12 de fevereiro, de 2009 | 00:00
Garotas de programa querem sair das ruas
Assaltos e violência assustam prostitutas que ganham a vida” nas rodovias do Vale do Aço
Fotos: Wôlmer Ezequiel
O trecho entre os bairros Veneza e Iguaçu é um dos principais pontos de prostituição da BR-381
IPATINGA A Polícia Militar está intensificando o policiamento ao longo do perímetro urbano da BR-381 em Ipatinga, principalmente nos trechos entre os bairros Veneza e Iguaçu, no intuito de inibir a prática de crimes em geral e, principalmente, contra garotas de programa e travestis que fazem ponto” na rodovia.O DIÁRIO DO AÇO conversou com algumas profissionais do sexo, em alguns trechos da BR-381, e ouviu que, apesar dos assaltos, elas não querem abandonar os pontos onde frequentemente se instalam.A maioria das entrevistadas reclama que em Ipatinga falta uma casa noturna adequada para que elas deixem as ruas. É o caso de Estéfani (nome fictício), 28, que desde os 19 anos faz programa”.Gente boaExiste gente boa e gente ruim. Algumas amigas e eu já fomos assaltadas várias vezes. Se existisse uma boate exclusivamente para a gente trabalhar, seria melhor. Não precisaríamos ficar na BR”, justifica. Segundo Estéfani, as duas principais casas noturnas existentes em Ipatinga não contemplam seus interesses.Estéfani alega que a prostituição, por enquanto, tem sido seu único modo de sobrevivência. Eu me separei do meu marido há dois meses. Não tem emprego pra gente. A situação está mais difícil do que nunca. Com os programas, chego a ganhar em torno de R$ 1 mil por mês. O dinheiro é bom, mas é muito arriscado”, reconhece.PerigoA prostituta Verônica, 28, é uma das recentes vítimas de assalto entre as mulheres que fazem ponto” na rodovia que corta Ipatinga. O cara me levou de moto para um lugar afastado. Disse que pagaria o programa no final, mas não cumpriu. Além disso, me roubou R$ 50”, denuncia a garota, que também gostaria de trabalhar em uma casa noturna. A gente queria uma boate em que tivéssemos autonomia. Mas em Ipatinga isso não existe. Trabalhar na rua é muito ruim”, confirma Verônica.Entre a estrada e a boateHá um ano e meio Janaína (nome fictício), 27, ganha a vida na rodovias que cortam o Vale do Aço. Além da falta de segurança, ela reclama que o rigor da Polícia Militar na fiscalização, muitas vezes, tem prejudicado o trabalho das prostitutas.Em vez de dar mais segurança pra gente, a polícia está nos mandando deixar a BR, constantemente. A gente enfrenta muita barra e ainda tem que aguentar essa imposição dos policiais?”, questiona Janaína, que é mãe de dois filhos. Ambos não sabem como a mãe ganha a vida.Minha mãe e toda a minha família sabem que faço programa. Meus filhos são novos, eles ainda não sabem. E nem podem”, justifica.ProteçãoOutra prostituta, que se apresenta como Carla, 25, moradora de Governador Valadares, faz programas sexuais em Ipatinga para esconder a atividade dos pais. Ela discorda de sua colega Janaína. A segurança está ótima. Os policiais nos tratam muito bem. Trabalho aqui há três anos e a PM tem feito o que pode para nos proteger”, aprova.O problema é que Carla trabalha apenas durante o dia, quando o perigo é menor. Para as meninas que trabalham à noite, uma boate seria muito bom. No meu caso não faz diferença. Prefiro a BR mesmo”, admite Carla.
A PM está sempre por perto: orientação e repressão
PM garante segurança e afasta as menores da BRNo dia em que o DIÁRIO DO AÇO entrevistava algumas garotas de programa num dos trechos urbanos da BR-381, na altura do bairro Veneza II, em Ipatinga, uma viatura da Polícia Militar passou pelo local, em uma ronda de rotina.O sargento Manoel Ferreira, um dos integrantes da equipe, confirmou que a PM tem aumentado a fiscalização nas rodovias do Vale do Aço, mas sem reprimir o trabalho das garotas de programa. Nós fazemos patrulhamento para dar segurança às garotas de programa, orientando-as a não ficarem em locais escuros ou perigosos”, explica o policial.Conforme o sargento Ferreira, a PM tem atuado sistematicamente para evitar a permanência de menores de idade nas rodovias e nas ruas. Meninas menores de 18 anos são encaminhadas ao Conselho Tutelar. Se algumas não estiverem diretamente na BR, mas próximas, de alguma forma, nós as orientamos a irem para casa”, frisa.Apesar do trabalho de orientação, da PM e de entidades, muitas menores retornam às rodovias para se prostituírem. Isso acontece, mas estamos atentos para evitar a permanência dessas garotas no mundo da prostituição”, conclui o sargento Manoel Ferreira.Bruno Jackson
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