19 de setembro, de 2008 | 00:00

Talentos excepcionais

Garoto deficiente visual vai adivinhar datas em programa da Record


Dirceu de Paiva (E) diz que seu filho começou a desenvolver o dom aos 5 anos de idade
TIMÓTEO – Neste domingo (21) comemora-se o Dia Nacional de Luta dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Nesta data especial está prevista a participação do timotense Lucas Barbosa Azevedo, 8 anos, no programa “Tudo é Possível”, da Rede Record. O menino é deficiente visual e possui a incrível habilidade de falar com rapidez o dia da semana de datas citadas  aleatoriamente. Por exemplo, no programa gravado nesta semana, a apresentadora Eliana pergunta a ele em qual dia da semana será o seu aniversário (22 de novembro). Em poucos segundos, ele responde: “Sábado”. E assim é para qualquer data, antes de 2008 ou mesmo em 2009, conforme  atestou a reportagem do DIÁRIO DO AÇO.Em um breve bate-papo, Lucas e seu pai, Dirceu de Paiva Azevedo, contaram detalhes sobre essa façanha. Dirceu disse que a habilidade do garoto começou a ser desenvolvida há três anos. Segundo ele, seu filho sempre foi muito curioso e perguntava como era o calendário do ano para sua mãe. “Ele questionava o dia do mês e da semana. Aí percebemos sua habilidade quando certo dia ele falou a data de aniversário de seu primo, que demoraria a ocorrer. Conferi no calendário e fiquei surpreso”, contou Dirceu. Ao ser questionado sobre como desenvolveu essa prática, Lucas responde: “Quem me ajuda é Jesus”. Mas é provável que sua paixão pela disciplina de matemática tenha alguma relação com essa habilidade. Lucas disse que gostou muito de participar do programa. “A Eliana é muito legal. Ela perguntou que dia caía o aniversário dela e falei. Ela gostou de mim”, relatou. Dirceu de Paiva informou que a idéia de levar o garoto a um programa de TV não é recente. “As pessoas sempre falaram pra gente mostrar esse talento dele. Então, conhecemos uma pessoa que tem ligação com a Rede Record. Fizemos contato, eles ficaram impressionados e mandaram uma equipe para filmar a rotina de Lucas, que também será exibida no programa, para ilustrar a sua participação”, detalhou Dirceu.De acordo com Dirceu, a rotina de seu filho é normal. Pela manhã ele leva Lucas para o Creia (Centro de Referência em Educação Inclusiva). Após o almoço, o garoto pega o transporte e vai sozinho para a escola regular, onde cursa o segundo ano do ensino fundamental. Lá, ele possui vários colegas e joga futebol. “Tenho um monte de amiguinhos e todos gostam muito de mim. Na sala, gosto muito de fazer contas e estou bem em português também. Adoro brincar de carrinho e de jogar futebol. Torço para o Flamengo”, contou Lucas. Além de exercer duas atividades intelectuais e de lazer normalmente, o menino toca teclado. “Eu toco em casa e na igreja, gosto de cantar também”, disse. Dirceu comentou que Lucas tem um ótimo relacionamento da escola, e consegue bom desempenho. “Ele tem uma capacidade incrível de memorizar. Por exemplo, ele guarda nomes de parentes que nem eu mesmo consigo me lembrar”, concluiu Dirceu de Paiva.

Marcos (E) e Josemar falaram de superação e políticas públicas
Políticas públicas e inserção socialO Encontro Municipal contou também com a presença do cadeirante Expedito Carlos Carneiro e do deficiente visual Josemar Souza Araújo, que participa da mobilização nacional para a criação de um Estatuto dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Ele é um dos cerca de 70 delegados que representarão Minas Gerais na Conferência Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, em Brasília. O encontro está previsto para acontecer no início de dezembro. Josemar informou que o Estatuto vai prever a inserção de direitos para essas pessoas na Constituição Federal. “Vamos lutar por trabalho, porque empresas têm cota e não usam. Sugerimos novas propostas para a educação. Por exemplo, a obrigatoriedade do ensino do sistema Libras (Língua Brasileira de Sinais) em escolas, que hoje é exclusividade de alunos deficientes auditivos. Queremos garantir a oportunidade de inserção de cegos também. O Estatuto vai prever garantias em relação a esporte, lazer, visando à conscientização da sociedade”, informou. Josemar, que está cursando o 3° ano do ensino médio e pretende se graduar em Direito, tem boas expectativas quanto ao Estatuto. “Estamos bem articulados. Sabemos que vai demorar. É um processo de longo prazo, mas estamos deixando garantias para as novas gerações não passem pelo que estamos passando”, finalizou Josemar Araújo. Bons exemplos de superaçãoO pequeno Lucas Barbosa Azevedo é apenas uma das várias pessoas deficientes que conseguem criar maneiras de superar as barreiras impostas pela sua condição física. Outro exemplo de sucesso e persistência em Timóteo é de Marcos Anthony Dutra Reis, 33 anos, o primeiro arquiteto surdo de Minas Gerais. Ele marcou presença no XIV Encontro Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência, realizado no auditório da Prefeitura, ontem. Marcos Anthony, que também é artista plástico, falou aos cerca de 150 participantes sobre sua experiência, e dos preconceitos que enfrentou  quando decidiu “viver no mundo dos normais”.Natural de Timóteo, Marcos cursava o segundo ano do ensino médio quando decidiu ir para Belo Horizonte concluir os estudos e ingressar em uma faculdade. Com o apoio da família, ele se mudou e ao cursar Arquitetura se deparou com muitas dificuldades. “Na época, um surdo era uma novidade, e as pessoas não estavam preparadas para lidar com essas diferenças, mesmo em uma faculdade. Eu tive apoio da maioria dos professores, mas alguns fizeram questão de dificultar as coisas. O que importa é que superei tudo e me graduei. O amor da minha família foi fundamental”, declarou. Ao entrar no mercado de trabalho, Marcos Anthony continuou sofrendo alguns preconceitos. “Não posso, por exemplo, falar com meus clientes pelo telefone. Então, muitos desistem diante desses obstáculos. No entanto, nos meus projetos comando uma grande equipe e para as coisas fluírem nos comunicamos por mensagem de celular, por exemplo. Consigo exercer minha profissão normalmente”, relatou. Marcos concedeu entrevista à reportagem falando.Com muito esforço e diante da necessidade, ele desenvolveu a fala e consegue conversar com alguém pessoalmente com a ajuda da leitura labial. Segundo ele, a maior dificuldade foi aprender a falar. “Na verdade, existe aquele mundo fechado dos cegos e um mundo mais aberto dos ‘normais’. Quando decidi viver nesse mundo tive dificuldades, mas ao conseguir falar as coisas ficaram melhores”, contou. Além de trabalhar como arquiteto Marcos expõe quadros de pintura em vários lugares.  Polliane Torres
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