28 de abril, de 2010 | 23:00

Ipatinga 46 anos: “Não imaginava Ipatinga assim”

Aposentado tido como “enciclopédia ambulante” revela histórias do município

Wôlmer Ezequiel


JOAQUIM ALEXANDRE

IPATINGA – Foi há pouco mais de 50 anos. Ipatinga era apenas um vilarejo conhecido como Horto de Nossa Senhora. Na época, existiam apenas 60 casas e aproximadamente 300 habitantes. Na década de 50, um grupo de idealizadores percebeu que a indústria siderúrgica seria essencial para o desenvolvimento do país, que passava por um período de mudança capitaneado por JK. Articulou-se, então, um importante movimento para viabilizar a implantação da primeira grande usina siderúrgica de Minas Gerais. Em 1956, foi lançada a pedra fundamental da Usiminas e, poucos anos mais tarde, em 1964, a população já existente viu o pequeno vilarejo ser emancipado.
No dia em que são comemorados os 46 anos de Ipatinga, a reportagem do DIÁRIO DO AÇO ouviu personagens que viram de perto a rápida evolução da cidade. O aposentado Joaquim Alexandre, 82, faz parte desse grupo. Um dos moradores mais antigos do Centro, Joaquim vive em uma casinha simples na rua Diamantina, 43. O aposentado é conhecido por muitos como “enciclopédia ambulante”, por conhecer detalhes da trajetória da cidade. E é um pouco dessa história que o aposentado revelou à reportagem.

Belgo
Seu Joaquim, como é chamado, saiu de São Domingos do Prata em 1957, quando decidiu morar em Ipatinga para trabalhar na antiga Belgo-Mineira. Aqui o aposentado se casou, criou filhos adotivos e viu netos e bisnetos crescerem. Depois de ter trabalhado na Belgo, foi funcionário de uma empreiteira na Usiminas em 1961, cuja construção já estava a todo o vapor. Por lá ficou quatro anos. “Naquela época, isso aqui não era nada. Ao redor de onde eu morava era pasto. Não imaginava que Ipatinga seria assim algum dia”, diz.
Um dos detalhes que o aposentado não esquece era o atendimento à saúde. “Quem dava assistência de saúde eram as irmãs de caridade, a quem a gente respeitava muito. Hoje, fazem piadas com as freiras. Naquela época isso era proibido. Mas hoje as coisas mudaram”, compara. 
E aos poucos o aposentado viu o pequeno vilarejo crescer. Ele ainda se recorda da época em que os japoneses vieram para a cidade e de como as pessoas ficavam curiosas para saber o que eles pretendiam aqui. “Eles chegaram em 1958. Primeiro, foram para Governador Valadares, de onde receberam a informação de que Ipatinga era uma área boa para indústria. Eu lembro que eles colocavam uma lona no chão onde é a Praça 1º de Maio, para fazerem as suas reuniões. A gente chegava perto, mas não entendíamos nada do que eles falavam. Mas depois ficamos sabendo do que se tratava”, relata.   

Governantes
Para o aposentado, são muitas as lembranças que não saem da memória. Ele cita, por exemplo, que a Prefeitura era do lado de sua casa e que via toda a movimentação dos administradores da cidade. “Como aqui não tinha espaço, as reuniões para tomarem as grandes decisões eram feitas também na Praça 1º de Maio. Esta praça foi palco de toda a emancipação da cidade. Eu lembro disso como se fosse hoje. Se eu fosse ficar falando do passado, passaria horas falando sobre Ipatinga”, diz para a equipe de reportagem.
Joaquim Alexandre afirma que nunca poderia imaginar que a cidade algum dia pudesse ser conhecida no país e no mundo. Para ele, uma das obras que mais lhe chamou a atenção foi a construção do Ipatingão. “Aquilo lá era um buraco muito mais profundo e tinha um lago. Para fazer aquele estádio, tiveram que drenar e transferir a água para o Parque Ipanema, onde é aquela lagoa hoje. E depois aterraram e levantaram o estádio. Aquela obra é uma perfeição”, considera, acrescentando sua admiração pelo ex-prefeito João Lamego Neto: “Ele foi o melhor prefeito que tivemos. Um homem de coragem, que fez a cidade. E hoje ninguém dá valor a ele”, opina.
Mesmo com a idade avançada, o aposentado quer ver ainda grandes obras serem realizadas no município, como a construção de uma nova rodoviária e de um hospital municipal. “Ipatinga tem uma renda muito grande e poderia ser melhor do que é hoje. Quero ainda ver um hospital de verdade, e não um pronto-socorro que mais parece um shopping, de tanta gente que vem de fora”, concluiu o aposentado.
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