15 de abril, de 2011 | 01:30

Ipabense deportado dos EUA

Sem provas de envolvimento no caso Szczepanik, Elias Lourenço retorna ao Vale do Aço

Alex Ferreira


IPABENSE DEPORTADO 1

IPABA – Com um olhar visivelmente cansado, só quebrado quando um ou outro filho se aproxima e um sorriso aparece no rosto, Elias Lourenço Batista (30 anos), ainda mata a saudade da família, depois de retornar dos Estados Unidos.
Elias era um dos três ipabenses presos em Omaha, estado de Nebraska, sob suspeita de envolvimento no desaparecimento da família Szczepanik.
Sem provas que o relacionasse diretamente com o caso, a Justiça dos EUA liberou Elias, que foi deportado por estar sem a documentação legal em solo estadunidense. Elias desembarcou em São Paulo na terça-feira (11) e, no dia seguinte, chegou a Ipaba.
Nesta quinta-feira, Elias recebeu o DIÁRIO DO AÇO na casa da família. Ele parou o conserto de uma bicicleta, sentou-se em uma cadeira na calçada e relatou o drama que viveu. Lembrou que sua família chegou a acreditar que ele nunca mais voltaria para o Brasil, mas falhou na perspectiva de conseguir uma vida melhor no exterior.
Ele retornou antes do esperado. Ontem, cercado pela mulher, Luzia Maria da Silva, e dos três filhos, ele afirmou que sempre esperou contar com a força da família. Irmãos, sobrinhos, tios e amigos acompanharam a entrevista.
A irmã de Elias, Helena Lourenço Batista, foi uma das pessoas que, em julho de 2010, iniciou a luta para acompanhar o caso do irmão.
Ontem, não escondia a satisfação de ter Elias de volta. Helena conta que a expectativa de uma vida melhor a levou a incentivar Elias a ir para o exterior.
“E me pesava a culpa depois que tudo deu errado, pois não parava de pensar que, se não fosse meu incentivo, ele poderia ter ficado livre desse sofrimento todo”, relatou.
Pesadelo
Elias disse que não aconselha ninguém a ir para fora do país por vias clandestinas. Razões para pensar assim Elias diz ter de sobra. Depois de pagar US$ 15 mil para os coiotes, os agenciadores da viagem ilegal, em vez de desembarcar no México, Elias e outro amigo de Ipaba foram deixados na Guatemala.
Na prática, foram sequestrados pela milícia dos coiotes. Para se livrar dessa armadilha, a família teve que pagar mais US$ R$ 5 mil. A máfia, relata Elias, é formada por mexicanos, guatemaltecos, brasileiros e até por moradores dos EUA.
“Eles são armados, violentos, desumanos e não hesitam em matar. Para piorar, têm a polícia como aliada. Quem foge é preso nas ruas e levado de volta para as casas de sequestro. Eu cheguei a acreditar que seria morto, principalmente depois que vi um salvadorenho ser retalhado por não ter dinheiro para o resgate. Não sei se ele morreu, porque depois sumiram com ele”, relata.
 
Entre a chegada à Guatemala, a passagem pelo México, nova casa de sequestro em Reynosa e a entrada aos EUA, Elias conta que ficou três meses na estrada.
Depois do desembarque na Guatemala, a maior parte da viagem ou foi a pé ou de caminhão. Em Reynosa, última cidade mexicana antes da entrada nos EUA, os coiotes queriam mais US$ 1.500 para levar o ipabense a Omaha, onde encontraria os conterrâneos José Carlos e Valdeir.
“Como não tinha mais onde arrumar dinheiro, só quiseram levar um brasileiro por vez. O meu colega, aqui de Ipaba, seguiu depois de mim. Foi apanhado e deportado. Consegui chegar em meados de 2009 a Omaha”, detalhou.
Alex Ferreira


IPABENSE DEPORTADO 2

 
 
