03 de junho, de 2012 | 00:04

Indisciplina escolar: onde começa o problema?

Profissionais debatem o assunto polêmico e expõem suas impressões

Wôlmer Ezequiel


sala de aula

DA REDAÇÃO - Desde a educação básica até o ensino superior, a indisciplina escolar é motivo de inúmeras discussões entre os profissionais que atuam na área. O mau comportamento de crianças e adolescentes é considerado pelos especialistas como obstáculo no processo de ensino e aprendizagem, prejudicando o exercício da função docente e a assimilação dos conteúdos. A raiz do problema pode estar em diferentes fatores, conforme os especialistas.
Em um universo de 22 mil alunos da rede municipal de Ipatinga, há 228 ocorrências relatando indisciplina somente entre os meses de fevereiro e abril. O secretário municipal de Educação, Maurício Mayrink, ameniza os números sob o argumento que são casos diversificados. “Medidas são tomadas, como reuniões com a família, treinamento para os professores, parcerias com o Conselho Tutelar, Polícia Militar e com o Juizado de Menores. Esses profissionais estão presentes no dia a dia da escola, nos ajudando a amenizar essa situação”, pontua.
Maurício Mayrink é categórico: a indisciplina escolar é responsabilidade de todos. “É importante que as pessoas saibam que o problema indisciplinar não cabe somente à escola resolver, mas a toda a comunidade, principalmente à família. Quanto maior a participação dos pais e da comunidade no processo da educação, menos problemas a escola vai ter”, conclui o secretário.
Comportamento
A conselheira tutelar de Coronel Fabriciano, Célia Cristina Gonçalves Melo, relata que há uma demanda muito grande por casos de indisciplina escolar no município em que atua, assim como em toda a região. Por semana, ela recebe em seu local de trabalho, em média, cinco casos de mau comportamento de alunos. “Neste momento, tenho um ofício com um caso envolvendo sete adolescentes da mesma escola”, enumera.
A conselheira vislumbra uma realidade preocupante. “A indisciplina na educação está começando muito cedo. Nos meus tempos de escola víamos indisciplina a partir da 5ª ou 7ª série, provocadas por adolescentes. E hoje isto ocorre a partir da educação infantil, no primeiro ano da educação básica já recebemos casos de mau comportamento”, lembra.
No município de Timóteo, a Secretaria de Educação informou que não dispõe de um sistema de registro de casos, seguindo orientação da legislação para não expor crianças e adolescentes. Conforme foi explicado, a maioria dos atendimentos é feita no âmbito da unidade escolar. E, além disso, “os casos apresentados estão dentro de um padrão de normalidade, comum em todo o país”, sintetiza a Secretaria.
 
“Escola atual é menos interessante” 
Para o secretário de Educação de Ipatinga, Maurício Mayrink, a realidade fora dos muros escolares é muito mais agradável e atraente para crianças e jovens. E, além disso, o perfil dos pais mudou de maneira considerável. “Muitos trabalham fora e, em alguns casos, em até mais de um emprego. E, por vezes, o aluno fica à mercê dele mesmo, sem uma orientação correta, sem cobranças”, constata.
A escola também tem outra cultura, na opinião do secretário. “Ela está mais aberta e com menos atrativos”, reconhece.
Sobre as dificuldades dos professores em lidar com a indisciplina escolar, Mayrink admite que a situação é muito complicada. “Temos professores menos preparados, com menos coragem para trabalhar questões disciplinares, além da falta de estrutura para esse profissional”, cita.
Interno
Para a conselheira tutelar fabricianense Célia Cristina Gonçalves Melo, a escola deve resolver o problema da indisciplina no âmbito interno. “Somente no caso de agressão, ou ato infracional, o Conselho Tutelar deveria ser acionado. Indisciplina escolar não é problema do órgão mas, na prática, ele abarca essa responsabilidade. Deveríamos atuar em casos como a falta na frequência escolar, a evasão, e alto índice de repetência”, opina.
Cristina argumenta que a escola precisa ter uma equipe multidisciplinar parar tratar a indisciplina. “Porém, isso não tem acontecido na prática.
A escola somente envia os alunos e diz que se esgotaram todos os recursos ou possibilidades da escola na solução do problema”, lamenta.
A conselheira diz que a indisciplina juvenil tem origem domiciliar, na família. Para Célia Cristina, muitos pais não acompanham a educação dos filhos e delegam a responsabilidade à escola e à sociedade. 
“Valores familiares se perderam” 
Na avaliação da diretora da Escola Estadual Almirante Toyoda, em Ipatinga, Alice Martins, a unidade familiar atual está desestruturada. “Os pais precisam trabalhar em dobro para aumentar a renda familiar, não sobra tempo para os filhos. Os meninos saem da aula e vão para onde? Os pais não estão em casa para fiscalizar”, menciona a educadora. Ela acredita que, a partir do momento que o profissional da educação for bem remunerado, os problemas nas escolas irão diminuir.
A professora Nelsina Lopes já trabalhou em escolas problemáticas de sua cidade natal, Teófilo Otoni. Atualmente, leciona História da escola Almirante Toyoda e defende um maior suporte ao professor. “O aluno chega violento para a gente. Como ele irá demonstrar aquilo que ele não aprendeu em casa? Os valores familiares se perderam. A cultura é outra. Muitos pais abdicaram de estar presentes na vida dos filhos”, acredita.
A educadora e bibliotecária da instituição, Arina Carvalho Lima, acredita que a questão vai além e envolve um distanciamento dos pais em relação à educação dos filhos. “Há uma terceirização na educação do filho; muitos pais delegam a educação de seus filhos a outros”, sentencia. 
Legitimidade para o professor 
A mestre em Psicologia do Desenvolvimento e especialista em gestão educacional, Luciana Freitas da Silva Magalhães, que leciona na Universidade Presidente Antônio Carlos (Unipac), defende a diferenciação entre indisciplina dos casos mais preocupantes de violência praticados por alunos. “A criança pode ter um comportamento inadequado, eventualmente. O problema é quando vira algo repetitivo”, afirma.
No que diz respeito aos casos de agressão, ela lembra que existem vários transtornos do desenvolvimento que levam a criança a agir de forma agressiva.
Wesley Rodrigues


Luciana Freitas

Embora existam problemas com o aluno ou com a família, Luciana defende que a instituição escolar dê conta do que ocorre no interior dos estabelecimentos. Na sua opinião, o professor é o agente pacificador da situação. “É ele quem contribui com a indisciplina no momento em que não prepara uma boa aula, quando ele tende a ser agressivo na correção ou fica distante do aluno. Ou, se ele não apresenta as regras claras desde o primeiro dia de aula”, dispara a especialista.
No entendimento da profissional, se o aluno tem uma aula interessante, ele tende a se desenvolver. “E quanto aos recursos disponíveis à escola, temos muitos casos de instituições que, mesmo com poucos recursos, conseguem agir. Com criatividade é possível trabalhar”, defende Luciana Magalhães.
Ela reitera que o professor precisa buscar um poder de legitimidade e, contar com o suporte da direção da escola para garantir isso. “O aluno precisa respeitar o professor, vendo nele uma figura de confiança, de conhecimento. É necessário um professor que tenha coerência com as regras”, finaliza.
 
MAIS:

Caso de agressão a professora vai parar no MP - 15/03/2012
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