19 de fevereiro, de 2012 | 00:00
Câncer não é um sinônimo de morte”
INCA estima 4,7 mil novos casos da doença em Minas Gerais
DA REDAÇÃO O câncer de mama é o que mais acomete as mulheres em todo o mundo. A idade é o principal fator de risco e as taxas aumentam de forma acelerada, após os 50 anos de idade. No Brasil, as taxas de mortalidade por câncer de mama são elevadas, provavelmente porque a doença ainda é diagnosticada em estágios avançados.
Para este ano, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima cerca de 52.680 novos casos de câncer de mama no país. Atrás dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, Minas Gerais é o terceiro neste ranking, com estimativa de 4,7 mil novos casos da doença.
Primeiro mastologista da região Leste do estado, o médico Fernando Ferrer, 49 anos, afirma que o câncer de mama tem cura, desde que diagnosticado precocemente. Câncer não é um sinônimo de morte”, ressalta.
O Exame Clínico da Mama (ECM) e a mamografia, feito por profissional da saúde, nas mulheres a partir dos 40 anos, realizados anualmente, é uma das recomendações para detecção e diagnóstico precoce da patologia. Mulheres mais jovens também podem desenvolver a doença, mas os índices são menores.
Ferrer comenta que com o avanço da tecnologia, a população conta com exames clínicos de alta qualidade para detecção de neoplasias (tumores). O Vale do Aço possui estrutura capacitada para tratar casos de câncer, sendo uma referência no cenário hospitalar do país”, avalia o médico, que atua há 24 anos no Hospital Márcio Cunha.
Causas
Fernando Ferrer enfatiza que as causas exatas da patologia ainda são desconhecidas, mas acredita que o câncer de mama está associado aos hábitos da mulher moderna. Segundo defende, o estilo de vida na cidade mudou. As mulheres se casam mais velhas, tomam anticoncepcional por muitos anos, estão no mercado de trabalho susceptíveis ao estresse, tem menos filhos e hábitos alimentares menos saudáveis”, enumera os fatores que possam ser relevantes no desenvolvimento da doença.
Autoexame
O médico reforça que há alguns anos, se propagava o autoexame da mama, mas hoje a Sociedade Brasileira de Mastologia e a Sociedade Americana de Oncologia, recomendam maior conscientização quanto à mamografia. Esse entendimento dá-se porque na apalpação da mama, quando se percebe o nódulo o tumor pode já estar em estágio avançado. Ferrer esclarece que no exame com as mãos, só é possível encontrar caroços de 1,5 cm ou 2 cm. Já na mamografia é possível identificar nódulos de 2 ou 3 mm, não perceptíveis ao toque.
Mitos e Verdades
O especialista alerta que a reposição hormonal pode influir no risco de câncer de mama. Essa tem sido uma prática corriqueira nos casos da restituição dos hormônios que deixaram de ser produzidos pelos ovários na menopausa. O câncer de mama também acomete homens, porém, são raros os casos. O especialista lembra que desde quando começou a atuar na região, diante de uma média de 100 novos casos de câncer de mama por ano, apenas cinco homens passaram por seu consultório.
O uso de antitranspirantes, como causador de cânceres, é um mito popular, sem nenhum fundamento científico, segundo o médico. O uso de prótese de silicone, como causadora da doença também é outro mito. Todas as pacientes que opero, realizo a reconstrução da mama com prótese de silicone”, argumenta.
O mastologista afirma que 80 a 90% das mulheres que tem câncer de mama não possuem histórico familiar da doença. Ele aponta que este tipo de câncer se desenvolve de forma mais ambiental do que hereditário.
Mas o histórico familiar é importante. Nos casos de câncer em parentesco de primeiro grau como mãe e irmã, a atenção deve ser redobrada e a realização anual do exame de mamografia deve começar mais cedo.
Fatores emocionais podem intervir. Emoções negativas como estresse, mágoas e raiva, a morte de um filho, viuvez, separação, trazem problemas para a saúde. Fernando Ferrer conclui dizendo que evitar o estresse, ter uma boa alimentação, evitar vícios, não exagerar no álcool são recomendações básicas para uma vida saudável”.
Sobrevivência após diagnóstico
DA REDAÇÃO - Fundadora do Grupo de Apoio e Prevenção do Câncer - Se Toque, Gioconda Pascoal, 53 anos, foi diagnosticada há dez anos com câncer de mama. Ela conta que percebeu a existência de um caroço nos seios, e procurou um médico. Foi preciso ir a dois especialistas diferentes para realizar o diagnóstico. Procurei um ginecologista, fiz uma mamografia, mas nada foi identificado. Ainda assim desacreditei no diagnóstico e procurei outro médico. Fui a uma especialista em mastologia e então foi identificada a existência do câncer”, conta.
A gente perde o chão, se descontrola, mas precisa entender que pode lutar contra isso”, pondera. Gioconda passou pelo tratamento de quimioterapia e radioterapia. Atualmente, realiza apenas uma avaliação anual.
Após enfrentar a experiência dolorosa do câncer, Gioconda decidiu se dedicar às pessoas que não tinham suporte para enfrentar a doença. A iniciativa, juntamente com outras pessoas que passaram pelo problema, levou a criação do grupo Se Toque.
Meire Martins, 54 anos, também é integrante do grupo. Com 47 anos ela descobriu o câncer de mama em um exame de rotina. A descoberta precoce, porém, possibilitou o tratamento da doença. Foi assustador, mas a certeza que eu tinha é que eu ia ao médico com disciplina”, lembra.
Na família de Meire o histórico da doença em parentes próximos é preocupante. Segundo conta, dentre os dez irmãos, uma já havia falecido vítima da doença. Outros dois irmãos tiveram câncer no intestino, e após a descoberta de Meire, outra irmã também foi diagnosticada com câncer de mama. Penso que minha irmã foi de um tempo que as informações não eram como hoje. É preciso conscientizar as pessoas para a importância do diagnóstico precoce”, ressaltou.
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