Convívio com a família do catarinense Szczepanik
 Assim que desembargou em Omaha, Elias conta que logo começou a trabalhar com os amigos ipabenses, Valdeir Gonçalves e José Carlos Oliveira Coutinho, prestadores de serviços para o brasileiro Vanderlei Szczepanik, natural de Santa Catarina.
Elias trabalhou em torno de sete meses, e não oito conforme consta do processo judicial nos EUA. Recebia de US$ 1.200 a US$ 2 mil por mês, e o primeiro compromisso foi pagar a dívida com os coiotes.
Elias diz que não tem ideia do que ocorreu à família Szczepanik, mas acredita que Valdeir e José Carlos são acusados injustamente. Na cadeia onde estava, sem contato com os dois conterrâneos, Elias conta que o maior pesadelo era ficar na solitária. Não há agressões por parte dos policiais, mas a comida é escassa. “Passar fome e ser colocado na solitária deixa qualquer um doido”, afirma.
O ipabense também conta que ficou às cegas. A polícia nunca informava do que se passava. Elias disse que ficou vários dias preso até compreender que era apontado como suspeito do desaparecimento da família Szczepanik. Na elaboração de sua defesa, Elias disse que precisou aprender espanhol, pois não fala inglês e o advogado que o estado indicou só falava o espanhol.
Na noite em que foram presos, os três amigos estavam juntos na casa em que moravam na Park Avenue, Omaha. “Fomos separados na cadeia e não tivemos mais contato”, relatou.

Elias disse não se lembrar do dia em que foram filmados pelo sistema de segurança de uma loja, fazendo compras com os cartões de crédito da família Szczepanik.
“Só sei que nós tínhamos nossos cartões. Abrimos contas bancárias quando chegamos aos EUA e o endereço era da casa de Vanderlei. Não me lembro desse dia”, resumiu.

Elias também confirma que José Carlos, há quase cinco anos nos EUA, era uma pessoa de confiança do patrão, Vanderlei. “Toda vez que ele saída, avisava à equipe que deixava os trabalhos sob responsabilidade de José Carlos. Eles se davam bem”, afirma.
Elias também explica que, a partir de 17 de dezembro, não viu mais Vanderlei, a mulher Jaqueline e o filho deles. Um dia antes, os três ipabenses estiveram com a família, em um dos canteiros de obra. Eles moravam em uma casa em outro bairro.
“Também não morávamos com eles, conforme a imprensa dos EUA divulgou. Apenas o endereço das nossas contas era o mesmo de Vanderlei”, esclarece.
Pena
O ipabense Elias Lourenço disse não acreditar que Valdeir seja condenado à pena de morte. “Primeiro, porque acredito que ele seria incapaz de matar a família. Depois, não há corpos, não há provas claras do envolvimento deles. Como podem falar em pena máxima? O que soube, ao chegar ao Brasil, é que a polícia conta com os depoimentos das mulheres de Valdir e José Carlos. Elas alegam ter ouvido deles, por telefone, assumirem os assassinatos. Será que elas têm interesse em que eles permaneçam presos?”, questiona.

Elias relata que tanto Valdeir quanto José Carlos respeitavam Vanderlei como patrão. Eles trabalhavam na reforma e pintura de casas em Omaha, depois que acabou o dinheiro para a reforma da antiga escola que seria transformada em centro missionário de uma ramificação da igreja brasileira Assembleia de Deus. “Eu sempre ia à igreja com Vanderlei. Era um bom patrão. Pagava em dia e não havia nenhum motivo para brigar com ele”, assinala. 
Esperança de nova vida 
Em outra realidade, agora de volta à família, Elias Lourenço é mais um que passa a acompanhar o drama dos amigos presos em Omaha. Contra José Carlos Coutinho pesa a acusação, da polícia dos EUA, de ter roubado os cartões de crédito da família Szczepanik.
Contra Valdeir, pesa a acusação de matar e esquartejar Vanderlei Szczepanik. Em Ipaba, o amigo, Elias Lourenço, que não acredita nos crimes, disse que já está à procura de emprego, como pintor ou vigia. “Vou orar todos os dias para que saiam livres dessas acusações. As coisas são muito difíceis lá na cadeia”, concluiu. 
 
