
18 de março, de 2012 | 00:00
Familiares confirmam maus tratos no Ceresp
Mãe de preso sofre por não ter informações sobre o filho hospitalizado no HMI
IPATINGA A realidade tratada em duas reportagens publicadas pelo DIÁRIO DO AÇO sobre a comprovada superlotação e denúncias de tortura no Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) de Ipatinga, foi endossada por familiares de detentos ouvidos pelo jornal. Com o compromisso assumido junto às fontes de que não teriam suas identidades reveladas, o consenso alcançado por meio do testemunho de três mães e uma esposa é o que o Ceresp tem sido palco de tortura, além de funcionar sem condições de oferecer o mínimo de dignidade aos detidos.
Por iniciativa da Comissão de Direitos Humanos da 72ª Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), foi protocolado, em janeiro, junto ao Ministério Público (MP), o pedido de tomada de providências para apurar denúncia de tortura cometida por agentes penitenciários lotados no Ceresp. Procurada pela reportagem no dia 12 deste mês, a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), informou desconhecer qualquer denúncia relacionada à tortura. Não há nenhuma formalização desta denúncia na Corregedoria do Sistema Prisional feita por presos, familiares, representantes do sistema prisional e/ou Judiciário”, assegurou por meio de sua assessoria.
Entretanto, a posição da Seds mudou depois que o jornal publicou, no dia 13 de março, nova reportagem que revelou a superlotação da unidade. De acordo com a análise da grade carcerária do Ceresp, o espaço está superlotado em 263% sua capacidade limite. A mesma reportagem trouxe ainda o drama da senhora Maria dos Anjos Pereira Silva. Mãe de um jovem portador de deficiência mental, preso por roubo em fevereiro deste ano, ele foi parar no Hospital Municipal de Ipatinga após ter sido vítima de maus tratos pelos presos.
Na versão que chegou aos ouvidos da mãe, o rapaz teria sido violentado por mais de oito detentos e, por isso, precisou ser hospitalizado. Já o Estado, somente após a reportagem ter publicado a versão do estupro relatado pela mãe, mudou de posição quanto aos problemas na unidade. Informamos que tão logo tomou conhecimento de que o detento, supostamente, foi vítima de agressão, a direção do Ceresp de Ipatinga, instaurou Procedimento Interno de Investigação, e encaminhou o preso ao Instituto Médico Legal (IML) para exame de corpo de delito no dia 08/02/12. O laudo final dos exames já se encontra com a autoridade policial responsável pelo caso”, contradisse a assessoria da Secretaria de Estado de Defesa Social.
De acordo com a delegada responsável pelo caso, Lívia Athayde, foi instaurado um inquérito e iniciada a investigação sobre o que de fato ocorreu com o filho de Maria dos Anjos. Preliminarmente, pode-se dizer que não houve agressão sexual como a mãe acredita. Isso foi o que aponta o laudo do IML. Agora, iremos ouvir os depoimentos de todos os envolvidos e, com certeza, descobrir o que de fato aconteceu. A partir disso, os responsáveis serão penalizados”, declarou a delegada, por telefone.
Para a mãe, que desde o ocorrido teve contato com seu filho apenas uma única vez, ao visitá-lo no Hospital Municipal de Ipatinga, é difícil acreditar que o jovem não tenha sido vítima de agressões, tanto físicas quanto psicológicas. Meu filho está em estado de choque. Não conversa, emagreceu no mínimo 10 quilos e está usando fralda geriátrica. Como eu faço para não acreditar que ele não tenha sido estuprado? Basta olhar para ele e ver que alguma coisa de muito grave aconteceu”, afirma a mãe, demonstrando desespero.
Humilhação
Para a mulher de um preso, que se encontra no Ceresp, um dos maiores problemas enfrentados por quem precisa visitar seus familiares naquela unidade prisional, está relacionado ao despreparo dos agentes. Eles nos humilham mesmo. Nos tratam como bichos e até mesmo como bandidos. Eu já fui muito maltratada durante as visitas que fui fazer ao meu marido. Já me chamaram de vagabunda, e eles falam isso rindo”, desabafou.
Já a mãe de outro preso acredita que o motivo desta realidade está na visão que os agentes têm da impunidade. Eles se sentem deuses. Como somos pobres e não temos influência, fazem o que bem entendem. E, infelizmente, parece que é verdade. Basta ver que ninguém investiga nada. E quando se pergunta como está lá dentro, o que é passado, sempre, é de que tudo está bem. Queria ver se o filho de uma pessoa rica fosse lá, o que iria acontecer”, finaliza a mãe.
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