15 de abril, de 2009 | 00:00
Obras do novo aeroporto começam em julho
Usiminas fecha compra de terreno ao lado do Viveiro de Mudas da Cenibra para iniciar expansão
Fotos: Wôlmer Ezequiel
A área do futuro aeroporto da Usiminas já está sendo preparada para a terraplanagem
IPATINGA Acabou o mistério. A Usiminas oficializou ontem a compra de um novo terreno para construir o seu futuro aeroporto, já que o atual, em Santana do Paraíso, dará lugar a uma nova usina para produção de 5 milhões de toneladas/ano de placas de aço. A nova pista, que inicialmente seria construída em Revés do Belém, distrito de Bom Jesus do Galho, foi transferida para Belo Oriente. A área anunciada anteriormente, à margem da BR-381, foi trocada por uma outra, próximo ao Viveiro de Mudas, do lado esquerdo da rodovia (sentido Ipatinga-GV), a cerca de dois quilômetros da portaria da Cenibra e a 25 quilômetros de Ipatinga.O acerto para aquisição da área para o futuro aeroporto, que pertence à Cenibra, foi formalizado no início da tarde de ontem e marca o início efetivo de uma nova fase de expansão da siderúrgica ipatinguense, que já vem tocando obras em sua planta atual e que, agora, poderá começar a trabalhar no seu maior projeto, que é a construção da nova usina de Santana do Paraíso. Dentro de quatro ou cinco meses, a Usiminas espera acertar os detalhes da obra da nova usina, que depende, primeiro, da construção do novo aeroporto.A Usiminas rescindiu o contrato de compra da área em Revés do Belém, que também pertence à Cenibra, e assinou outro contrato, cujo valor não foi revelado. Um pouco antes da formalização do acordo, em coletiva de imprensa no escritório central de Ipatinga, o assessor de Assuntos Institucionais da siderúrgica, Delson Tolentino, garantiu que agora a escolha é definitiva e que as obras de terraplanagem da área em Belo Oriente serão iniciadas no dia 1º de julho.A previsão da Usiminas é que o seu novo aeroporto seja construído no prazo de um ano, ou seja, a partir de 1º de julho de 2010 já deverá estar aberto para pousos e decolagens de aeronaves. A pista terá o mesmo tamanho da atual, em Santana do Paraíso: 1.650 metros (1.200 na primeira etapa), com capacidade para aeronaves de até 114 passageiros. A nova pista será mais moderna, com equipamentos mais avançados, e deverá receber novas linhas regulares, começando por uma que ligue Ipatinga a São Paulo.TerrenosSegundo Tolentino, desde o ano passado, quando foi anunciado o plano de expansão da Usiminas, vários terrenos foram avaliados para a instalação do futuro aeroporto. Foram visitadas aproximadamente 100 áreas em vários municípios do Vale do Aço, das quais apenas 14 atenderam às exigências iniciais. Novas vistorias foram feitas e chegou-se, então, a quatro áreas que seriam apropriadas: uma em Santana do Paraíso, descartada de início, uma em Revés do Belém, que chegou a ser escolhida mas depois a empresa recuou, e duas em Belo Oriente, uma antes da fábrica de celulose da Cenibra e outra logo após o Viveiro de Mudas da empresa de Belo Oriente e que, ao final, foi a escolhida.A área de Revés do Belém foi descartada devido às dificuldades encontradas pela empresa para licenciamento ambiental. A de Santana do Paraíso não foi escolhida porque não era mesmo a melhor, e a empresa já vai fazer altos investimentos na cidade para construir sua nova usina de placas. Restaram os dois terrenos de Belo Oriente o mais perto de Ipatinga foi descartado porque a empresa teria de retirar aproximadamente 50 milhões de metros cúbicos de terra, em um grande morro, o que custaria algo em torno de R$ 200 milhões. A área enfim escolhida é plana, não é reserva ambiental, tem acesso fácil e é mais barata.A escolha da área, conforme a Usiminas, levou em conta diversos aspectos técnicos, operacionais e ambientais, entre outros detalhes. A empresa contratou, inclusive, um especialista da Aeronáutica para assessorá-la nesse projeto. O terreno em Belo Oriente tem aproximadamente 100 hectares e está quase ocupado por eucaliptos da Cenibra. Equivale a um quinto da área em Revés do Belém, que, pela proximidade com o Parque Estadual do Rio Doce, exigiria mais investimentos e projetos para reduzir o impacto ambiental.Mudança foi forçada por ambientalistas e governoEm entrevista coletiva ontem de manhã no escritório central da Usiminas, em Ipatinga, antes de assinar o contrato de compra do terreno para o futuro aeroporto, em Belo Oriente, o assessor de Assuntos Institucionais da empresa, Delson Tolentino, esclareceu