Alex Ferreira


IPABENSE DEPORTADO 4

Famílias atormentadas com prisão de filhos nos EUA 
Para a mãe de Valdeir, Maria Aparecida Gonçalves dos Santos, de 50 anos, a chegada do vizinho reacendeu a esperança de ter de volta o filho em Ipaba. A mãe não consegue entender como o filho pode ser o principal acusado do desaparecimento da família Szczepanik.
Para a mãe, foi “um baque” ver Elias chegar sozinho na rua onde as famílias dos três moram em Ipaba. Maria Aparecida disse ter esperança que os outros dois voltem, entre eles o seu filho.
A mãe reafirma que os três amigos não eram bandidos. “Pelo contrário, eram trabalhadores que deixaram sua terra para tentar uma condição de vida melhor para as suas famílias”, disse.
 
Antes de embarcar para os Estados Unidos, Valdeir trabalhava como vaqueiro em uma fazenda no povoado de Santo Antônio da Mata, Marliéria.
“Ele construía a vida dele. Fez uma casinha simples para morar, mas decidiu ir para o exterior por entender que conseguiria mais rapidamente as coisas para os filhos”, lembra a mãe.
 
Ao lado, a avó Eugênia Gonçalves do Carmo, de 73 anos, disse que o neto viajou sem contar para ela. Eugênia não concordava com a viagem, pois entendia que era perigosa.
 
A mulher de Valdeir deixou os quatro filhos com a avó dela, no alto do bairro Nossa Senhora das Graças. No local, a reportagem do DIÁRIO DO AÇO encontrou o filho de Valdeir, um menino de 6 anos, que disse sentir saudades do pai, que ele não vê há dois anos.
A filha de 7 anos estava na escola na manhã desta quinta-feira. A bisavó das crianças, Getúlia Vargas, de 81 anos, toma conta de outros dois filhos da neta.
Desconfiada, Getúlia disse não saber do paradeiro de Vanderlúcia Oliveira Paiva, de 32 anos, e acrescentou que enfrenta dificuldades para cuidar dos bisnetos. “Não sei por que eles querem levá-la para testemunhar contra o marido. Ela não sabe de nada”, insistiu.
 
Alex Ferreira


IPABENSE DEPORTADO 3

Rotina alterada para parentes de José Carlos
 
Cleonice Oliveira Martins, de 33 anos, é irmã de José Carlos Oliveira. Há mais de três anos sem notícia do irmão, ela disse que a prisão nos Estados Unidos mudou a rotina dos familiares. Os parentes se reúnem todo dia em busca de informações, cada vez mais escassas. “Não acredito que meu irmão tenha participado desse crime”, frisou.
Com dificuldades para acompanhar o caso, a pouca informação que a família consegue é o que sai na imprensa. Cleonice também contesta a informação da mulher de José Carlos, Patrícia Barbosa dos Santos Oliveira, que deixou Ipaba por temer por sua segurança.
Cleonice afirma que nunca houve ameaças a Patrícia. “Tínhamos pouco contato com ela, embora fôssemos vizinhas. Dizer que a ameaçávamos é um absurdo”, reclama.
A mãe de José Carlos, Expedita Amaral Oliveira Coutinho, de 55 anos, mora em Belo Horizonte, mas estava ontem em Ipaba. Há mais de dois anos sem falar com o filho, Expedita afirma que José Carlos seria incapaz de matar alguém. “Tenho fé que ele será liberado”, disse, entre lágrimas.
Andréia Oliveira Coutinho Batista, de 34 anos, mantém esperanças de ver o irmão em breve em Ipaba. “Não acredito nem na acusação de roubo dos cartões de crédito. Meu irmão é trabalhador honesto. Nunca teve esse defeito de pegar as coisas dos outros”, enfatizou.

No começo do mês de abril, Patrícia confirmou que decidiu se mudar de Ipaba após a publicação, nos jornais dos EUA, que ela e Wanderlúcia, mulher de Valdeir, seriam levadas para contarem o que sabem do desaparecimento da família Szczepanik. Patrícia confirma que já foi procurada pela polícia dos EUA, e providenciava os documentos para a viagem, que não tem data marcada.
 JÁ PUBLICADO:

Mulheres de ipabenses serão levadas aos EUA para depor - 06/04/2011
Promotor quer pena de morte para Ipabense - 13/02/2011
 
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