
01 de junho, de 2013 | 00:00
Os adolescentes saudáveis vão viver mais de 100 anos”
Hebiatra destaca a mudança de hábitos da nova geração, apesar dos estereótipos
IPATINGA A adolescência, período marcado entre os 10 e 20 anos de idade, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, é uma fase de muitas transformações e incertezas (para fins legais, no Brasil, é considerado adolescente o cidadão com até 18 anos incompletos). No turbilhão de ideias e hormônios os adolescentes muitas vezes são definidos como problemáticos”. No mundo cercado por drogas e violência, de fato, muitos deles se envolvem com coisas negativas. E quando o assunto é saúde, maus hábitos e sedentarismo costumam ser palavras-chave atribuídas a eles em função da vida moderna cercada por tecnologia.3
Mas tudo isso não pode ser considerado regra. É o que defende a hebiatra e especialista em psiquiatria da infância e adolescência, Sigrid Campomizzi Calazans. O hebiatra é o pediatra especializado em medicina da adolescência. A especialista afirma que essa fase de transição é muito rica e deve ser bem acompanhada pela família, profissionais da saúde e amigos.
Adolescência é fase de intensa socialização. Na infância o ciclo é mais restrito a família e amigos. Faz parte da adolescência ampliar o ciclo de amigos”, disse a médica. Nessa fase de contatos sociais intensos, entra em questão a saúde. Antes a principal diversão era brincar na rua. Hoje, o uso da tecnologia faz aumentar, entre os adolescentes, a socialização virtual, desestimulando as atividades físicas.
Tecnologia
Questionada sobre os reflexos desses novos hábitos, sobre a saúde dos adolescentes, Sigrid Calazans aponta para o aumento da obesidade. A incidência de obesidade está aumentando e isso traz consequências ruins no futuro. A saúde que o indivíduo vai ter na vida adulta depende de como foi a infância e adolescência dele. Se houver sedentarismo, maus hábitos alimentares e obesidade, o adolescente vai ser adulto com hipertensão arterial, aumento de colesterol, diabetes, doenças cardíacas, qualidade de vida ruim e vai viver menos que poderia”, alerta a hebiatra.
Além dos problemas com saúde, outro fator negativo para o uso excessivo de tecnologia apontado por Sigrid Calazans é o prejuízo nos estudos. Se o adolescente fica muito tempo na internet, ele passa a ter horas de sono diminuídas, isso o prejudica na escola, pois ele não tem tempo necessário que deveria ter para estudar”, pontuou.
Mas a hebiatra discorda da visão totalmente negativa sobre a tecnologia na vida dos adolescentes. Às vezes os pais não estão enxergando o uso excessivo de computador e internet. É importante estabelecer horários. A internet não é só negativa, ela é fonte de conhecimento. Os pais devem estar atentos ao equilíbrio”, pondera.
Consciência
Por outro lado, a especialista salienta a consciência de boa parcela dos adolescentes em ter hábitos saudáveis. Temos muitos adolescentes praticando esporte, preocupados com bons hábitos alimentares. Se eles forem bem conduzidos, saudáveis, vão viver mais de 100 anos. As projeções médicas no mundo inteiro demonstram isso”, observa Sigrid Calazans.
Em relação ao comportamento, a hebiatra também mostra uma visão positiva e é contra a afirmação de que adolescente é só problema”. Muitas vezes as pessoas falam que a juventude de hoje está muito perdida. Não é bem assim. Existe muita droga e violência, mas os adolescentes têm preocupação com ecologia, necessidade de trabalhar o lado espiritual, como mostram muitas pesquisas. Tem muita coisa positiva. O futuro do mundo é a partir da adolescência. Tem uma boa parcela que está num caminho bacana, com projetos de vida”, defendeu Sigrid Calazans.
Exemplo
Neste contexto, a hebiatra chama a atenção para os exemplos dados aos adolescentes dentro de casa. O exemplo vem de dentro de casa, não adianta falar para ele ter alimentação saudável se em casa só tem chips, doce, fritura, se não tem uma fruta. O papel da família é fundamental. Só falar não resolve. Os pais educam com exemplos e pelo ambiente. Se ele é propício, o adolescente vai aderir às coisas saudáveis e ficar longe das drogas que é uma das principais preocupações atualmente”, frisou.
Embates
No processo de educação, muitos pais se deparam com dificuldades no relacionamento com os filhos adolescentes, principalmente ao impor limites. Sigrid Calazans diz que esse embate com os pais é fruto do momento de descobertas e questionamentos vividos pela pessoa nessa fase da vida. O adolescente está encontrando a sua identidade. Nesse encontro ele bate de frente com os pais. Isso é normal, por isso ele está vulnerável. Se o ambiente em casa não estiver bom ele ficará propício a usar droga e a não levar os estudos a sério. A sociedade melhora a partir do momento que os adolescentes melhoram”, declarou a hebiatra.
Na opinião da especialista a conduta do adolescente está muito ligado aos estímulos que ele recebe. Sigrid Calazans é otimista quanto aos adolescentes e destaca o papel deles na história. Na história do nosso país eles protagonizaram momentos de importantes mudanças. Esses conflitos da adolescência ocorrem porque a maioria quer um mundo melhor. Se o adolescente não está bem conduzido, ele vai para o caminho destrutivo. O mundo está melhorando apesar de tanta coisa e isso é porque os jovens querem coisas melhores”, concluiu Sigrid Calazans.
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