22 de novembro, de 2008 | 00:00
Memórias notáveis
Aluna de Joanésia é destaque na 1ª Olimpíada de Língua Portuguesa
JOANÉSIA A estudante Nayane Alvarenga, 13 anos, virou celebridade na Escola Estadual Professor Antônio Mariano. Ontem, ao chegar à sala de aula, recebeu uma festa-surpresa. Pelos corredores da escola, todo mundo queria cumprimentá-la. Tanto assédio tem um motivo justo. A graciosa Nayane foi uma das semifinalistas da 1ª Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro”. Ela ficou entre os 500 melhores do país e 64 do Estado.Na segunda-feira, 17, ela foi a São Paulo tentar classificação para a final, no dia 1° de dezembro. Embora não tenha conseguido ir adiante, ela voltou para casa com uma medalha de bronze e muito orgulho por representar bem a sua cidade em uma competição desse porte.Cerca de seis milhões de estudantes de escolas públicas do país se inscreveram na Olimpíada. A disputa foi dividida em três categorias: poesia (4ª e 5ª séries); memória (7ª e 8ª séries); artigos de opinião (2° e 3° ano do ensino médio). Para participar da disputa, os alunos foram orientados por seus professores de português conforme prevê o regulamento. Nayane foi acompanhada pela professora Kátia Syrlene Melo em todas as etapas. A professora explicou que, após a inscrição, a organização enviou para os professores um caderno de atividades com as oficinas que deveriam ser desenvolvidas para produção do texto final. Após produzirem vários textos, os alunos chegaram à última etapa, que consistiu em entrevistar uma pessoa antiga na cidade que pudesse contar memórias do lugar. Levamos a dona Eunice Anício da Silveira, 93 anos, para a sala de aula. Lá, ela foi entrevistada pela turma toda. Com base na conversa eles produziram o texto. Os professores selecionaram os três melhores de cada turma. Em seguida, foi escolhido o melhor da escola e enviado à comissão municipal, que também escolheu o texto da Nayane. Na seletiva estadual ela passou para a semifinal”, contou Kátia Melo. A professora relatou como foi a experiência em São Paulo. Chegamos lá e fomos separados dos alunos que tiveram que fazer outro texto com base em entrevista feita com um ator. O texto, segundo os organizadores, era só para comprovar a autoria. Até hoje, eles só encontraram dois problemas de autoria”, detalhou. Auto-estima Kátia Melo ressaltou a importância da conquista de Nayane para a auto-estima da escola e até do próprio município de Joanésia. Quando apresentei a proposta para os meninos eles não se animaram, porque acharam que a cidade não tinha chance. E por coincidência uma aluna da 5ª série foi premiada em concurso de redação da Polícia Militar do Meio Ambiente. Depois, uma estudante do ensino médio ficou em 1° lugar no concurso da Cemig. Com a conquista de Nayane, a auto-estima melhorou e os alunos ficaram entusiasmados”, destacou. Talento Nayane Alvarenga não esconde a alegria de ser uma das semifinalistas do concurso. Sorridente e bem articulada com as palavras, ela contou que não imaginava alcançar um resultado tão bom. Sempre me interessei por concursos, na esperança de um dia ganhar alguma coisa com os estudos. Quando falaram da Olimpíada me empolguei, mas não achei que podia chegar tão longe, porque era só uma aluna de cidade pequena concorrendo com gente do país inteiro. Pena que não fui pra final, mas tá mais do que bom”, comemorou.A estudante recebeu a notícia na escola e não acreditou. Perguntei se era brincadeira. Fiquei muito alegre e emocionada. Só agora que voltei de São Paulo é que acreditei que fui. Foi muito bom, conheci muitas pessoas. Gente de lugares que nunca tinha ouvido falar”, revelou. A garota gosta de português e de matemática. Ela já participou duas vezes da Olimpíada de Matemática e quer repetir a dose. Quero chegar à final”, enfatizou. Nayane falou que, por enquanto, seu plano para o futuro é fazer Medicina. Ela nasceu em Coronel Fabriciano, já morou em Ipatinga, se mudou há cinco anos para Joanésia e garante: Aqui é melhor para estudar porque é mais tranqüilo”. A estudante, que tem dois irmãos e torce pelo Cruzeiro, termina a entrevista emocionada: Tô tentando explicar o que eu senti, mas é inexplicável”. O Vale do Aço teve ainda um representante de Ipatinga: o estudante Antoniel Vieira Almeida, da 5ª série da Escola Municipal Professora Maria Conceição Rocha. Ele foi semifinalista, mas por motivos familiares mudou-se para outra cidade e também não foi selecionado para a final. A região foi representada ainda por Dionísio, com a estudante Bianca Isabelly Araújo Costa, que cursa a 5ª série na Escola Estadual Professor Benjamim Araújo. De Iapu, Hévila Maria Barbosa Silva, da 8ª série da Escola Estadual Frei Marcelino de Milão, também foi semifinalista. Personagem ilustre A redação de Nayane, intitulada Saudade de uma vida”, relatou a história de Dona Eunice Anício da Silva, mais conhecida como Dona Ninice. Ela é considerada uma das mulheres mais antigas da cidade, da época em que o lugar se chamava Paraíba do Mato Dentro e não tinha energia nem comércio. Estudar era muito difícil, e a palmatória cuidava de silenciar os alunos mais bagunceiros. Esses e outros fatos são contados por Nayane no texto. Após o bate-papo com Nayane e Kátia, a reportagem conversou com a simpática e elétrica Dona Ninice. A personagem disse que gostou de participar da atividade. Ela nasceu em 21 de outubro de 1915 e tem 13 filhos, 55 netos, 63 bisnetos e quatro tataranetos. Com muito orgulho, diz: Minha família tem 170 pessoas. É uma festa”. A idade não a impede de continuar a fazer deliciosos biscoitos caseiros, viajar e dançar forró. Viajo, vou para Ipatinga, Aparecida do Norte. Tenho muitas amizades”, comentou. Dona Ninice casou-se aos 16 anos de idade e completaria bodas de diamante em fevereiro, mas seu esposo faleceu recentemente. Apesar das dificuldades que passou na vida, mantém um ótimo humor. Sempre morei na roça, tinha que ir pra escola a pé e só comia o que plantava. Agora melhorou muito. Espero que a cidade melhore. O candidato no qual votei venceu as eleições. Converso muito, canto, danço forró. Viver é bom demais. Faço tudo, lavo roupa, faço comida”, disse. Solicitada a dar a receita para chegar aos 93 anos com tamanha energia, ela aconselha: socar arroz no pilão, moer cana e fazer biscoito”. Polliane Torres
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