitas atividades, desenvolve práticas como o Aikidô, Judô e aula de japonês.
Morador de Timóteo, o gerente industrial Yoshiro Togura, 56 anos, é o atual presidente da ANBI. Descendente direto de japoneses, ele nasceu em São Paulo e veio para Ipatinga, há 23 anos, por oportunidades de trabalho. “Foi depois de um ano que me instalei aqui que conheci o trabalho da associação. Timóteo tinha poucos japoneses e, até então, me sentia bem isolado. Depois que me convidaram para a associação, me permitiu mais espaço”, recorda o presidente.
Togura descreve que entre as tradições mantidas pelo clube está a Bonenkai, ou a “festa para esquecer o ano” – confraternização para refletir sobre os acontecimentos do ano que se finda, enquanto se come boa comida, e com muita diversão. Há, também, o Undokai, gincana poliesportiva popular entre a comunidade japonesa, que ocorre geralmente no fim de julho. A noite do yakisoba é outra festividade promovida pela associação. “Buscamos manter viva a tradição, para que ela não acabe. Vivemos no Brasil e, com o choque de culturas, é inevitável que se percam muitas tradições”, enfatiza o atual presidente da ANBI.
Além das atividades realizadas dentro da associação, há também uma equipe de softbol – desporto parecido com o beisebol, praticado em campo aberto. “Praticamos todos os domingos pela manhã, no horário das 9h às 11h, no campo do Bela Vista”, conta Togura.
Há ainda, na região, cerca de 40 famílias de origem japonesa que não fazem parte do clube, conforme o presidente da ANBI. Ele ressalta que o clube está aberto a toda a comunidade, inclusive a quem não tenha nenhum laço com a cultura nipônica. O grupo se reúne uma vez por mês na rua Colômbia, n° 44, no bairro Cariru. Demais informações podem ser consultadas por meio do telefone (31) 3825-3144 e (31) 9966-5606.
Wesley Rodrigues


Funimori ANBI Associação Nipo Brasileira de Ipatinga

“Construí minha família aqui”
Fuminori Kanegane tem 71 anos. Nascido no Japão, ele veio para o Brasil em 1959. Ex-presidente da Associação Nipo-Brasileira de Ipatinga (ANBI), ele, atualmente, trabalha como intérprete em uma empresa prestadora de serviço da Usiminas. Kanegane, como é mais conhecido, é referência na sociedade sênior de japoneses que vivem no Vale do Aço.
Kanegane tinha 18 anos quando chegou ao interior do Paraná. “À época, a economia japonesa estava ruim, e não havia empregos. E o Brasil incentivava a vinda de imigrantes. Assim, minha família decidiu deixar o país. Primeiramente, fomos trabalhar nos cafezais. Um ano depois, nos mudamos para Mogi das Cruzes, em São Paulo, continuando o trabalho em lavouras”, recorda.
Passados cerca de um ano e meio após sua mudança para São Paulo, Kanegane conta ter ouvido notícias sobre o recrutamento na Usiminas. Com as oportunidades de emprego na instalação da siderurgia, em seu terceiro ano no Brasil, ele veio, enfim, para Ipatinga. “A família permaneceu por lá. Estou há meio século na cidade. Meus pais já faleceram. Um irmão mora em São Paulo e minha irmã terminou o curso superior, tendo a oportunidade de fazer estágio no Japão. Ela ficou por lá e se casou com um japonês”, narra Kanegane.
Segundo o intérprete, a vida trabalhando na roça era muito simples. Sem contato com outras pessoas, sua maior dificuldade foi aprender o português. E, somente no Vale do Aço, teve contato com outras pessoas e desenvolveu o aprendizado da língua. “A comunidade japonesa aqui, à época, era forte”, relembra.
“Construí minha família aqui”, recorda Kanegane com satisfação. Ele já retornou várias vezes ao Japão, em viagens pela empresa, mas afirma gostar de morar aqui. Em Ipatinga, Kanegane se casou e teve três filhas. Mas cada uma terminou o ensino básico e foi alçar voo em outros horizontes. “Elas terminaram o colégio e saíram para completar os estudos. Na Universidade de São Paulo, elas se formaram em Fisioterapia, Farmácia e Odontologia. E ficaram por lá. Eu e minha esposa ficamos no Cariru”, explica.
Kanegane já esteve à frente da ANBI e lamenta a redução do número de famílias japonesas na região. “Mas buscamos manter viva a cultura de nossa origem. A fundação da associação foi muito importante para a gente. Para confraternizar, possibilitar ajuda mútua entre os japoneses e descendentes. Reuniu o que eram até então desconhecidos”, finaliza Fuminori Kanegane.
 
