22 de janeiro, de 2012 | 00:00

Os desafios no combate à intolerância religiosa

Pluralidade de crenças está distante do convívio harmônico

Wesley Rodrigues


mãe fátima
DA REDAÇÃO – Como incentivo ao respeito e à liberdade religiosa no Brasil, em 21 de janeiro é comemorado o Dia Nacional de Combate a Intolerância Religiosa. É também o Dia Mundial da Religião. A Lei n° 11.635/07 que oficializou a data é uma homenagem à Gildásia dos Santos e Santos, popularmente conhecida como Mãe Gilda, morta por complicações cardíacas no dia 21 de janeiro de 2000, em Itapuã, na Bahia. Ela virou símbolo das vítimas de perseguição e ataques de cunho religioso.
A liberdade de crença religiosa é assegurada pela Constituição Federal de 1988, no artigo 5°, inciso VI, onde é relatado que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e às suas liturgias”. A diversidade de crenças existentes no país, porém, se tornou fonte de conflitos, por abranger opiniões e concepções divergentes em relação às divindades cultuadas e deixa essa liberdade ameaçada.
O último censo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados das religiões professadas pela população (2000), apresentava o seguinte cenário para a Região Metropolitana do Vale do Aço: 56,53% dos residentes se afirmavam católicos, 31,47% evangélicos, 0,68% espíritas, 0,03% adeptos de religiões de matriz africana (Umbanda, Candomblé), e 10,01% de pessoas sem religião.
Mas esses números mudaram. Principalmente devido ao aumento dos neopentecostais no país, vertente da religião evangélica que agrega hoje forte poder midiático e político. Os números mais atuais, colhidos no Censo 2010, ainda serão divulgados.
 
Especialista em políticas e projetos sociais, o sociólogo Euler Rodrigues Vieira, 40 anos, acredita que, ao contrário do que é pregado em muitas doutrinas religiosas, a religião precisa da racionalidade para funcionar. Para ele, a intolerância reside na incapacidade de compreender a perspectiva do outro.
“As pessoas precisam identificar discursos de violência que possam estar implícitos em sua liturgia religiosa. Deve ser banido da ideia de religião toda perspectiva que preconiza o ódio e a segregação. O amor incondicional, ponto chave na religião é um conceito que precisa ser revisto. Falamos de amor entre os nossos, mas o que não está entre nós não merece esse amor? É preciso compreender esse conceito em todos os sentidos”, defende Euler Vieira, que atua na Prefeitura de Governador Valadares.
O sociólogo argumenta que “o combate a esta intolerância está em parâmetros básicos, como entender que o outro tem o direito de ser diferente”. E a educação é uma arma, uma vez que “quanto menos educação menor a capacidade de articular, de racionalizar e o indivíduo se torna susceptível a manipulações”.
Minorias
Seguidores da umbanda e do candomblé são umas das vítimas nesse panorama da rivalidade religiosa. “O preconceito com as religiões de matriz africana ainda é muito grande. Está estampado na sociedade. Meus filhos de santo (seguidores) sofrem na pele esse preconceito, seja nas ruas, na escola, no trabalho”, afirma a coordenadora do Coletivo de Entidades Negras de Minas Gerais no Vale do Aço, Fátima de Oxum, 54 anos, há 34 anos na Umbanda.
Fátima destaca que é importante que os umbandistas, e adeptos do candomblé se mostrem à sociedade. “Que assumam a sua religião sem terem vergonha. A sociedade precisa aceitar e respeitar essa diversidade, uma vez que ela está nas raízes da história deste país”, lembra.
 
No convívio com as outras religiões, a umbandista diz que as relações são conflituosas com doutrinas protestantes. “Criticam-nos, zombam afirmando que precisamos de ‘salvação’ e que iremos queimar no inferno. Nós respeitamos a outras religiões da mesma forma que todos devem ser respeitados”, comenta.
 
A mãe de santo lembra que a discriminação era ainda maior tempos atrás, e credita a diminuição da intolerância no papel atuante de veículos midiáticos. Ela conclui declarando: “Luto pelo fim da intolerância religiosa e ensino meus filhos a fazerem o mesmo. Respeito à liberdade de crença é um direito de cada um. E, o importante mesmo é ser o que se é”, conclui.

 
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