14 de fevereiro, de 2014 | 00:00

“Não tenho nada contra a Cenibra, só estou olhando a questão ambiental”

Autor de proposta que visa a suspensão de plantio de eucalipto espera que texto seja mantido



IPATINGA – A polêmica envolvendo a floresta de eucalipto de propriedade da Cenibra no município chamou a atenção nos últimos dias. Para entender a questão, o DIÁRIO DO AÇO procurou o autor da proposta inserida no Plano Diretor, que determina o prazo máximo de 10 anos para encerrar e extinguir o plantio de eucaliptos, incentivando o cultivo de árvores nativas na Área de Proteção Ambiental (APA) Ipanema.

Presidente da Associação de Produtores Rurais do Tribuna, conselheiro da APA e presidente da Regional Administrativa 9 de Ipatinga, Deir Rodrigues de Andrade foi o responsável pela proposta que gerou o inciso XL do artigo 7º do Plano Diretor, que estabelece o fim do plantio de eucalipto na APA Ipanema. Deir explica que, desde quando assumiu a presidência da regional, passou a se preocupar com a situação do local em razão, segundo ele, dos prejuízos causados pelo eucalipto.

Proprietário de uma área no Tribuna, zona rural de Ipatinga, há 13 anos, Deir Andrade relata que, neste período, pode observar nascentes secando e a deterioração da fauna local, além de deslizamentos de terra nos locais onde o eucalipto é retirado. “Aproveitei as plenárias do Plano Diretor, realizadas no ano passado para propor essa emenda porque a presença do eucalipto no Ipaneminha e no Tribuna chega a 75% e como se trata de uma área de preservação ambiental, acredito que teria de ter outras espécies, além de eucalipto. Hoje, 80% do ribeirão Ipanema vem das nascentes do Tribuna, Ipaneminha e Ipanemão, e não podemos perder isso”, opina.

Mesmo não tendo feito um estudo específico sobre os prejuízos no local, o presidente da Regional 9 relata que o terreno que recebe plantações de eucalipto fica ressecado com o tempo. “Além disso, mais algumas espécies de bichos na região, como tatu, veado, jaguatirica, tamanduá e lobo-guará sumiram. Há muito tempo não se vê esses bichos por lá. Precisamos plantar árvores nativas como ipê. Hoje estão olhando o lado econômico e não o ambiental”, declarou.

Deir Andrade acrescenta que pretende realizar novas proposições para a localidade, durante as audiências públicas que serão realizadas pela Câmara nos próximos dias. Ele espera que a proposta seja mantida no projeto, que deverá ser votado pelo Legislativo após as discussões com a comunidade. “Não tenho nada contra a Cenibra, só estou olhando a questão ambiental e o melhor para as gerações futuras”, concluiu.

Plantio
Wesley Rodrigues


Deir
 Recentemente, a Cenibra informou que realiza seus plantios em forma de mosaicos, onde as áreas de eucalipto se misturam às áreas de reserva, de preservação permanente e propriedades rurais de terceiros com suas pastagens e áreas de cultivo, criando uma condição adequada para a manutenção da qualidade ambiental da região.

Por meio de monitoramentos, a Cenibra afirma ter evidências consistentes da qualidade dos corpos hídricos nas bacias hidrográficas manejadas por ela. Em relação à fauna, realiza há 10 anos o monitoramento sistemático das espécies de aves e mamíferos de médio e grande portes em suas propriedades. Especificamente na região da bacia do ribeirão Ipanema foram registradas até o presente momento 137 espécies de aves e 28 espécies de mamíferos, Destes, 6 espécies de aves e 9 de mamíferos encontram-se ameaçados de extinção.

Área
A Cenibra maneja uma área total de 254 mil hectares, sendo 51% de plantio de eucalipto; 41% de áreas destinadas à conservação da biodiversidade e dos recursos naturais (preservação permanente, reserva legal e floresta nativa, correspondendo a mais de 100 mil hectares (ha); e o restante em áreas destinadas para infraestrutura, entre outros. Especificamente na bacia do ribeirão Ipanema, a empresa possui uma área de 2.096,22 ha, sendo 880,43 ha de plantio de eucalipto (o que corresponde a 5% da área total, estimada em 15 mil hectares), e 1.202 ha de áreas de matas nativas, que fornecem suporte a uma rica fauna silvestre e proteção a inúmeras nascentes e corpos d’água.
 


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