03 de abril, de 2010 | 20:40
HMC aumenta em mais de 100% o número de transplantes renais
Em oito anos, Márcio Cunha realizou 194 intervenções cirúrgicas
IPATINGA O Hospital Márcio Cunha detém o status de o segundo maior Centro de Transplantes de Rim em Minas Gerais. Em 2008, o HMC realizou 18 transplantes e, no ano passado, totalizou 41 procedimentos, consolidando a invejável conceituação no plano estadual. Desde 1992, quando a instituição passou a realizar transplantes em pacientes com Insuficiência Renal Crônica, são contabilizadas 194 cirurgias.
Um dos casos mais recentes é o de Júlia Gabriela Franco dos Santos, 9 anos, que ficou um ano e meio na fila de espera por um rim. Ela tinha o doador, o próprio pai. Mas, devido à idade, a cirurgia não podia ser realizada de pronto porque a menina iria receber o órgão de um adulto.
Os médicos decidiram então estender a fase preparatória, para assegurar êxito no transplante. Júlia foi submetida a uma série de tratamentos terapêuticos até atingir o momento adequado para a intervenção. A garota recebeu um novo rim na semana passada e conta como foram as primeiras emoções pós-cirurgia. A primeira coisa que eu queria fazer era beber bastante água, coisa que eu não podia fazer quando estava em tratamento. Agora, quero saber se já posso comer de tudo”, comemora.
Em 2006, o MG Transplantes dividiu o Estado em seis regionais, entre elas a Leste, que compreende, além do Vale do Aço, as cidades de Governador Valadares, Manhuaçu, Teófilo Otoni e Caratinga. Nesta regional, onde funcionam sete Centros de Terapia Renal, 1.500 pacientes estão inscritos no programa de hemodiálise. Desse total, pelo menos 400 estão na fila à espera por um doador de rim vivo ou falecido.
Antes desta regionalização, estes 400 pacientes estavam inscritos em uma lista única metropolitana, concentrada em Belo Horizonte. Com a regionalização do serviço, os pacientes do Leste mineiro saíram de uma fila de 5 mil pacientes, o que tornou muito mais fácil a chance de se conseguir um doador”, explica o nefrologista Carlos Alberto Calazans.
Isso porque todo rim captado na regional de um doador falecido é encaminhado ao Hospital Márcio Cunha, única instituição da regional que realiza transplantes de rins. Hoje, nós quase que dobramos a realização de transplantes”, afirma Calazans.
Conforme o nefrologista, o avanço no número de cirurgias é fruto de uma sinergia entre a administração do Hospital Márcio Cunha, a equipe médica envolvida nos procedimentos e as ações do MG Transplantes, otimizadas após a descentralização. Esse somatório de fatores deu suporte a Minas Gerais para se consolidar, em números absolutos, como o 2º maior centro em transplantes renais no país. Por outro lado, após a regionalização, o Márcio Cunha é o 2º maior centro transplantador em nosso Estado”, pontuou Calazans.
Doador
Pode ser candidato a doador de rim o familiar de pacientes que espontaneamente procurarem a equipe médica e manifestem expressamente esse desejo. No processo de escolha do doador, o primeiro passo é o conhecimento da tipagem sanguínea dos candidatos. Os exames seguintes são realizados no candidato com o tipo sanguíneo compatível com o receptor.
Após a confirmação de que os tipos de sangue entre o candidato a doador e o receptor são compatíveis, o futuro doador realiza uma consulta com um médico da equipe de transplantes, quando é entrevistado e submetido a exames mais acurados. Se não for constatada nenhuma doença que inviabilize a doação, são solicitados exames de sangue, de urina e radiológicos. Hoje, aqui no nosso Centro, o paciente, quando entra no programa, com três a quatro meses certamente já estará transplantado. Mas é preciso todo um trabalho para preparar a família para a doação”, pontua Calazans.
Quando não há um doador espontâneo na própria família, ou outro doador vivo, o paciente fica inscrito na lista única à espera de um doador falecido, após a comprovação da morte encefálica. Dos 41 transplantes realizados no ano passado, 11 envolveram doadores falecidos. O tempo de espera por esse tipo de doador é muito variável. A seleção do paciente não é feita pelo tempo de espera, mas pela identidade imunológica”, explica o nefrologista, acrescentando a importância do doador falecido. Quanto mais essas informações são veiculadas na imprensa, a gente consegue bons resultados. Noventa e cinco por cento dos transplantes na Espanha são de doadores falecidos, por causa da cultura do país. Por isso, a direção do MG Transplantes decidiu adotar esse modelo”, conclui Calazans.
País vive epidemia de insuficiência renal
A Insuficiência Renal Crônica (IRC) é considerada hoje pelos nefrologistas uma epidemia que precisa e deve ser controlada. No Brasil, no universo de 2 milhões de pessoas que sofrem de algum problema renal, 60% desconhecem essa situação.
De acordo com o chefe do Serviço de Nefrologia do Hospital Márcio Cunha, Carlos Alberto Calazans, são admitidos no Centro de Terapia Renal em torno de 6 a 8 pacientes por mês. Atualmente, 250 pessoas estão inscritas no programa de hemodiálise. Desse total, 40% sofre de diabetes. Calazans considera que a epidemia pode ser minimizada com consultas médicas periódicas com um nefrologista. A doença é silenciosa e evolui sem sintomas. O paciente só começa a perceber quando o quadro já está bastante avançado”, adverte.
Em um organismo saudável, segundo ele, todo o excesso de substâncias é eliminado pelos rins, mas, quando estes não funcionam, os resíduos ficam retidos na circulação e se transformam em toxinas, causando alterações musculares, sanguíneas, digestivas, cardiovasculares e cutâneas.
Sintomas e tratamentos
Em geral, os primeiros sintomas perceptíveis da doença são inchaço dos olhos, pés, pernas, urina muito espumosa, anemia e aumento da pressão arterial. Ao apresentar qualquer um desses sinais é fundamental procurar um médico para investigar a função renal.
Um exame da creatinina (substância que circula pelo sangue e serve como marcador para o funcionamento dos rins) aponta com precisão se a filtragem dos rins está adequada. Caso se identifique que os níveis de creatinina se encontram em valores elevados de concentração no sangue a função renal está deficiente.
A insuficiência renal é dividida em cinco estágios. Quando o paciente chega ao último grau o rim já não desempenha as funções básicas, tornando-se necessário o início de tratamentos terapêuticos que substituem as funções do rim. A diálise peritoneal, um processo artificial, serve para retirar, por filtração, todas as substâncias indesejáveis acumuladas pela insuficiência renal crônica. Isso pode ser feito usando a membrana filtrante do rim artificial ou da membrana peritoneal.
Já a hemodiálise, o segundo estágio do tratamento, é marcada pelo uso de uma membrana dialisadora, formada por um conjunto de tubos finos, chamados de filtros capilares. Para realizar a hemodiálise é necessário fazer passar o sangue pelo filtro capilar. Para isso, é fundamental ter um vaso resistente e suficientemente acessível, em condições de ser puncionado três vezes por semana com agulhas especiais.
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