31 de janeiro, de 2012 | 00:00
Pais adotivos ainda têm preferência por brancos
Crianças saudáveis e com até dois anos são as mais disputadas” nos abrigos
IPATINGA O drama vivido por uma criança ou adolescente recolhido numa entidade assistencial para ser adotado é sempre o mesmo: a longa espera por um novo lar com pais dispostos a dar amor, educação e carinho. Entretanto, a chance que cada um tem de ser adotado não é garantida de maneira igualitária. A preferência é por recém-nascido, de cor branca e sem irmãos. Esse perfil de preferência se mantém predominante com o passar dos anos.A informação é da diretora do Educandário Família de Nazaré (Efan), Neuza Lagnier, uma das entidades mais tradicionais do município de Ipatinga. Infelizmente existe ainda um perfil comum dos pais adotivos que buscam os orfanatos. A criança que tiver até dois anos, for do sexo feminino, saudável e sem irmão dificilmente fica por muito tempo nos abrigos. Essa é uma realidade nacional que precisa ser mudada. O Brasil não vive essa realidade”, declarou a diretora do Efan ao DIÁRIO DO AÇO.
A posição dela foi corroborada pela psicóloga judiciária Renata Coelho Carvalho. Na opinião da especialista, apesar da aparente queda na busca por crianças com este perfil, a maioria dos pais adotivos ainda tenta impor suas exigências. É uma questão cultural que tem diminuído com o passar do tempo. Mas ainda observamos que a grande maioria não abre mão do modelo idealizado em relação à etnia, idade e outros pontos”, completou a psicóloga.
O interessado em adotar uma criança deve seguir um rigoroso ritual judicial. Entre a entrega dos documentos no Fórum da Comarca e o momento em que irá sair de braços dados com seu filho de um abrigo, passam-se de dois a quatro anos. Aquele que pretende adotar uma criança enfrenta uma preparação detalhada junto a uma equipe de especialistas do Fórum. Essa equipe é constituída por psicólogos e assistentes sociais”, explica Renata Coelho.
Na opinião da diretora do orfanato, a burocracia que todo o processo exige prejudica a agilidade que a adoção necessita. Nós temos mais crianças para serem adotadas do que pais interessados em adotá-las. Diante disso, surge a demora para que uma adoção se finalize. Isso cria um sentimento nas crianças por não entenderem o que se passa nesse meio tempo. Toda cautela é necessária, mas acredito que uma celeridade maior por parte do Judiciário iria ajudar muito”, defendeu Neuza Lagnier.
Maioridade
Àqueles que completam a maioridade dentro dos orfanatos e não conseguem ser adotados, é função do poder público garantir meios que possibilitem o desenvolvimento intelectual e profissional necessários para que se sustentem com autonomia.
Cabe ao estado fortalecer o desenvolvimento da autonomia e a inclusão do adolescente em programas de qualificação profissional, bem como a sua inserção no mercado de trabalho, como aprendiz ou trabalhador observadas as devidas limitações e determinações da lei nesse sentido”, pontua a psicóloga Renata Coelho. Outro ponto determinado por meio de lei é a existência de repúblicas que devem acomodar esses jovens.
Quanto a isso nós sabemos que Ipatinga não conta com nenhuma alternativa. Não há políticas públicas atualmente no município, voltadas especificamente para adolescentes institucionalizados que propicie a autonomia desses jovens a partir da maioridade”, finaliza Renata Coelho.
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