
18 de março, de 2012 | 00:00
Casa preserva história em Fabriciano
Construída na década de 1940, moradia guarda detalhes de importante período econômico
FABRICIANO Do lado de fora, por onde centenas de fabricianenses passam diariamente, não nem dá para perceber a riqueza histórica contida por trás do muro. Mas ao abrir o portão é possível sentir um ar de tranquilidade, um contraste com a correria e agitação do Centro da cidade. A casa, construída no início da década de 1940, fica localizada na rua Doutor Querubino.
A varanda, construída com puro jacarandá e forro de cedro, ainda preserva os detalhes originais, inclusive do ladrilho colocado no piso. Dentro da morada, várias portas dão acesso à varanda. O assoalho é formado por tacos de madeira em duas cores, de jacarandá e pinho. Em volta, jardins cobertos de plantas ajudam no combate ao clima quente do Vale do Aço.
O proprietário, Gilson Lanna, acaba de completar 90 anos, dos quais 62 deles vividos nesta casa. O morador saiu da cidade de Ponte Nova, em 1942, para trabalhar pela antiga Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira. O aposentado lembra com detalhes da sua chegada a Coronel Fabriciano.
A compra do imóvel foi por indicação da própria empresa, após a mudança do antigo morador, um engenheiro também contratado pela Belgo-Mineira e que se mudou após a transferência para João Monlevade. À época, eu trabalhava no almoxarifado da empresa, que ficava em frente à casa e diversos imóveis aqui pertenciam a Belgo”, relembra.
Entre tantas datas especiais vividas na propriedade, a festa de casamento de Gilson Lanna é uma das mais especiais para ele. Eu me casei na igreja matriz, bem ali na frente e, de lá, viemos pra cá. Todo mundo a pé, porque naquela época ainda não existia esse negócio de carro”, brinca.
Do casamento aos netos, boa parte da vida de Gilson Lanna se passou na histórica residência que é considerada uma das mais conservadas da época. Para Gilson, a casa possui um valor precioso. Ele não tem planos para se desfazer do patrimônio. Aqui eu vi Fabriciano passar a ser cidade, depois Timóteo e Ipatinga também atingirem essa condição. E Fabriciano, que era a mãe, acabou ficando sozinha aqui”, pontua.
O imóvel chegou a ser tombado pelo Patrimônio Histórico em 1997 mas, a pedido do proprietário, foi excluído dessa condição dois anos depois. Conforme Gilson Lanna, a burocracia dificulta até a manutenção de um imóvel catalogado como histórico.
Um patrimônio ímpar”
O gerente de Cultura do município, Amir José de Melo, explica que a região passou por vários ciclos econômicos, e o município de Fabriciano viveu, por exemplo, um importante período de exploração do carvão vegetal. A instalação de um escritório da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, em 1936, foi fundamental no impulso inicial para o crescimento do município.
A exploração das matas deu lugar a várias edificações. O imóvel de Gilson Lanna foi construída para abrigar um engenheiro da Belgo-Mineira. Aquela casa é uma réplica menor do Clube Casa de Campo, inicialmente construído para ser uma casa de hóspedes da Belgo-Mineira”, explicou.
Entre as semelhanças, estão os balcões da varanda feitos de jacarandá extraídos no próprio município, nas margens do rio Piracicaba. Fabriciano era coberto de Mata Atlântica, onde existiam árvores que 10 homens não abraçavam”, conta. Na opinião de Amir José, se a casa um dia vier a ser descaracterizada, Fabriciano perderá um patrimônio ímpar”.
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