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16 de março, de 2011 | 00:15

Arte e arquitetura

Moradores temem pela desocupação de prédio considerado obra de arte de Eólo Maia em Timóteo

Wôlmer Ezequiel


PRÉDIO CEFET PÁTIO

TIMÓTEO - Os moradores do bairro Vale Verde temem pelo futuro do antigo prédio da avenida Amazonas, onde funciona o Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET).
Desde que a diretoria da instituição anunciou novos investimentos para a transferência de suas instalações para o prédio da primeira escola de Metarlugia, no centro-norte de Timóteo, a população está preocupada com a perda que o bairro vai sofrer com a mudança e, principalmente, pela preservação do patrimônio. 
O prédio foi projetado em 1983/1984 pelo famoso arquiteto Eólo Maia e construído entre 1984 a 1985 a pedido da administração municipal da época para funcionar como grupo escolar.
Segundo relatos de moradores, o grupo escolar Percival Farquahar funcionou no Vale Verde por alguns anos e depois foi transferido para o Centro da cidade.
Com a desocupação, o imóvel chegou a ficar em situação de abandono, sofrendo depredações e servindo como esconderijo para marginais.
Wôlmer Ezequiel


PRAÇA TIMIRIM

O aposentado Jaime Gomes Gonçalves, 58, mora no bairro desde a sua fundação no início da década de 80. Jaime conta que nesta época houve roubos das instalações elétricas e hidráulicas, o local ainda era usado como ponto para consumo de droga.
“O prédio foi feito para ser uma escola e foi muito bem projetado porque as salas não têm ar condicionado, mas o sistema de ventilação natural permite que o ambiente fique sempre fresco. Ver uma construção destas, ficar como ficou, por dois anos sendo depredada foi muito triste, porque o dinheiro é nosso, o dinheiro público é dinheiro do povo”, protestou.
 
Wôlmer Ezequiel


MARIA DE LOURDES

Da mesma forma Maria de Lourdes Cruz, aposentada, 56, que mora há 27 anos em frente ao prédio está preocupada com o futuro da edificação que se tornou uma referência para o bairro. “Quando ficou fechado tinha gente quebrando tudo, quebrando a parede, o piso, tava abandonado e se não vier outra escola pra cá eu acredito que o prédio vai cair no abandono novamente”, lamenta.
O filho do aposentado João Batista Machado, 58, se formou no curso técnico em Metalurgia e acredita que a mudança da instituição será uma perda para o bairro. “Acho que tem que vir outra escola para cá ou se não vai acontecer outra invasão, parado o prédio não pode ficar”, reivindica.

Wôlmer Ezequiel


PRÉDIO CEFET PÁTIO

Anexo
Em 1999 um novo projeto de Eólo Maia foi realizado para complementar o conjunto arquitetônico da escola Vale Verde para atender as demandas de expansão do Cefet.
A obra com três pavimentos e uma área de 2200m² de estruturas metálicas e tijolos cerâmicos de forma harmônica com o antigo edifício do grupo escolar.
Segundo a assessoria de comunicação da prefeitura municipal de Timóteo como a mudança do Cefet ainda não tem data definida não há uma decisão sobre o destino dos prédios.
O município ainda não possui um conselho de patrimônio histórico e ainda não há nenhum prédio tombado. O departamento de cultura informou que o município possui um projeto para inventariar prédios e construções que fazem parte da história do município para dar início ao processo de preservação do patrimônio público.
 
Wôlmer Ezequiel


JAIME GOMES

Modernista


O prédio foi projetado pelo famoso arquiteto Éolo Maia, um dos precursores da pós-modernidade arquitetônica brasileira.
Nascido em Ouro Preto e formado pela Escola de Arquitetura da Universidade em 1967, Éolo Maia faleceu em 2002 e é considerado um representante da arquitetura mineira.
Conquistou reconhecimento internacional pelo engajamento com as idéias da vanguarda e pela constante coragem de experimentar novas linguagens.
Sua obra iniciou o pós-moderno na arquitetura brasileira a partir de Minas Gerais, para depois se espalhar pelo país.
Em Belo Horizonte alguns projetos de sua autoria se destacam na paisagem da capital mineira, como a Rainha da Sucata, nome popular dado ao antigo Centro de Apoio Turístico Tancredo Neves (1984-92), atual Museu de Mineralogia, na Praça da Liberdade, e o Marmitão, ou Edifício Offcenter, prédio circular no bairro Floresta, construções que mostram o gosto de Éolo Maia pelas cores.
Éolo Maia foi premiado no Brasil e no exterior com trabalhos como a Sede do Instituto dos Arquitetos do Brasil/MG, Igreja Notre Dame de La Source, Memorial de Campo Grande e Sede do Centro de Arte Corpo, entre outros.
Em uma entrevista concedida para o Projeto Design publicada em maio de 2002, Éolo chegou a citar a escola do bairro Vale Verde como uma de suas obras mais significativas. “Gosto muito, ainda, de uma escola para crianças carentes, em Timóteo-MG, de alvenaria estrutural de tijolos, com cobertura em cúpula”.

 
Wôlmer Ezequiel


ESCOLA JOÃO COTA FIGUEIREDO
 
Obras
O projeto do grupo escolar do Vale Verde foi baseado em pesquisas de uma tecnologia alternativa existente há muitos séculos no mundo.
A construção auto-portante em tijolos faz parte de diversas civilizações como do arquiteto egípcio Hassan Fahty que desenvolveu diversas pesquisas nesta área e dos mouros, povo árabe-berbere, que utilizavam da técnica na Península Ibérica.
O arquiteto identificou que esta técnica era bem desenvolvida no município, usada em fornos para a queima de carvão. A proposta foi aproveitar a cultura da região no prédio escolar, com oito salas de aula e amplos espaços para o lazer.
Por estar em uma região de intenso calor Eolo criou chaminés nas salas com objetivo de servir de contraforte das abóbodas, captando os ventos dominantes e criando um clima agradável nas salas.
Um pátio interno e descoberto foi feito para servir de anfiteatro e reuniões da comunidade. O custo da construção na época foi de US$100,00/m2. Ao todo foram 1.300 m2 de área construída.
Assim como o grupo do bairro Vale Verde a Escola Estadual João Cota Figueiredo Barcelos, no distrito de Cachoeira do Vale foram projetos premiados em concursos do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).
Na escola João Cota Eolo não seguiu a características dos tijolos, mas abusou de estruturas metálicas e cores. Embora esteja sem traços de conservação ainda é possível identificar a marca do arquiteto.
Com aspectos de esquecimento a praça do bairro Timirim também carrega a autoria de Éolo Maia construída em 1983.
Na praça não se encontra placa de referência e identificação da obra, mas de longe é possível ver a construção feita em corredores de arcos, erguidos em tijolos auto-portante tão usados por Maia.

 

 
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