
26 de junho, de 2011 | 00:00
Sustentabilidade: a bola da vez!
Especialista defende a minimização da produção de resíduos sólidos
IPATINGA - Começa a vigorar, em dezembro próximo, uma lei que determina aos estabelecimentos comerciais do município a substituição das tradicionais sacolas plásticas por embalagens biodegradáveis ou reutilizáveis para o acondicionamento de produtos e mercadorias.
O DIÁRIO DO AÇO entrevistou o professor do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (Unileste-MG) e mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Marcílio Cardoso, que falou sobre a iniciativa e aproveitou para explicar alguns aspectos relacionados com os resíduos sólidos em geral.
DIÁRIO DO AÇO O tema sustentabilidade está na pauta do dia e as empresas e autoridades têm se esforçado para criar mecanismos a fim de evitar os impactos ambientais. Um exemplo disso é a recente lei que tem por objetivo proibir o uso das sacolinhas” plásticas, que deverão ser substituídas por embalagens biodegradáveis ou reutilizáveis. Qual seu posicionamento sobre essa medida?
MARCÍLIO CARDOSO - A ação é extremamente positiva, visto que as sacolas, além de serem de difícil degradação - o que gera um passivo ambiental nos locais de destinação final do lixo -, levam para os aterros contaminantes inerentes às impressões coloridas. Esses contaminantes, quando sujeitos à ação do chorume existente nos vazadouros de lixo, são removidos e transportados muitas vezes para o solo e aquíferos. E mais, o fato de embalarmos todo o nosso resíduo em sacolinhas”, quando no corpo do aterro, esse resíduo pode apresentar-se imobilizado à decomposição bioquímica pelo plástico que o protege da ação dos microrganismos ali presentes. Tal situação retarda a decomposição dos resíduos, agravando o passivo ambiental nos locais de disposição final de resíduos sólidos urbanos.
DIÁRIO DO AÇO - O plástico, atualmente, é um material amplamente utilizado na fabricação de uma infinidade de produtos. A proibição das sacolas resolve o problema?
MARCÍLIO CARDOSO - Isoladamente não, mas a ação tomada trará grandes avanços, visto que, de todos os polímeros desse tipo, esse talvez seja o que é descartado com maior intensidade no meio ambiente pela sociedade.
DIÁRIO DO AÇO - Quais seriam as alternativas viáveis e mais eficientes para solucionar a situação dos resíduos sólidos?
MARCÍLIO CARDOSO - A gestão moderna de resíduos preconiza, primeiramente, a minimização na geração desses resíduos. Contudo, uma vez gerado o resíduo, devemos atuar no sentido de buscar inseri-lo em outro processo produtivo, minimizando a exploração de recursos naturais não renováveis e a emissão de poluentes no meio ambiente. Um exemplo clássico desse processo é verificado na aplicação de escória siderúrgica na produção de cimento. Hoje é quase impossível comprar uma saca de cimento no Brasil, sem que esse produto tenha sido produzido a partir da utilização de escória siderúrgica como matéria-prima. Trata-se da chamada política de co-produtos”, a qual já é amplamente adotada pelas grandes empresas do mundo, inclusive, as da nossa região.
DIÁRIO DO AÇO - Uma discussão que surge é se o poder público e as empresas estão realmente munidos de boas intenções relacionadas ao meio ambiente ou se tudo isso não passa de um mecanismo para conquistar os consumidores/eleitores. O que você pensa sobre isso?
MARCÍLIO CARDOSO - O Brasil amadureceu muito nas últimas décadas sobre a questão ambiental. Acabamos de aprovar, no Congresso, a nova Lei Nacional de Resíduos Sólidos, a qual vai nos garantir um avanço significativo na questão da gestão de resíduos sólidos no país. Estamos no caminho certo.
DIÁRIO DO AÇO - Qual sua avaliação sobre o sistema de reciclagem vigente no país?
MARCÍLIO CARDOSO - Começou errado, com um sistema de coleta seletiva que exigia muito da população, quando preconizava a separação detalhada de resíduos nos domicílios (separar vidro de papel, de plástico, de matéria orgânica, etc). Isso não cabe no dia a dia da dona de casa brasileira, nem tão pouco se adequa à nossa realidade socioeconômica. Agora, recuamos um pouco, pedimos à população que faça apenas a separação do lixo seco do molhado, para uma posterior separação em local adequado e, nesse caso, os primeiros resultados são animadores.
DIÁRIO DO AÇO - Quais são os elementos poluidores mais prejudiciais ao meio ambiente?
MARCÍLIO CARDOSO - O Brasil começou a tratar os problemas ambientais preocupando-se com a poluição dos recursos hídricos; depois, passamos a nos preocupar com a poluição atmosférica. Agora, nos preocupamos com a questão dos resíduos sólidos. Trata-se de um processo evolutivo absolutamente natural que estamos passando, mas caminhando na direção certa. Ficamos muito tempo adormecidos para as questões ambientais e isso gerou um passivo ambiental muito grande que vai demorar um pouco para ser tratado, mas o que importa nesse momento é não recuarmos e continuarmos caminhando.
Para empresária, lei terá impacto negativo na geração de empregos
DA REDAÇÃO - As recentes medidas criadas para conter a produção de resíduos sólidos são, comprovadamente, benéficas ao meio ambiente, mas não agradam a todos.
A sócia-proprietária de uma fábrica de embalagens de Belo Horizonte, com atuação no Vale do Aço, Maria do Rosário Bretas, contesta a legislação que determina a substituição das tradicionais sacolas plásticas por recipientes biodegradáveis ou reutilizáveis.
A representante do setor acredita que está havendo uma inversão de valores. Eles colocam o plástico comum como a pior coisa do mundo, o que, de fato, não é verdade. As tradicionais sacolinhas que são as que recebem mais defeitos, são, inclusive, as mais usadas para a reciclagem. Esse modelo biodegradável que defendem chega a ser até 10 vezes mais caro e não é reutilizável. Acho até que, por usar materiais mais pesados na sua fabricação para acelerar a decomposição, seja mais prejudicial ao meio ambiente”, avalia Maria do Rosário.
Ainda segundo a empresária, existe uma implicância” com as sacolas plásticas que não se justifica. Se a gente parar para pensar, a maioria das coisas tem plástico na sua composição. Um exemplo é o nosso vestuário. Dos óculos à sola dos sapatos usa-se plástico. Já fizemos pesquisas e as sacolinhas são responsáveis por apenas 1,29% do lixo total produzido. Por que, então, cismam somente com as sacolas plásticas? Será que o problema é com as alças?”, ironiza a empresária.
Impactos
Maria do Rosário alega que a medida pode gerar impactos socioeconômicos negativos. Com a proibição, a geração de empregos será afetada. Somente em Minas Gerais, o ramo de embalagens emprega cerca de 30 mil pessoas. A população mais carente também vai ser afetada. Hoje, essas pessoas reutilizam as sacolas dos estabelecimentos para colocarem seus lixos. Com a medida, passarão a ter que comprar sacos de lixo e, querendo ou não, é um gasto a mais no orçamento”, explicou.
Solução
Como solução, a empresária defende que as ações de conscientização e educação ambiental deveriam ser intensificadas. Ao invés de criar leis proibitivas, acho que o é necessário um maior investimento em reciclagem. Deveriam criar mais programas para conscientizar a população”, finalizou Maria do Rosário. (VT)
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