17 de agosto, de 2010 | 22:30

Os efeitos da propaganda eleitoral gratuita

Para cientista político a contestada propaganda política no Rádio e na TV tem papel fundamental no processo eleitoral: firmar a posição dos candidatos

Alex Ferreira


PAULO DA ROCHA DIAS

Com alterações
DA REDAÇÃO - Professor de Teoria Política para a Comunicação Social na Universidade Federal do Mato Grosso, o doutor em Comunicação Social Paulo da Rocha Dias afirma que a propaganda política no rádio e, principalmente na TV, é de grande importância no processo eleitoral. Ela não muda os resultados, mas firma a  posição dos candidatos, pois divulga os nomes e desperta no eleitor tendências que já existem. 
O professor, que já lecionou no Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (UnilesteMG), em Coronel Fabriciano, concedeu ao DIÁRIO DO AÇO, por meio eletrônico, a seguinte entrevista:

DIÁRIO DO AÇO – Até que ponto a propaganda no rádio e na TV influencia o eleitor?
PAULO ROCHA: Há três possibilidades: o eleitor muda de ideia, acontecimento a que se dá o nome de conversão e acontece em nível muito baixo, ou o sujeito confirma ainda mais sua opção e, a terceira possibilidade, o sujeito tem despertadas as predisposições latentes. Uma das características da política moderna é justamente o fim do espaço público tradicional. O “príncipe” hoje, o espaço público hoje, é a TV. Ela é o “príncipe eletrônico”.

DA – A campanha eletrônica assumiu outros espaços?
PAULO ROCHA – Em termos nacionais é a TV que conduz a campanha. No horário gratuito ou nos atos intencionais para “aparecer” na TV. Você percebe que ninguém faz comícios mais? O candidato vai à bienal e chama os repórteres, dá uma palestra e chama a imprensa, vai dar uma entrevista e faz uma megacampanha audiovisual.

DA – Mas esse “show” convence?
PAULO ROCHA - É muito difícil convencer. Uns 6% dos eleitores eventualmente são convencidos pela campanha. A exposição, mesmo às ideias opostas, confirmam ainda mais a opção que o eleitor já tem. Mas há os indecisos. No fundo, eles têm uma tendência a se deixarem levar pela campanha. O importante é despertar esta tendência, esta predisposição que está ali, dormindo latente no eleitor. Os produtores sabem disso e é para estes que se faz tudo na propaganda eleitoral gratuita.

DA – Como o senhor vê a expectativa que o horário eleitoral gratuito vai “virar” resultados de pesquisas? Isso tem sido falado insistentemente na campanha ao governo de Minas.
PAULO ROCHA - Sempre se fala isto, mas nem sempre acontece. O que pode “virar” uma eleição é um fato novo, um fenômeno de sociedade de massa, algo que possa fazer as pessoas convergirem naturalmente para o mesmo ponto. Mas a campanha no rádio e na TV, por si só, seria muito difícil de provocar esta reviravolta.

DA – Nesse contexto, então, o senhor considera importante o horário eleitoral gratuito?
PAULO ROCHA - Não é só importante. É fundamental. Uma candidatura ou uma não candidatura, como a de Ciro Gomes, foi decidida com base no tempo disponível na TV. Um segundo a mais ou menos do tempo do adversário conta muitíssimo. É o lugar da visibilidade do candidato. E, sem visibilidade, o sujeito é um desconhecido, e ninguém vota numa figura que não existe.

DA – Na entrevista que o DIÁRIO DO AÇO fez na rua, vê-se que o telespectador reclama e diz que não vai acompanhar o horário político. Como o senhor avalia essa resposta?
PAULO ROCHA - O sujeito reclama, mas é como reclamam dos programas populares. Reclamam, mas não perdem um. Todo mundo lembra do “meunoménéias”, todo mundo lembra do “primeiro sutiã”, todo mundo lembra do “deixa o homem trabalhar”.
As pessoas são contagiadas pelo jingle da campanha. Há peças primorosas, há debates calorosos, sobretudo, quando se fala de “temas” e não só de programas de governo. Na verdade, a comunicação política via TV não fica apenas na TV, ela completa o círculo e cai de novo nas relações interpessoais, vai da TV para o boteco, da TV pra cozinha, da TV para o refeitório, para o trabalho, e aí é que acontece a eficácia da propaganda política.
LUCAS PRATES/JORNAL HOJE EM DIA


HORÁRIO ELEITORAL GRATUITO
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