que a primeira área escolhida, em Revés do Belém (Bom Jesus do Galho), não teria impactos negativos no Parque do Rio Doce, como alegavam entidades ambientalistas que desde o início se colocaram contra o projeto sob o argumento de que poderia colocar em risco a maior porção contínua de Mata Atlântica do Sudeste brasileiro.Conforme Tolentino, a Usiminas estava segura” de que o aeroporto não comprometeria o parque florestal, além de o projeto inicial prever uma série de medidas para reduzir ao mínimo o impacto ambiental na região de Revés do Belém. Ele lembrou que existem modelos de aeroportos que funcionam em áreas de preservação, sem problemas, como uma pista da Vale em plena Floresta Amazônica (no Carajás, Pará) e outra no Rio Grande do Sul (RS), sem contar exemplos do exterior. O impacto ambiental seria zero”, garantiu.SuperpovoamentoPesou também na escolha de uma nova área para construção do aeroporto da Usiminas o temor do governo estadual que a região de Revés sofresse uma explosão demográfica que, futuramente, pudesse atingir a reserva ambiental. Diante dos impasses estabelecidos, a alternativa foi procurar outra área.No final das contas, como admitiu Delson Tolentino, o terreno de Belo Oriente, onde no dia 1º de julho começa a ser construído o novo aeroporto da Usiminas, saiu mais barato e vai exigir menos investimentos, o que, na atual conjuntura de crise, faz muita diferença.
Padre Aníbal (costas), “seu” Nego (E), Neide e Felício: frustração
População do Revés espera recompensaEnquanto Belo Oriente comemora a escolha da cidade para sediar o futuro aeroporto da Usiminas, Bom Jesus do Galho e, mais precisamente, o seu distrito Revés do Belém, choram os investimentos perdidos. A população de Revés, que desde o ano passado vinha aguardando com grande expectativa o início da obra, não esconde a frustração com os rumos que tomaram o projeto.É uma frustração enorme. Participamos de várias reuniões, chegamos a conhecer o projeto, mas depois fomos surpreendidos com o anúncio de que o aeroporto vai para Belo Oriente. Entendemos que precisávamos mais desses investimentos que Belo Oriente, que tem uma das maiores rendas per capita de Minas Gerais. Nossa comunidade é carente e agora não tem mais perspectiva de crescer”, desabafou o comerciante Felício Genuíno Azevedo, morador de Revés do Belém.Para a comunidade do distrito e, por extensão, de Bom Jesus do Galho e de outras cidades daquela região, o aeroporto seria mais que uma obra de infraestrutura, pois representava, no imaginário da população, o início de uma nova era de desenvolvimento, incluindo a sonhada pavimentação da estrada de ligação à BR-458 e da MG-760, que liga Timóteo à BR-262.A líder religiosa Aparecida Neides Eleutério resume em uma palavra o sentimento dos moradores de Revés do Belém: revolta. O aeroporto da Usiminas iria melhorar tudo para nós. Até a PM já tinha aumentado seu efetivo, que agora foi desmobilizado. Qual é a nossa esperança agora?”, questiona. A exemplo de outros moradores, Neide, como é mais conhecida, não culpa a empresa pela mudança de planos. A culpa é do governador, que abandonou a nossa região, como se ele não tivesse eleitores aqui também”, desabafa.RecompensaOpinião parecida tem o também comerciante Carlos Freitas da Silva, o seu” Nego. Ele cobra uma recompensa” para Revés do Belém, que dormiu com um aeroporto e acordo sem nada”. Ele reconhece que é preciso preservar o meio ambiente, como sustentam os opositores do projeto do aeroporto em Revés, mas a população não pode ficar abandonada”, reclama. Qual recompensa nós vamos ter por estarmos na margem do Parque do Rio Doce? Vamos ser só penalizados, ou vamos receber algum benefício por isso?”, insiste seu” Nego.O ex-prefeito de Bom Jesus do Galho e padre Aníbal Borges isenta a Usiminas e também culpa o governo do Estado e a atual Administração Municipal pelo que considera uma perda irreparável para vários municípios”. Na opinião de padre Aníbal, a Prefeitura de Bom Jesus do Galho poderia ter participado mais ativamente das discussões com a Usiminas e, se fosse o caso, oferecer outras áreas. Mas optou pelo descaso e, com isso, perdemos uma oportunidade de beneficiar não só Bom Jesus do Galho, como também Raul Soares, Rio Casca, Caratinga, Vargem Alegre, Inhapim e várias outras cidades”, criticou o ex-prefeito.O que já foi publicado:
Adiada decisão sobre novo aeroportoBelo Oriente sonha com voos mais altosJakson Goulart
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