18 de junho, de 2013 | 00:00
Uso controlado de sibutramina
Ipatinguense fala da importância da venda liberada apenas com rigoroso acompanhamento médico
IPATINGA Usados de maneira abusiva por algum tempo, os emagrecedores à base de sibutramina são cercados de mitos, dúvidas e muita polêmica. Em algumas circunstâncias, chegou-se a cogitar a sua retirada do mercado, face ao uso indiscriminado e seus efeitos no organismo. Após longas discussões feitas pela comunidade médica e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em outubro de 2011, determinou-se que a venda da droga seria autorizada apenas para pacientes com prescrição médica.
Após o monitoramento do medicamento ao longo do ano passado, a Agência decidiu pela manutenção da venda, desde que pacientes e médicos assinem um termo de responsabilidade, apresentado junto com a receita no momento da compra. A decisão de manter a venda liberada com as restrições foi anunciada pela diretoria colegiada da Anvisa, no fim de maio.
Na avaliação da médica endocrinologista Mariana de Souza Furtado, a decisão da Anvisa em manter a venda liberada com as restrições é positiva. A médica salienta que a grande polêmica que surgiu com a cogitação da retirada do medicamento do mercado foi reflexo do uso indiscriminado da sibutramina. Essa regulamentação se tornou necessária muito pelo abuso no consumo da substância e nem tanto pelos riscos que ela oferece. O grande problema foi o abuso de prescrição e uso. Foi um exagero”, pontua Mariana Furtado.
No seu consultório, Mariana recebe em sua maioria pessoas que buscam ajuda para emagrecer, inclusive crianças. Questionada sobre a demanda dos pacientes por remédios na ajuda da luta contra a balança, a endocrinologista diz que houve uma mudança de comportamento nesse sentido, nos dois últimos anos. Antes da proibição dessas medicações a busca por medicamentos era enorme. Depois, os pacientes ficaram um pouco assustados e diminuíram os pedidos. Hoje muita gente vem pedindo suporte, mas sem medicação. Isso é fruto da veiculação na mídia de dados e riscos envolvendo esses medicamentos. A busca por remédio para ajudar a emagrecer hoje é bem menor do que há dois anos”, salienta a endocrinologista.
Sem milagre
Mariana Furtado diz que o uso da sibutramina é relativamente seguro, desde tenha acompanhamento médico. Ela é uma droga relativamente segura, desde que usada em pacientes que não possuem contraindicação para a prescrição”, comentou. Por outro lado, há muitas expectativas quanto a um suposto efeito milagroso do medicamento. A endocrinologista afirma que não há milagre. Não se pode criar expectativas não realistas com a medicação. Os estudos sobre o uso prolongado mostram que o paciente tem perda de peso adicional de 3 quilos em um ano, quando comparado ao grupo que fez a mudança de estilo de vida isoladamente. Expectativas acima disso são irreais”, destacou. Mariana Furtado esclarece que a sibutramina é uma droga de baixa potência na inibição de apetite.
Outro fato importante no tratamento que deve ser considerado pelos pacientes é o tempo de efeito da sibutramina no organismo. Conforme a endocrinologista, no início do tratamento o efeito de redução de apetite e de peso é mais intenso nos primeiros três meses. Com o passar do tempo essa redução vai desaparecendo e a velocidade de perda de peso vai caindo. Alguns pedem alternativas, doses maiores. Isso não é viável. Não existem inibidores de apetite mais potentes disponíveis no mercado”, alertou.
Outro medicamento autorizado atualmente para ajudar no emagrecimento é o Orlistat (Xenical), porém ele tem outra forma de atuação. Ele age sobre a absorção de gordura intestinal. Não inibe apetite ou acelera metabolismo. Diminui a absorção de gordura. Ele oferece baixíssimo risco e está há muitos anos no mercado”, falou Mariana Furtado.
Indicações
Então, quem deve usar a sibutramina? Mariana Furtado responde que a droga é reservada para pacientes com obesidade, cujo Índice de Massa Corporal (IMC) esteja acima de 30, e que não tenham obtido êxito em tratamento não medicamentoso (dieta e atividade física). O medicamento oferece fatores de riscos para diabéticos, hipertensos mal controlados ou com histórico de doença cardíaca prévia. A droga deve ser usada com acompanhamento por até 2 anos”, orientou.
Não é preciso comer muito para engordar”
Apesar dos benefícios de um tratamento de emagrecimento com auxílio de remédio, acompanhado por profissional da saúde, a boa e velha receita da reeducação alimentar é o que realmente conta para a manutenção do peso ideal. A endocrinologista Mariana de Souza Furtado afirma que ao contrário do que muitos pensam, não é necessário comer grandes quantidades para engordar. As pessoas, às vezes, não compreendem que não é preciso comer muito para engordar. E sim um pouco mais do que a gente gasta”, pontuou.,
Mariana Furtado conta que o cálculo energético que considera uma série de fatores, como idade, sexo e peso, comprova a sua afirmação. Ele mostra, por exemplo, que para perder um quilo, o ser humano precisa ter um déficit de 7 mil calorias. Isso significa que em um mês ele tem que retirar um pouco mais de 200 calorias da sua dieta habitual. Em compensação se acrescenta 200 calorias, o que pode ser feito com um pãozinho com manteiga a mais por dia, ele ganha cerca de 1 kg por mês, doze em um ano”, revelou.
Ao manter a antiga dieta após a perda de peso muitos voltam a engordar. Tem gente que fala que não come muito. Mas a questão não é comer muito e sim comer um pouco mais do que pode gastar. O maior erro é voltar ao padrão alimentar anterior. Aí você passa a recuperar o peso que perdeu. É preciso fazer ajustes periódicos na dieta para manter a perda de peso”, observou a especialista.
Erros começam na infância
A endocrinologista Mariana de Souza Furtado chama a atenção para o grande número de crianças obesas em todo o mundo. Segundo a médica, o erro nessa fase da vida pode acarretar em consequências ruins no futuro.
Como a criança é muito ativa seu gasto energético é alto. Geralmente ela come muitos alimentos de qualidade ruim, como sorvete, pizza. Então, a criança se habitua a ingerir alimentos hipercalóricos. Na fase adulta aquilo começa a engordar surgindo a dificuldade de introduzir alimentos mais saudáveis na dieta”, orientou.
Sendo assim, os pais precisam insistir com alimentação saudável, mudar hábitos da família e dar exemplo. A regulação do apetite vai se deteriorando. Se você sempre oferece para criança alimentos hipercalóricos a capacidade de regular a fome vai desaparecendo. Muito adulto fala que sente fome demais, às vezes é porque passou a vida toda tendo uma alimentação hipercalórica rica em gordura saturada, perdendo capacidade de ter saciedade. Ensinar desde pequeno é a parte mais importante para evitar a obesidade”, ponderou a especialista.
E não vale dar a desculpa do corre-corre da vida moderna. Mariana Furtado mostra a importância de investir tempo em cuidar da alimentação, apesar da realidade dos pais que trabalham muito. Fazer uma refeição equilibrada, comprar frutas e verduras frescas toda semana dá muito trabalho. Então, às vezes é mais fácil comprar biscoitinho para lanche da escola e à noite descongelar pizzas. É preciso retomar a cultura de oferecer alimentos frescos”, concluiu a endocrinologista Mariana Furtado.
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