24 de agosto, de 2011 | 00:05
Pai relata drama, após tragédia
Tudo o que foi feito com a minha filha Letícia foi feito pelas mãos de Deus”, afirma pai de bebê
IPATINGA É um sentimento que não dá para explicar”. É dessa forma que o representante comercial Hermes Chaves Bonfim Filho, de 38 anos, define a sua alegria em ter nos braços a filha Letícia Lima Bonfim, de pouco mais de um mês de idade. Ela ganhou alta médica no Hospital Márcio Cunha na sexta-feira (19).
A menina foi baleada na cabeça durante uma chacina ocorrida da rua Baruc, entre os bairros Canaã e o residencial Ayrton Senna, em Ipatinga. Letícia foi atingida durante a ação violenta do pedreiro Vantuil Luis Soares, 41 anos, que invadiu a casa dos familiares da criança. Vantuil tentava convencer a ex-namorada Malvina Souza Lopes Pena, 33, a reatar um relacionamento que durou três anos.
Diante da negativa, ele atirou na ex e ainda matou o irmão dela, Júnio de Lima e Souza, 23 anos, e na ex-cunhada Elizabeth Ferreira Lima Bonfim, 29, mãe de Letícia. O rapaz fugiu e em seguida se matou em Pingo DÁgua com um tiro na cabeça.
Hermes recebeu a reportagem do DIÁRIO DO AÇO, na tarde desta terça-feira (23) para falar sobre as mudanças na sua vida depois do crime que chocou a região.
DIÁRIO DO AÇO - Como é ter a criança de volta em casa?
HERMES CHAVES - É um sentimento que não dá para explicar. Desde o momento em que ocorreu a tragédia eu a coloquei nas mãos de Jeová Deus e de Jesus Cristo e pedi a Eles que fizessem a vontade deles. Embora com aquela dor toda de ter perdido a minha mulher Elizabeth, minha cunhada Malvina e meu cunhado Júnio e depois receber a notícia dos médicos de que minha filha poderia não resistir e na sexta-feira (19), sair com ela nos braços foi reconfortante. A primeira coisa que eu fiz foi ajoelhar no corredor do Hospital Márcio Cunha e agradecer a Deus por tudo que fez por ela. Lembro-me das palavras do médico que disse que a gente está dando uma ajuda, porque o Deus que você confia está fazendo tudo por ela. Hoje ela está em minha casa, se alimentando bem, e por mais que eu viva pra sempre que é a esperança que a Bíblia me dá, eu nunca vou poder gratificar a Deus por ele ter feito isso pela Letícia.
DA - Quem toma conta da Letícia hoje?
HERMES CHAVES - Diretamente quem toma conta sou eu. Tenho que seguir com a minha vida com as minhas duas filhas que ficaram, a Letícia de 45 dias de vida e a Alice de 2 anos. Quero dar banho, cuidar da alimentação e dos medicamentos. Estou recebendo a força de amigos e da família que nunca me deixam sozinho. É minha responsabilidade e eu as amo muito.
DA - Quais são os planos para o futuro?
HERMES CHAVES - Na verdade eu tenho que tocar a minha vida e retornar ao trabalho, no qual estou afastado, devido a essa fatalidade. Os planos que eu tenho para a Letícia e para a Alice é amá-las demais e cuidar bem delas. E a minha esperança na ressurreição é muito grande de um dia rever a mãe delas, o meu cunhado Júnio e a minha cunhada Malvina que é a tia Nêga delas, como a costumavam chamar.
DA - A que você atribui o fato de a criança ter sobrevivido?
HERMES CHAVES - Primeiramente atribuo a Jeová o Deus todo poderoso e a Jesus Cristo, seu filho. Não existe outra explicação, pois tudo o que foi feito com a Letícia foi feito pelas mãos de Deus. E depois, ao carinho e a competência dos médicos e toda a equipe de saúde do Hospital Márcio Cunha e as orações que tanto os amigos, quanto os familiares, pediram a Deus.
DA - Na hora dos tiros, procede a informação de que a Letícia estava no colo da mãe?
HERMES CHAVES - A Elizabeth estava amamentando a Letícia e, ao ver que o suspeito invadiu a casa, e atirou na Malvina e no Júnio, ela colocou a Letícia em cima da cama e em seguida recebeu um tiro na barriga e logo após ela o viu atirar na cabeça da menina.
DA Todos moravam na mesma casa, onde ocorreu a tragédia?
HERMES CHAVES Não. Em minha casa morávamos eu e minha mulher, Elizabeth, as filhas, Alice e Letícia e meu cunhado Júnio, que adotamos como nosso filho. A minha cunhada, Malvina, estava visitando a irmã dela.
DA - No seu entendimento está tudo apurado?
HERMES CHAVES - Segundo a Polícia Civil o inquérito ainda não está encerrado, mas só que particularmente, eu não quero mais nenhuma informação a respeito deste triste fato. O pior de tudo já ocorreu, eles me tiraram bruscamente a minha mulher, meu cunhado e minha cunhada e fizeram uma tamanha covardia com a minha filha Letícia, de apenas 25 dias. O caso já está entregue, principalmente, nas mãos de Deus.
DA - O que você sabe do dia do crime? Presenciou algo?
HERMES CHAVES - Na manhã do dia 2 de agosto eu saí para trabalhar e sempre mantive a porta de minha casa fechada, não que elas haviam recebido qualquer tipo de ameaça. O suspeito demonstrava ser uma pessoa fria e que nunca demonstrava ser o monstro que ele foi logo depois. Eu estava trabalhando no bairro Cidade Nobre, em Ipatinga, quando recebi uma ligação de minha mulher dizendo que o Vantuil havia chegado em casa e que eu fosse para lá e não demorasse. E, ainda no telefone, eu a escutei dizer à irmã: O Neguinha não abre a porta ainda não, espera o Hermes que ele está chegando. Em questão de minutos o fato ocorreu. A ligação foi às 9h30 e, quando eu estava chegando em casa, encontrei com ele já descendo a rua em alta velocidade. Eu pensei, o Vantinho deve ter discutido pesado com a Neguinha e deve estar nervoso, e não imaginava nunca que ele teria cometido aquilo. Quando eu estacionei a moto e abri a porta de casa deparei com esta tragédia toda.
DA - A família já tem informações sobre quem era a pessoa que estava no carro com Vantuil?
HERMES CHAVES - Não. A gente suspeitava que existisse outra pessoa que o acompanhava, mas isso já foi comprovado que não procede. Eu cheguei a ver ele no carro sozinho.
Amigos se mobilizam para ajudar família de Letícia
Familiares e amigos promovem uma campanha de arrecadação para ajudar a família de Hermes Chaves. Eles solicitam leite em caixinha, Nestogeno tipo 1, além de fraldas tamanhos M e G, e produtos de higiene pessoal para a bebê Letícia Bonfim, além de cesta básica.
O QUE JÁ FOI PUBLICADO:
Bebê sobrevivente da chacina ganha alta - 20/08/2011
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]