09 de novembro, de 2008 | 00:00

Rio Piracicaba pede socorro

Pesquisa mostra índice de contaminação por esgoto em cinco pontos

Paulo Sérgio de Oliveira


Trabalho constatou que poluição do rio causada pela falta de tratamento do esgoto atinge níveis elevados
FABRICIANO – As águas do rio Piracicaba há muito estão degradadas. A falta de tratamento de esgoto está comprometendo a saúde do rio, conforme aponta uma pesquisa feita pelos alunos do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental do Unileste-MG Plínio Storck e Ronan Lana Siqueira. O levantamento intitulado “Índice de Estado Trófico para monitoramento da qualidade de água de bacias hidrográficas: estudo de caso no rio Piracicaba” mostra como o Vale do Aço está usando o rio. A pesquisa foi orientada pelo professor Millôr Godoy Sabará.  Para medir o nível de degradação, a pesquisa escolheu cinco pontos do Piracicaba: Ponte Sá Carvalho, Ponte do Contorno (Timóteo), Ponte Mauá (Timóteo), nas duas pontes que interligam Timóteo e Coronel Fabriciano e no bairro Cariru (Ipatinga). O trabalho foi feito de janeiro de 2007 a janeiro deste ano.Segundo Millôr, o objetivo da investigação foi avaliar a poluição por esgotos domésticos. “Escolhemos pontos estratégicos para saber a mudança de qualidade da água. A nossa intenção é ver como o Vale do Aço está influenciando na qualidade de água do rio. Assim, pudemos avaliar qual a tendência de mudança das águas do Piracicaba, um rio onde praticamente não existe tratamento de esgoto ao longo de seu curso”, explicou o orientador. O foco dos estudos foi o fenômeno provocado pelo excesso de substâncias encontradas no esgoto como fósforo e nitrogênio, chamado eutrofização. “Esse processo causa o crescimento excessivo de plantas e algas aquáticas em águas doces. Com esses nutrientes, algas e plantas proliferam em excesso, liberam toxinas muito perigosas e algumas podem fazer mal para a nossa saúde”, explicou. Conforme o orientador, quando essas plantas e algas morrem, elas começam a se decompor. “A decomposição rouba oxigênio do rio e leva à degradação completa da qualidade da água. Esse fenômeno já é responsável pela perda de grandes ecossistemas, como o da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. Elas podem também atingir os peixes e automaticamente as pessoas que consomem a carne, além de produzir odores desagradáveis”, detalhou.
Polliane Torres


Millôr Sabará defende o tratamento de toda a bacia do rio
MetodologiaPara medir o nível de poluição dos rios, os pesquisadores usaram como método o Índice de Estado Trófico (IET), criado pela Companhia de Tecnologia em Ciências Ambientais de São Paulo (Cetesp), considerada referência nacional em meio ambiente e saneamento. O índice possui seis faixas de concentração de poluição. A água mais pura é chamada de Ultraoligotrófica. À medida que a poluição aumenta, a escala segue em: Oligotrófico, Mesotrófico, Eutrófico, Supereutrófico e Hipereutrófico. Ao avaliar as coletas feitas no rio Piracicaba os pesquisadores constataram que, ao longo do ano, o IET das águas variou de Mesotrófico a Eutrófico. “O importante não é o resultado instantâneo e sim a tendência do rio, que é de aumentar a carga de poluição”, informou Millôr. De acordo com ele, além do esgoto doméstico, as fontes de poluição difusas agravam o problema. “Um exemplo de fonte difusa é: quando a cidade passa meses sem chuva ela acumula uma carga poluidora, como lixo em locais indevidos. Quando chove esse acúmulo vai para os rios”, esclareceu.Preocupação Millôr Godoy já esperava que o rio estivesse muito poluído. Mas dois fatos causaram surpresa. O primeiro foi o agravamento do estado da água em razão da chuva escassa. “Todos os pontos estavam extremamente poluídos. Na estação seca, de outubro a novembro, o índice chegou perto de supereutrófico. Isso eleva a possibilidade de proliferação de algas”, alertou. Outro ponto preocupante é o fato de a poluição desaguar no rio Doce e, em seguida, no Oceano Atlântico. “Quando cai no oceano o rio Doce está tão carregado de material fóssil que promove a produção de algas, poluindo a costa”, comentou.Soluções simplesPara Millôr Sabará, as soluções para o problema são simples. “É preciso controlar as fontes de esgoto, o que já está sendo feito em Fabriciano. Mas tem que tratar a bacia toda. Temos que fazer um programa de reabilitação do controle biológico da qualidade de água, das matas e áreas alagadas”, falou. O pesquisador chamou a atenção para a importância do rio para o desenvolvimento da região. “Temos que tomar consciência de que o Vale do Aço só existe por causa do rio. Ele fornece água para as indústrias e pessoas. Só temos empregos, só existimos em função do rio, que estamos tratando dessa maneira”, salientou. Na opinião do orientador, a população tem que se acostumar com a idéia de pagar pelo tratamento de esgoto. “É impossível pensar que podemos continuar a ter água potável tão barata e não investir na melhoria”, frisou Millôr. Ainda de acordo com ele, a população tem que exigir saneamento na cidade. “Nós já passamos da época de evitar a degradação. Ela já está aí. Nós estamos na época de mitigar a degradação. Ações de reabilitação vão custar dinheiro e alguém vai ter que pagar”, concluiu Millôr Sabará. Polliane Torres
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