26 de agosto, de 2014 | 00:00
Metade dos pintinhos coloridos já morreu
Tingidos em processo cruel, aves são tratadas pelo Centro de Biodiversidade da Usipa
IPATINGA À primeira percepção eles provocam encanto, e são atrativos, principalmente, às crianças. Mas, ao que foram submetidos os mais de 700 pintinhos coloridos apreendidos em Timóteo na última semana, não há nenhum encanto, mas sim crueldade. No Centro de Biodiversidade da Usipa (Cebus), para onde foram levados, 678 chegaram vivos na sexta-feira, 22. Até a manhã de ontem, porém, só 338 sobreviviam. No centro, profissionais se dedicam ao tratamento da metade que sobreviveu. Parte desses filhotes pode, com otimismo, escapar aos maus-tratos sofridos.
O coordenador do Cebus, o médico-veterinário Lélio Costa e Silva, detalhou o tratamento recebido pelos animais. A alimentação saudável tem, por exemplo, a aplicação de ração com vitaminas do complexo B. Os filhotes ingerem bastante líquido e são mantidos aquecidos e separados em grupos, além disso, na esperança de que o metabolismo deles seja estimulado e as toxinas, excretadas.
Em uma prática criminosa que se revela comum em vários estados, Lélio Costa informa que as aves são tingidas com tinta tóxica, levando-as à cegueira e causando o entupimento das vias respiratórias. O transporte e armazenamento precário dos animais que vieram do Nordeste brasileiro para o Leste mineiro, complementam os maus-tratos. Os pintinhos coloridos são machos, e refugados das granjas. De outro lado, no hábito de quem os cria, eles são sacrificados imediatamente, pois para a reprodução de ovos só servem galinhas (poedeiras). No processo de pintura para a venda, a morte é mais lenta e sofrida.
A forma de colori-los é a mais terrível possível porque eles jogam a anilina, que é um produto tóxico. A morte ocorre pela ação do produto na corrente sanguínea. Existe uma forma de hemoglobina que é estimulada a aumentar, o que chamamos de meta-hemoglobina, e que provoca uma disfunção no organismo do animal. Isso produz uma anemia funcional que dura normalmente sete dias, até levar à morte. O animal também morre pelo que chamamos de hipóxia, isto é, a baixa concentração de oxigênio no sangue”, diagnostica Lélio.
Um pequeno grupo foi encontrado ainda sem a tintura à base de anilina. Esses foram separados para não ingerirem as toxinas, no contato com os demais animais. Um total de 50% deles já morreu. A tendência é que outros também não resistam. Observamos o comportamento deles e há uns bem espertos. Agora, é necessário aguardar mais uns três dias de tratamento para saber que grupo poderá sobreviver”, ressalta o coordenador do Cebus.
A destinação dos que sobreviverem após o tratamento cabe à Justiça. O veterinário pontua que o Cebus aguardará a recomendação se a unidade continuará a cria-los até que sejam doados a uma instituição de caridade, ou se irão permanecer no zoológico. Os responsáveis pelos maus-tratos, J.J.S., 23, e R.R.L., 24, foram localizados na área central de Timóteo, na sexta-feira, de posse das centenas de pintinhos coloridos.
O tenente PM Átila Porto, da Polícia de Meio Ambiente, e o delegado de Polícia Civil, Vinícius Ferreira, informam que a dupla responderá processo na Justiça. Assim como os humanos, os animais têm direitos básicos reservados por lei. A Lei 9.605/98 prevê detenção, de três meses a um ano, e multa para o crime de maus-tratos. A pena é aumentada, além disso, de um sexto a um terço se ocorrer morte do animal. A multa, conforme a legislação, pode chegar a R$ 3 mil por espécie maltratada.
Denúncias de crime ambiental podem ser feitas por meio do telefone (31) 3825-7633, além do portal eletrônico da 12ª Região da Polícia Militar, no endereço www.policiamilitar.mg.gov.br/portal-pm/12rpm.
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