Wesley Rodrigues


Sala de aula ANBI Associação Nipo Brasileira de Ipatinga

Orgulho de ser a japonesa  mais velha do município
Nascida no Japão, Tsuya Tahara completará 88 anos em 2012
Dona de uma grande simpatia, Tsuya Tahara é uma pioneira da cultura japonesa no Vale do Aço. E como outros pioneiros do desenvolvimento de Ipatinga, Tsuya é parte da história do município. Com 87 anos, a anfitriã lembra avidamente de tudo o que viveu ao longo dos anos. Com humildade, ela afirma o orgulho de ser a japonesa mais antiga de Ipatinga. “Sobrou eu. Sou macaca velha nisso aqui”, brinca com o português ainda arrastado.
Tsuya mantém muitos dos costumes orientais na casa onde mora há 51 anos, no bairro Cariru. Hospitaleira, ela recebe a reportagem já com uma bandeja de biscoitos caseiros com aveia. “A comida em casa é 80% japonesa. Todo sábado é dia de sashimi, inclusive”, afirma a anfitriã, convidativa. Os jornais com os ideogramas nipônicos na mesa de centro da sala delatam que ela acompanha o que acontece em seu país de origem. “Eu recebo um jornal japonês de São Paulo todos os dias. E assisto o canal de lá pela TV também. Acompanho tudo”, detalha.
A estante de sua sala de estar é repleta de troféus e livros japoneses. Tahara é uma estrela no karaokê. Musicista, ela canta histórias na língua japonesa dedilhando o shamisen - tradicional instrumento musical oriental com três cordas. “Os troféus consegui em São Paulo, a maioria. Mas tem do Brasil inteiro. Tem muito primeiro lugar de karaokê. São prêmios por eu cantar músicas folclóricas, cantos antigos japoneses que narram histórias. Contos de famílias, de sentimentos, de amor”, explica.
Wesley Rodrigues


Tsuya ANBI Associação Nipo Brasileira de Ipatinga

Bagagem
Tahara veio para o Brasil em 23 de fevereiro de 1932 - as datas não lhe falham a memória. Nascida no Japão, com sete anos ela deixou o país com a família. Ela recorda que inicialmente morou em Mogi das Cruzes, São Paulo. Foi só em três de julho de 1960 que ela se mudou para o munícipio que seria emancipado com o nome de Ipatinga. “Os chefões da Usiminas nos falaram das vagas de emprego aqui. Resisti, por ser longe e sem saber o que encontraria. Chamaram, chamaram e chamaram. Na última chamada, eu decidi: agora eu vou. Quando cheguei ainda não ‘funcionava’ o Cariru. Instalei-me no Horto. Cerca de seis meses depois vim morar aqui e estou na mesma casa até hoje”, resume.
Ela lembra que veio para trabalhar no município que ainda era distrito de Coronel Fabriciano tomando conta das casas dos empresários japoneses da construção da siderurgia, inaugurada em 1962. Já casada e com quatro filhos, o marido veio ser intérprete. Outros dois filhos nasceram em Ipatinga. “Hoje, um está em Vitória, outro em Juiz de Fora, Taubaté, Guaratinguetá, um mora aqui e em Belo Horizonte ao mesmo tempo e uma filha mora comigo e cuida de mim. Meu marido faleceu há 12 anos”.
Retorno
Em 1983, Tsuya Tahara retornou ao seu país natal 51 anos depois de sua chegada ao Brasil. Primos, tios e outros parentes permaneceram por lá quando ela havia se mudado para a região. “Eu tinha fotografias e reencontrei também pessoas que estudaram comigo na escola. À época que sai de lá, japonês não tinha dinheiro nem para comprar uma fotografia, mas pude ter umas poucas e as guardei”, rememora.
Mas ela se acostumou às terras brasileiras, e gosta de Ipatinga. “Aqui é muito quente, mas gosto daqui. O Japão está perigoso – me assustam os terremotos, as tsunamis. Tenho contato com os parentes por telefone e as vezes nos visitamos. E acompanho tudo o que acontece lá”, informa.

 
 
 
Wesley Rodrigues


Tsuya trofeus ANBI Associação Nipo Brasileira de Ipatinga

 
Associação
Atualmente, embora limitada por uma fratura no fêmur, Tahara participa da Associação Nipo-Brasileira de Ipatinga (ANBI). Ela recorda que, inclusive, foi seu marido quem juntou as pessoas para construir a associação. “Ele esteve lá nos primeiros tijolos colocados. Lembro que o clube começou mais ou menos em 1963. Participo sempre, hoje em dia não há mais o karaokê, mas vou para jogar buraco. Nos reunimos todo o mês”, conta.
A anfitriã também foi professora de língua japonesa por quase 14 anos na ANBI. “Fui até em vários congressos brasileiros de professores”, conta animada.
Keika Tahara é a única filha que mora com Tsuya. Nascida no Brasil e de poucas palavras, ela é grata à valorização da cultura japonesa no Vale do Aço. “Há uma valorização da nossa cultura que é importante. É um reconhecimento gratificante. No clube mesmo (ANBI), em muitas festas a grande maioria de quem participa é brasileiro. A comida, saudável, é admirada aqui”, comenta a descendente.
 
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