17 de fevereiro, de 2013 | 00:00

Tradições e penitências na Quaresma

Período que serve de preparação para a Páscoa motiva fiéis a realizar diversos tipos de propósitos

IPATINGA – Durante o período da Quaresma, iniciada no dia 13 de fevereiro, o costume de se fazer propósitos se torna comum entre católicos. Ao longo de 40 dias, hábitos alimentares e comportamentais são modificados como forma de penitência e meditação na preparação para a Páscoa. Entretanto, o administrador paroquial da Paróquia São Pedro, no bairro Limoeiro, padre José Pinheiro, pontua que o desafio de fazer o propósito é extremamente saudável, desde que seja bem feito e assumido com critério.
A duração da Quaresma está baseada no símbolo do número quarenta na bíblia. Nela, são citados os quarenta dias do dilúvio, os quarenta dias que Jesus passou no deserto, entre outras referências. Segundo o padre Pinheiro, a Quaresma é a preparação para a Páscoa e só tem sentido se for para tal preparação, saindo de um sentido para uma direção. “É uma caminhada de purificação, então, o Senhor vai passar, vai ressuscitar e tem que encontrar os cristãos abertos para acolher essa passagem, porque Páscoa é passagem e é saída”, explicou o pároco.
 
Até os menos apegados à religião católica costumam substituir a carne por peixe como forma de abstinência, entretanto, se essa mudança de hábito não é exatamente o que sugere a Igreja, alguns cristãos mantêm tradições mais antigas e se privam de prazeres durante toda a Quaresma. Além da carne vermelha, há quem renuncie a doces, álcool, refrigerantes, entre outros.
 
Católica há quase 60 anos, Alba Maria Ferreira, moradora do bairro Ideal, não consumirá carne durante os 40 dias. “Já fiz outros sacrifícios, mas nesta Quaresma não pretendo comer carne vermelha. É um dos poucos sacrifícios que podemos fazer sem ser tão radical”, cita.
Sem futebol
Como forma de preparação, o estudante Carlos Augusto Sousa, do bairro Bom Retiro, pratica o desapego às coisas que mais gosta. Costumes como jogar futebol, videogame e outros jogos, são excluídos de sua rotina ao longo dos 40 dias da Quaresma. “Na minha forma de enxergar, deixar de fazer coisas que gosto me ajuda a me concentrar em outras, como meditar sobre o período, que requer uma preparação por parte dos cristãos. Abrir mão de jogar futebol não chega a ser um sacrifício, mas é algo que faz diferença pra mim”, disse.
Já a estudante Mariana Silva, do bairro Bethânia, relata que escolheu duas formas para o seu propósito. “Cada um escolhe livremente o que faz. Eu escolhi me abster de doces e bebida alcoólica, porque eles prejudicam a dieta do dia a dia, apenas satisfazem ao paladar”, explica.
O padre observa que fazer abstinência de algo é uma questão educativa “superinteressante”, não só por questão de nutrição, de saúde, mas por questão espiritual, uma vez que as pessoas não são apenas carne. “A abstinência existe porque Jesus passou 40 dias jejuando, mas a bíblia pede jejum e Jesus disse certa vez que certas coisas só seriam vencidas com muito jejum e oração. O povo judeu explica que é preciso comer ervas amargas, porque precisamos que coisas ao nosso redor nos façam sofrer, façam amarga a vida, pois temos que experimentar a amargura, mas a bíblia não fala em momento algum sobre sofrimento ou mutilação”, pondera.
Mitos
Entre os antigos, era comum ouvir que caso se comportasse mal, crianças veriam mula-sem-cabeça, lobisomem, e até mesmo assombração ou o diabo durante a noite. Tais mitos não têm, segundo o padre Pinheiro, justificativa teológica nem bíblica. “Na Idade Média a Quaresma ganhou um tom de terror, teve um período que eram 70 dias de quaresma, as pessoas cobriam os santos com panos, tinha encomendação de almas onde as pessoas saiam de roupas brancas a meia noite batendo matraca para simular o som de pregos e jogavam milho no telhado, cantando cantos sombrios sob a lua cheia. Depois as pessoas tinham que fazer grandes jejuns e não podiam varrer a casa na sexta-feira, por exemplo”, pontuou José Pinheiro.
Significado
O povo brasileiro, explica o padre, não passa por provações como falta de água, como no deserto, ou temperaturas extremas, o que dificulta a percepção de que nesse período precisamos controlar nossa arrogância, nossa vontade de tornar a vida dos outros amarga e perceber que temos de lutar contra essas coisas.
“A igreja passa por uma turbulência onde é acusada de casos de pedofilia, o Vaticano está proibido de usar cartão de crédito, pois foi acusado de lavagem de dinheiro. O Papa reclamou e disse que alguns católicos buscam uma religião de aparência e temos de renunciar a essas coisas. É preciso retomar o verdadeiro sentido das coisas e saber que é preciso fazer um balanço de nossa vida espiritual, moral, ética e purificar nossas atitudes. A Quaresma só tem sentido se for no aspecto de nos preparar para a grande libertação que é Páscoa”, concluiu padre José Pinheiro.
 
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