11 de março, de 2016 | 23:10
Decisão de sexta-feira pode ser a salvação da Usiminas
Conselho de Admistração aprova por maioria proposta de aumento de capital de R$1 bilhão pelos japoneses, dizem fontes
Reunido nesta sexta-feira, em São Paulo, o Conselho de Administração da Usiminas aprovou, por maioria, proposta de aumento de capital de 1 bilhão de reais. A informação foi publicada no começo da noite por agências que citam fontes "a par do assunto".
Nesta sexta-feira, enquanto ocorria a reunião do conselho, um grupo de pessoas fazia um ato simbólico de vigília, em frente a sede do escritório central da empresa, em Belo Horizonte.
A operação é considerada essencial para evitar que a maior produtora de aços planos do Brasil seja forçada a pedir recuperação judicial diante de sua frágil situação financeira, agravada por desentendimento entre os dois grupos majoritários que controlam a siderúrgica, o ítalo argentino Techint e o japonês Nippon Steel. Semana passada, a possibilidade do aporte foi recebido com boa expectativa pelo mercado.
Na reunião do Conselho, foram discutidas duas propostas de aumento de capital: a vencedora, apresentada pela japonesa Nippon Steel; e outra de 500 milhões de reais sugerida pela ítalo-argentina Techint. Os dois grupos que dividem o controle da companhia.
Três conselheiros da Techint votaram contra a proposta da Nippon Steel, afirmaram duas das fontes, que falaram à Agência Reuters sob condição de anonimato.
Além dos três conselheiros da Nippon Steel, votaram com o grupo japonês pelo aumento de capital de 1 bilhão de reais os representantes dos empregados e do fundo de pensão da siderúrgica. Outros dois conselheiros representantes de acionistas minoritários apoiaram a proposta. O acordo de acionistas da Usiminas prevê que todas as decisões do conselho devem ser tomadas por consenso, o que não ocorreu.
A Techint, contudo, não deverá questionar na Justiça o resultado da votação, mas voltará a apresentar sua proposta quando da realização de assembleia de acionistas da Usiminas para discutir o aumento de capital, disse a terceira fonte. A proposta da Techint envolve, além dos 500 milhões de reais em aumento de capital, repasse de 500 milhões de reais do caixa da Mineração Usiminas à siderúrgica. Uma data para a assembleia de acionistas, porém, não foi acertada na reunião, disse a fonte.
A Nippon Steel, porém, considera o aumento de capital de 1 bilhão de reais como fundamental para que a Usiminas evite um pedido de recuperação judicial no curto prazo, e a aprovação da proposta deverá ajudar a siderúrgica a negociar uma suspensão no vencimento de dívidas junto a bancos credores, segundo relatou mais cedo nesta semana uma fonte com conhecimento do assunto.
Também no decorrer desta semana, a Nippon Steel chegou a encaminhar uma carta ao governo de Minas Gerais pedindo apoio à sua proposta de aumento de capital de 1 bilhão de reais, sob risco de que a empresa seria forçada a fazer um pedido de recuperação judicial.
CSN perdeu recurso
A votação desta sexta-feira foi alvo de um pedido de liminar feito na véspera pela CSN, rival da Usiminas e uma das principais acionistas minoritárias da companhia, mas o pedido contra a realização da operação acabou sendo rejeitado pela Justiça mineira. Uma fonte próxima do assunto afirmou, porém, que é provável que a CSN reapresente a ação para evitar ter sua participação diluída no aumento de capital.
O pedido da CSN se baseia no fato de que um aumento de capital diluiria a base de acionistas da siderúrgica mineira. A companhia de Volta Redonda (RJ) é a maior acionista da Usiminas fora do bloco de controle, com cerca de 14% do capital votante e de 20% das ações preferenciais.
A justificativa da CSN é que a liberação de R$ 900 milhões do caixa da subsidiária de mineração da Usiminas seria suficiente para aliviar o estresse financeiro da siderúrgica mineira.
Decisão da juíza Patrícia Santos Firmo, da 1ª Vara Empresarial de Belo Horizonte, afirma que, naquele momento, a reunião ainda não havia acontecido e, por isso, não se podia dizer que o Conselho iria, ou não, decidir pela utilização do caixa da Mineração Usiminas.
Silêncio
A Nippon Steel não quis falar sobre o resultado da reunião do Conselho que discutiu o aumento de capital da Usiminas, enquanto a Techint não se manifestou.
A Usiminas informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a empresa vai se manifestar por meio da divulgação da ata da reunião do Conselho a ser encaminhada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Fragilidade
A Usiminas não tem resultado trimestral positivo desde o segundo trimestre de 2014, acumulando desde então prejuízo de cerca de 4 bilhões de reais.
A companhia tem vencimentos de 1,9 bilhão de reais este ano e caixa de cerca de 2 bilhões de reais. A empresa encerrou 2015 com geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) negativa em 2,3 bilhões de reais.
Diante da situação financeira delicada e a forte queda na demanda por aço no Brasil, a Usiminas demitiu no fim de janeiro cerca de dois mil funcionários diretos de sua usina em Cubatão (SP), que deixou de produzir aço bruto.
Nesta semana, a empresa deu licença remunerada para cerca de 1.300 funcionários das áreas de laminação e apoio à produção, de um total de cerca de 2.500, até 20 de março.
As ações da Usiminas apresentaram forte volatilidade nesta semana e encerraram nesta sexta-feira em queda de cerca de 4,3 por cento, após dispararem 10 por cento na véspera e cerca de 24 por cento na quarta-feira, em meio às expectativas sobre o aumento de capital.
Bancos
A injeção de recursos na Usiminas poderá ser feita nos próximos três meses, afirmou a segunda fonte, após aprovação pela assembleia de acionistas. Enquanto isso não acontece, a empresa já teria um pré-acerto com os bancos credores, entre eles o japonês JBIC, para suspensão de vencimentos, o chamado "standstill", após a aprovação da proposta de aumento de capital.
Além disso, recursos entre 500 milhões e 1 bilhão de reais disponíveis na Mineração Usiminas (Musa) poderão ser aportados mais adiante na siderúrgica, afirmou a fonte. A Musa é dividida entre Usiminas e a japonesa Sumitomo Corporation, que cobra comprometimento dos acionistas da Usiminas e apoio dos bancos antes de dar aval para o repasse de recursos.
"A Sumitomo alegava que não poderia repassar o dinheiro para uma empresa que poderia quebrar (...) Há um acordo com a Sumitomo de que uma vez que as condições necessárias sejam cumpridas, a Sumitomo vai estudar" o repasse de recursos à Usiminas, acrescentou a segunda fonte. (Com informações de Alberto Alerigi Jr. / Reuters)
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