24 de dezembro, de 2011 | 00:00

Um Brasil que precisa ser preservado

“As fronteiras das florestas são enormes e por elas o homem entra, mata e sai”

Fernando Lara


Onça

IPATINGA – O documentarista de natureza, Fernando Lara, 31 anos, já planeja a sequência da expedição Rotas Verdes Brasil, para 2012. Enquanto isso, o ipatinguense conclui o livro digital que será disponibilizado gratuitamente e palestras que serão proferidas nas escolas. O total da expedição soma 21.160 quilômetros, percorridos em 20 estados brasileiros. Em entrevista ao DIÁRIO DO AÇO, apoiador da expedição, Fernando Lara revelou momentos vividos na expedição:
DIÁRIO DO AÇO – Você já esperava que a expedição tivesse a repercussão que teve?
FERNADO LARA – Sempre pensei que esse trabalho teria visibilidade, nas foi uma surpresa aparecermos na mídia nacional por oito vezes e permanecer, por exemplo, sites noticiosos como matéria campeã de acessos por dois dias. A expedição foi notícia nas mídias local e estadual por todos os lugares onde passou, nos jornais e na televisão.
DA – Qual a aprendizado que ficou?
FERNANDO LARA – É tanta coisa que não seria possível abreviar isso. Foi uma experiência profissional que me transformou em um ser humano melhor. Conversar com centenas de pessoas por esse país afora me ensinou a ser capaz de compreender e superar as dificuldades.
DA – O que planejou para o começo de 2012?
FERNANDO LARA – Pretendo agendar palestras em todas as 27 escolas municipais em Ipatinga, para relatar sobre a expedição, levar as fotos, as imagens em busca da conscientização sobre a existência de um Brasil muito rico e que precisa ser preservado. Já temos um material segmentado, para crianças, adolescentes, jovens e adultos. Para adultos podemos mostrar cenas fortes, como a cabeça de uma onça pintada, cortada por caçadores, ou um macaco pronto para ir para à panela.
DA – E sobre o resultado do trabalho, o livro digital?
FERNANDO LARA - Está praticamente todo escrito e o material fotográfico já está selecionado. Vamos disponibilizar o livro online e uma versão em PDF para download. Será editado em português, espanhol, japonês e inglês, conforme combinado. Será inteiramente gratuito para a sociedade. A expectativa é que em abril esteja concluído para a entrega.
Por Edlayne de Paula


Parque Nacional Aparados da Serra RS

DA – Quais as maiores dificuldades enfrentadas?
FERNANDO LARA – As dimensões continentais do Brasil te levam a enfrentar uma natureza com situações extremas, com impactos diretos sobre a saúde humana. Pilotar uma motocicleta debaixo de uma temperatura de 4 graus negativos é muito difícil. Enfrentar estradas como a BR-319 (Porto Velho/Manaus) sob calor e umidade é outro extremo. O sentimento de responsabilidade é grande porque você vai para uma expedição dessas levando nomes dos patrocinadores. Durante o dia ou estava na estrada ou na documentação fotográfica. Depois, à noite, havia o trabalho de transferência de dados, fotos, vídeos, entrevistas, a fim de abastecer releases para a imprensa, por exemplo. Para isso, contava com o trabalho da jornalista Edlayne de Paula, que ficou aqui no Vale do Aço e fez um trabalho brilhante.
DA – E os riscos à integridade física?
FERNANDO LARA – Não trouxe nenhum episódio de ameaça pessoal. Costumo dizer que o Brasil não é para principiantes. Estudei todos os roteiros previamente e sabia onde iria parar, o que encontraria pela frente. O gerenciamento tem que funcionar bem e eliminar riscos.
DA – Você saiu do Vale do Aço com um propósito: documentar a preservação nas unidades de conservação. Qual sua avaliação pessoal sobre esse tema?
FERNANDO LARA – É preocupante. O ser humano gera uma pressão absurdamente violenta dentro das florestas. Matam os animais de todas as formas. O homem contemporâneo tem se mostrado um verdadeiro monstro diante dos animais. Ele entra nos últimos refúgios da fauna para caçar e matar os animais. Para se ter uma ideia, uma paca no Espírito Santo custa R$ 120 depois de abatida. Não tem nada que segura o homem. Não acredito em fiscalização. As fronteiras das florestas são enormes e por elas o homem entra, mata e sai. Acredito mais na conscientização ambiental. As crianças e jovens de agora precisam ser educados e preparados para uma mudança cultural, colocando fim ao hábito da caça predatória. Encontrei relatos, na Amazônia, de que em 15 dias um grupo de caçadores retirou 500 cabeças de veado. Mataram para a comercialização. A carne do animal silvestre é muito cara e não é o pobre que a come.
DA – Neste contexto, qual o efeito esperado com o seu trabalho?
FERNANDO LARA – A intenção é muito mais a de informar sopre o que existe no nosso país, de trabalhar a conscientização, para que as pessoas identifiquem como essas riquezas e, indiretamente, formar a consciência pela preservação.
DA – Percorridos mais de 18 mil quilômetros, em que estado ficou a Honda Bros 150 que a Mavimoto cedeu para a expedição?
FERNANDO LARA – A máquina sofreu um castigo. Foi testada nos limites. A assistência técnica funcionou bem ao longo do percurso. A Mavimoto disponibilizou um mecânico em Ipatinga, que acompanhava o desenvolvimento técnico da motocicleta e era informado por telefone. Quando havia necessidade, parava em uma autorizada. Levamos nessa moto um gerador de energia, com capacidade para 1.000 watts, dois alforges, duas mochilas e faróis laterais. O peso extra chegava a 100 kg.
DA – E os projetos futuros?
FERNANDO LARA – Para o ano que vem, vamos disparar uma sequencia dessa expedição no dia 15 de setembro. Voltaremos a campo para a ampliação do trabalho. O já podemos divulgar é que, nessa etapa, vamos visitar 50 unidades de conservação ambiental. Para isso, faremos ajustes na logística. Acabamos de passar por 20 estados e ainda faltam seis unidades, que serão concluídos em 2012. Voltaremos aos estados já visitados, para visitar novas unidades.

O QUE JÁ FOI PUBBLICADO:
Rotas Verdes chega ao fim da estrada - 17/12/2011
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