05 de abril, de 2010 | 18:16
Plantas medicinais exigem todo cuidado
Uso incorreto pode agravar problemas de saúde e causar até a morte
IPATINGA Quase todo mundo já ouviu falar de alguma planta, folha, casca, raiz ou flor medicinal, capaz de aliviar os sintomas de um resfriado ou de mal-estar. Semente de Amburana para curar cólicas menstruais, Cipó Cravo para impotência sexual e Casca de Paratudo para fígado, intestino e verme. São essas e mais de 100 raízes que o vendedor ambulante, Geraldo Gonçalves de Araújo, tem em sua barraca para vender.
O ambulante explica que a crença de que todas essas plantas são usadas para curar doenças veio da sua avó, quando ele ainda era menino. Eu nasci no meio do mato e aprendi com a minha avó tudo que sei sobre plantas medicinais. Acredito no poder das plantas e recomendo”, disse.
Só de raízes, a barraca de Geraldo possui mais de 50 espécies, além de sementes e folhas. A quantidade é tão grande que, para achar, só conhecendo. O problema é encontrar a planta. Se o vendedor não conhece, pode vender errado”, explica. As raízes mais vendidas são as folhas de Arnica para curar feridas, Chapéu de Couro e Casca de Jatobá, ambas indicadas para anemia e limpeza do sangue (depurativos). Eu acredito que os chás das plantas têm seu poder”, considera a dona de casa Zenilda Souza, 55.
O vendedor reconhece que as plantas possuem efeitos colaterais e podem até provocar a morte caso sejam recomendadas de forma incorreta. Se a pessoa não sabe o que tem, mando ir ao médico. Não saio vendendo se o cliente não sabe o que tem. Essas plantas têm que ser usadas com as mesmas recomendações médicas”, pondera o raizeiro.
Conforme a indicação do vendedor, todas as plantas são fervidas para depois serem ingeridas. Mas a ciência comprovou que, nem sempre, o jeito mais tradicional de preparar chás de plantas medicinais é o que tem os melhores efeitos para o tratamento.
Cuidados
Por causa disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária decidiu publicar a maneira mais correta para fazer isso. O chá de alho, por exemplo, usado como expectorante, é preparado com água fria e não quente como o costume. A indicação da Anvisa é que as folhas medicinais devem ser sempre cozidas e não fervidas.
A Anvisa divulgou uma tabela com mais de 60 drogas vegetais e a forma correta de preparar cada uma delas. A Agência destaca que a ação terapêutica desses fitoterápicos é totalmente influenciada pela forma de preparo.
A Arnica, citada na reportagem, deve ser preparada em infusão com 1 colher de sopa em 150 ml de água. Aplicar a compressa na área a ser tratada de 2 a 3 vezes ao dia. O Chapéu de Couro é feito da mesma forma que o chá de Arnica. E usado para inchaços.
As folhas jovens de Goiabeira são indicadas para diarréia não infecciosa. O chá deve ser usado sempre após a evacuação. Já para prisão de ventre, o fruto de Sene é bem indicado. Ele deve ser consumido antes de dormir.
Venda sem indicação
A farmacêutica Luciana Flávia Teodora, da Vigilância Sanitária de Ipatinga, explica que os estudos sobre as plantas medicinais vieram da sabedoria popular, mas é preciso comprovar os efeitos e a forma de utilizar a planta. Não se pega o mato e simplesmente se faz o chá. Tem as partes da planta correta. Tem plantas que o princípio ativo está melhor na forma fresca, e tem outras que é melhor quando ela está seca”, explica a farmacêutica.
A especialista ressalta que os medicamentos fitoterápicos podem ser comercializados desde que não haja indicação. Já os que possuem em sua embalagem a indicação devem constar também um número de registro do Ministério da Saúde. Dos produtos hoje no mercado, a empresa tem o registro. Mas cada produto em específico não precisa do registro. Se você pegar uma caixa de qualquer tipo de chá, verá que ele não é registrado. A partir do momento que coloca qualquer indicação, informação do tipo bom pra dor de cabeça”, isso já é uma indicação terapêutica e o produto precisa estar registrado”, finaliza a farmacêutica.
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