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13 de maio, de 2012 | 00:00

Dilemas de uma mãe aos 13 anos

Adolescente relata dificuldade e superação de gestação resultante de um abuso

Silvia Miranda


mae adolescente

FABRICIANO – A adolescência é considerada uma etapa intermediária do desenvolvimento humano, entre a infância e a fase adulta. Um período marcado por muitas dúvidas, transformações corporais e hormonais, mas não é um período indicado para a maternidade. No entanto, na vida da adolescente Mariane Silva*, a entrada na adolescência foi o “pulo” de uma etapa. Aos 13 anos, ela já é mãe de uma menina de pouco mais de um mês. E nesse caso, a maternidade não foi fruto de uma relação amorosa precoce, e nem mesmo por falta de informação.
“Eu tava um pouco enjoada, só comia manga verde, mas não desconfiava porque não sabia muita coisa. Não entendia muito o que acontecia comigo. Tudo foi muito rápido”. Na escola, e na vizinhança, Maria da Silva ouvia comentários e insinuações, mas ninguém tinha coragem de chegar a ela para dar um aconselhamento ou oferecer uma ajuda, reclama a jovem mãe.
 
Um de seus professores, desconfiado das transformações no corpo da garota, alertou-a para a possibilidade da gravidez. Diante da gravidade da situação, a adolescente foi levada ao Conselho Tutelar e, de lá, reencaminhada para exames clínicos, que comprovaram a gestação. “Depois que tudo aconteceu, meu pai foi preso e eu vim morar no abrigo. Continuei estudando, só que em outra escola”, conta.
Aceitação
No início, Mariane conta que a aceitação da gravidez para ela foi um desafio. Triste e recriminada, ela só pensava em interromper o desenvolvimento do feto, admite. “Antes, eu fazia de tudo pra tentar evitar sabe, tipo assim, eu deitava de barriga pra baixo e tentava matar o neném, porque eu não queria mesmo. Por causa da situação que eu estava passando, que era de abuso sexual”, lembra.
O ambiente na escola onde estudava também não ajudava. A menina relata que os colegas a incriminavam muito e usavam sua barriga para fazer piadas, o tempo todo. “Eu só sabia chorar. Fiquei depressiva na escola, minhas notas baixaram muito e eu tomei bomba”, explica.
Mudança
Ter um novo lar, mesmo uma instituição de acolhimento, foi para Mariane Silva um recomeço, esperança, uma etapa importante para ajudá-la na aceitação do bebê.
“Porque aí tudo mudou. Eu acalmei. Antes, ficava muito nervosa e falava coisa que não devia”, lamenta. Com o tempo, o crescimento do bebê, as transformações e os chutes sentidos na barriga levaram, aos poucos, alegria para a jovem mãe. Mas ainda não representava exatamente o sonho maternal, comum a muitas mulheres que hoje comemoram o seu dia.
“Sei lá, sabe, eu ficava feliz de saber que ela estava mexendo, que ela tava bem, mas não era assim aquele encanto, de falar: ah! eu vou ser mãe! Não. Pra mim era normal”, detalha.
 
A mudança da escola trouxe também mais aceitação para a adolescente. Lá, fez novas amizades e descobriu uma nova força dentro de si. “Eu tive a força de Deus, tudo mudou pra mim, eu pensava que nessa escola seria a mesma coisa, só que não. Quando eu cheguei lá, fiz amizades muito boas, as amigas até deram presentes”, alegra.
Parto
A adolescente conta que, chegada a hora de dar à luz, ficou com medo do parto normal e queria que fosse cesárea. “O médico falou que eu tinha passagem pro parto normal e perguntou pra mim, porque diante de toda a minha situação, qual era a minha vontade”, contou Mariane. O parto acabou sendo normal. A criança nasceu rapidamente. Felizmente, sua filha nasceu normal, sem nenhum problema genético após os habituais nove meses de gestação.
Maternidade
Para a adolescente, não é possível explicar o sentimento de ser mãe, o momento da amamentação é descrito por ela como uma espécie de “infinito particular”, entre mãe e filha. “Quando ela tá mamando, eu acho assim, que é um momento só pra mim e pra ela, só eu posso fazer aquilo. Eu fico sentindo que ela depende de mim e eu também dependo dela, somos só nós duas agora, então, eu tenho que cuidar dela”, descreve.
Diferentemente do que ocorreu na sua infância, a jovem mãe pretende doar grande atenção à filha. A intenção é desenvolver laços de amizade e conquistar o respeito e a confiança de sua descendente. “Eu quero dar muita atenção pra ela, porque eu nunca tive, e será assim, dando carinho, ensinando o que é certo, sendo amiga dela. E eu quero que ela cresça, seja minha amiga também, que ela vá pra escola, estude, eu penso muita coisa pra ela”, planeja.
 
“As pessoas não deviam ser tão preconceituosas”
 
Mariane Silva sabe que se tornar mãe aos 13 anos significou uma brusca mudança, para toda a sua vida. A perda da adolescência, no entanto, não é para ela pior que o preconceito da sociedade. A jovem mãe ressalta que as críticas e os julgamentos sobre sua impossibilidade de cuidar de uma criança, são inteiramente preconceituosos. “Eu acho muito mais fácil eu, aos 13 anos, cuidar dela, do que certas mães por aí, que jogam recém-nascidos ao relento, ou fazem muitas coisas ruins com os filhos. A idade não manda nada, não”, defende-se.
A história de Mariane Silva não é a primeira nessa circunstância e certamente não será a última. O que chama atenção é sua força de acreditar na vida, seu brilho e um sorriso de quem parece ter lembranças de sonhos bons. Antes frágil e deprimida pelo sofrimento do abuso seguido da gestação, e hoje com a filha nos braços, a adolescente se sente fortalecida, encorajada a enfrentar outros desafios e a lutar pela felicidade. “Eu superei o meu passado, eu superei olhando pra ela, ela me deixa mais corajosa pra enfrentar a vida”, define, apontando para a recém-nascida.
E quando questionada sobre os planos para o futuro, como qualquer outra mulher ela diz esperar por uma família de verdade, um casamento e outros filhos. “Eu quero, daqui pra frente, continuar estudando, trabalhar, formar pra arquitetura, ter minha casa própria, cuidar da minha filha e não depender de ninguém. Quero casar também, ter outros filhos com outra pessoa. Quero minha vida daqui pra frente melhor, porque minha vida do passado era muito ruim, quero viver o presente, o futuro, é isso que eu quero”, conclui a jovem mãe.
*Mariane Silva é um nome fictício. A identidade da adolescente não pode ser divulgada
 
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