10 de junho, de 2011 | 00:00
Ipatinga é uma cidade sob risco geológico, aponta estudo
Análise prévia identifica predominância de áreas de alto e médio risco
IPATINGA - O município de Ipatinga apresenta uma grande similaridade geológica com a região serrana no Rio de Janeiro. É fundamental que a sociedade atente para essa questão do uso e ocupação do solo. Caso contrário, poderá enfrentar tragédias naturais do mesmo vulto das que ocorreram no ano passado em Petrópolis e Teresópolis”. A declaração do coordenador do Núcleo de Meio Ambiente da Fundação Gorceix, professor Wilson Guerra, resume o diagnóstico técnico parcial realizado pela instituição para fundamentar a atualização do Plano Diretor e implementação das leis complementares de Ipatinga. Segundo o cronograma dos trabalhos, a conclusão do processo está prevista para o mês de outubro.
Composto por uma apresentação de 52 slides, a reportagem do DIÁRIO DO AÇO teve acesso ao material prévio que elenca os principais problemas geológicos existentes no município. Dentre eles destacam-se loteamentos irregulares, mineração em áreas urbanas, processos erosivos, lançamento de esgoto em córregos, permeabilização de fundos de vale e construções em Áreas de Preservação Permanente (APP).
Ainda de acordo com as análises, o solo da região possui textura arenosa/argilosa. Este tipo de solo tem uma elevada vulnerabilidade às erosões, principalmente quando expostos à ações antrópicas (advindas de ações do homem na natureza, como cortes de morro), como tem ocorrido por exemplo, no distrito de Barra Alegre, onde a forte declividade, presença de solo inconsistente e ocupação desordenada colocou a área em alto risco geológico”, explica por telefone o representante da Fundação Gorceix, Wilson Guerra.
Sobre as demais áreas de risco do município, o relatório parcial revela informações alarmantes para o desenvolvimento urbanístico da cidade. Dada sua morfologia, temos em Ipatinga a predominância de morros com áreas altas e baixas. O que contribui grandemente para o perigo de deslizamentos de terra e alagamentos nos períodos de chuvas. Diante disso, constatamos que grande parte das edificações está solidificada em áreas de alto ou médio risco. Despertar a consciência da população e o compromisso do poder público é fundamental para garantir um desenvolvimento sustentável que amenize o que já foi feito de errado e evitar que novas irregularidades voltem a acontecer”, completa Guerra, professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais.
Moradora convive com risco há 25 anos
IPATINGA - Moradora do bairro Bom Jardim há 25 anos, a dona de casa Elquimonia da Silva Dutra é o retrato de milhares de pessoas que vivem nas áreas de risco de Ipatinga. Ganhei esse terreno por meio de um programa habitacional da prefeitura. Naquele tempo a gente só queria mesmo um lugar para morar. Enquanto Deus nos livrar dessas desgraças que assistimos na televisão, continuaremos aqui. Afinal de contas, nós não temos outra saída”, afirma Elquimonia. A dona de casa revelou já ter visto vizinhos perderem tudo com a força da enxurrada que cai durante os períodos de chuva. Meu vizinho teve uma parte da casa destruída por um deslizamento de terra. É algo que não temos controle. Está nas mãos de Deus mesmo”, acredita.
A situação vivida pela moradora pode ser um exemplo de situações que precisam ser evitadas a partir da discussão das leis complementares ao Plano Diretor de Ipatinga, entre elas, a Lei de Uso e Ocupação do Solo e Código de Obras.
Acompanhamento
Procurado pela reportagem, o responsável pela Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Ipatinga, Walter Freitas de Moraes Júnior, comentou o problema de ocupação desordenada destas áreas de risco. Isto está relacionado ao processo histórico de ocupação do município. Justamente para se evitar que novas irregularidades aconteçam, o Ministério Público acompanha todas as etapas dos trabalhos de atualização do Plano Diretor e implementação das leis complementares”, citou.
Ainda segundo o representante do MP, o envolvimento da sociedade nas discussões da revisão do Plano Diretor tem sido satisfatório, como tem sido observado nas audiências públicas, realizadas inclusive com o envolvimento do poder Legislativo. Esperamos que ao final destes trabalhos, a Prefeitura apresente as leis complementares para serem votadas pelos vereadores. Somente a partir disso poderemos pensar o futuro habitacional e urbanístico de Ipatinga”, conclui o promotor.
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