05 de dezembro, de 2010 | 00:25

Carne de porco em alta

Especialista explica as vantagens e os tabus relacionados ao seu consumo

Arquivo Asemg


SUINOS CRIAÇÃO

IPATINGA – A alta do preço da carne bovina percebida nos últimos meses está fazendo com que os consumidores busquem alternativas mais viáveis economicamente para o complemento da alimentação diária. Uma opção tem sido a carne de origem suína, que sofreu menos com inflação. Contudo, esse tipo de alimentação ainda não é tão difundido quanto a tradicional carne de boi, ingrediente tão comum nas refeições diárias. As pessoas têm certo bloqueio em relação à carne de porco.
A qualidade do produto é envolta de tabus e mitos milenares, conforme contou com exclusividade ao DIÁRIO DO AÇO o professor adjunto em Gastroenterologia da Universidade de São Paulo (USP) e chefe do serviço de endoscopia do Hospital Albert Einstein (SP), Arnaldo José Ganc.
O médico esteve em Ipatinga na última segunda-feira (29), quando ministrou uma palestra com o tema “A Importância da carne suína na alimentação humana”, ocorrida no salão de eventos do hotel San Diego, no bairro Horto. Na ocasião, Arnaldo Ganc apresentou as vantagens do consumo da carne suína em relação a outros tipos, esclarecendo sobre os preconceitos com a alimentação oriunda do porco.
Segundo o gastroenterologista, a repulsa dos consumidores à carne suína tem origens históricas, religiosas e místicas, que acabaram por exercer influência no inconsciente popular. “O preconceito vem desde uma época anterior a Jesus Cristo. Para os judeus, por exemplo, a carne de porco era considerada imunda, sendo proibido inclusive tocar no cadáver do animal. Já os muçulmanos alegam que quem consumir tal carne perderá o direito ao paraíso. Na verdade isso são crendices que foram difundidas ao longo dos tempos que, com certeza, influenciaram no atual consumo do produto”, avalia.
Ele disse que não existe uma explicação concreta sobre os reais motivos para a proibição por parte dessas religiões, mas que existem estudos que apontam para a possibilidade da interferência da localização geográfica que esses povos ocupavam naquela época. “Aquelas pessoas, naquele tempo, viviam numa área desértica, com calor intenso, que poderia não ser o ideal para a produção de porcos”, comentou.
 
Ainda como influência histórica, o professor falou sobre o consumo da carne suína nas sociedades clássicas (Roma Antiga e Grécia). Naquele período, as carnes de porco e javali eram presença certa nas festas de gregos e romanos, ocasiões famosas pelos excessos, com fartura de comida, orgias e bebedeiras. Contextualizando com a atualidade, o médico falou sobre um prato tipicamente brasileiro: a feijoada. “Você pode ver que em dia de feijoada, que é uma comida basicamente feita com carne suína, sempre é uma mesa farta, uma comida pesada e muita animação”, exemplificou.
Outra questão que deixa nítida a rejeição é ligada aos aspectos linguísticos. “A gente percebe que tudo de ruim é ligado a porco. Se a pessoa come muito, ‘comeu igual a um porco’; se está suja, ‘suja como um porco’; sofrendo com o calor, ‘suado igual um porco’, se apronta, ‘é um espírito de porco’, se o produto é de má qualidade, ‘uma porcaria’, e por aí vai. Isso demonstra que o preconceito já está embutido no inconsciente popular”, explica.
 
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SUINOS ARNALDO

Nutritiva, a carne suína tem  menor taxa de colesterol
Para o especialista Arnaldo Ganc o preconceito é um aspecto cultural e a falta de conhecimento é generalizada, tanto por parte da população como na própria comunidade médica. Segundo o gastroenterologista, apesar da existência de uma serie de tabus, a carne suína é muito mais nutritiva em relação a outras carnes vermelhas. 
“É normal a associação da carne de porco à gordura. O que as pessoas não sabem é que a taxa de colesterol do produto de origem suína é inferior ao da carne de boi e muito menor do que a de frango. Na carne suína, a gordura fica na parte mais externa, formando uma espécie de capa que pode ser retirada, enquanto que na de boi fica entranhada na carne.
De acordo com ele, com o tempo, a quantidade de gordura foi diminuindo, graças às mudanças no sistema de criação. O professor disse que antes, o abate era feito quando o animal tinha 500 kg e apresentava uma capa de gordura de 20 cm; hoje, devido à evolução do aparato tecnológico, aprimoramentos genéticos e novas formas de alimentação, o animal é abatido aos seis meses, com 100 kg e com uma capa de gordura de 5 cm.
Quanto ao teor alérgico, Arnaldo diz que ela é tão alérgica quanto qualquer outra carne vermelha, mas bem menos do que peixes e frutos do mar. Também é difundido sobre a utilização de hormônios e antibióticos nas criações de suínos. O médico disse que isso é proibido por lei e que atualmente, a base da alimentação desses animais é soja e milho.
 
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SUINOS

 
Cisticercose
Outra questão associada à carne suína é relacionada à contaminação por cisticercose, doença provocada pela ingestão de ovos da Taenia solium, no qual os suínos funcionam como hospedeiros intermediários. Ganc considera que “hoje as condições higiênicas da produção evoluíram significativamente e que a ocorrência de cisticercose é mínima”. E acrescenta: “Estudos mostram que a cada cinco milhões de suínos abatidos, um apresenta cisticercose. É importante lembrar que o porco não transmite a doença para o ser humano. É o homem que transmite para o porco através da contaminação da área de criação por coliformes fecais. A Taenia é parasita humana”.
Produção
O médico disse que o Brasil ocupa hoje a posição de 4º maior produtor e também 4º maior exportador de carne de porco do mundo, embora o consumo seja muito menor do que em outros países: na Áustria, por exemplo, o consumo per capita é de 70 kg por ano; no Brasil, 12 kg. Ele ainda destacou o papel da carne suína no agronegócio brasileiro, uma vez que a cadeia de produção envolve cerca de 1 milhão de pessoas. No Brasil, os estados federativos com maior produção são Santa Catarina, Minas Gerais e São Paulo.
Palestra
A palestra “A Importância da carne suína na alimentação humana”, na qual Arnaldo Ganc foi o protagonista, foi organizado pelo curso de Nutrição da Faculdade Pitágoras em parceria com o Sebrae. O evento contou com a participação de 170 pessoas, sendo que o público foi composto, principalmente, por estudantes e demais profissionais da área de saúde. A coordenadora do curso de Nutrição da Faculdade Pitágoras, Mariane Oliveira Costa, avaliou positivamente a experiência, uma vez que o tema ainda é desconhecido pela grande maioria, considerando que foi bom para esclarecedor e desmistificar os aspectos que envolvem a carne suína.
 
Asemg


CARNE ASSADA
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