11 de setembro, de 2008 | 00:00

Aula prática no Ipanemão

Nascente que forma o ribeirão Ipanema no foco de ambientalistas

Fotos: Wôlmer Ezequiel


Janice diz que o grande problema em Ipatinga é a falta de cercamento das nascentes
IPATINGA – Mais de 60 alunos da 4ª série da Escola Municipal Artur Bernardes, do bairro Canaã, viveram uma experiência marcante na manhã de ontem, ao visitarem a nascente do ribeirão Ipanema, na zona rural do Ipanemão. Localizada em uma porção da Área de Preservação Ambiental (APA) Ipanema, em uma propriedade da Cenibra, a nascente forma o córrego que corta o município até desaguar no rio Doce, depois de cobrir cerca de 36 quilômetros de espelho d’água. Os estudantes plantaram mudas de árvores nas proximidades da nascente, entre elas o Pau-Brasil. As mudas foram doadas pelo Viveiro Municipal. A visita foi na verdade uma aula prática que conclui as atividades do Projeto Semeando, implementado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, por meio de parcerias. A E.M. Artur Bernardes participa do projeto há três anos. “O projeto termina no próximo dia 28. Até lá, os alunos vão fazer uma redação para concorrer a um prêmio”, afirma Aparecida Saldanha, professora de Ciências e Matemática da Escola e responsável em trabalhar o Projeto Semeando com os alunos. Quem também acompanhou a visita foi a geógrafa e especialista em Ciências Ambientais Janice Rodrigues Ferreira, que trabalha com questões ambientais em Ipatinga desde 2003. Janice atua no monitoramento, cadastramento e avaliação de outorga de licenciamento para uso da água de nascentes. Sua referência na área ganhou a confiança do promotor de Justiça Walter Freitas Júnior, que solicitou à geógrafa um levantamento de 50 nascentes no município que precisam ser cercadas e passar por revitalização. “Essas nascentes são todas em zonas rurais de Ipatinga, que integram a APA Ipanema”, informa. Janice Ferreira, inclusive, é uma das ambientalistas que defendem a redução de impactos ambientais na obra de implantação da rede de transmissão de energia da Eletrobrás que passará em áreas da APA Ipanema. A construção da Linha de Transmissão 500kV Neves1-Mesquita está sendo feita pela IEMG (Interligação Elétrica de Minas Gerais S.A). A Assembléia Legislativa  interferiu no caso e o assunto aguarda uma definição. DegradaçãoMembro da ONG Roda Viva, situada no bairro Bom Jardim, Manoel Viana da Silva acompanhou os alunos da E.M. Artur Bernardes na nascente do Ipanemão. Ele levou peixes barrigudinhos para serem soltos no primeiro poço da nascente desde a queda d’água.Segundo Manoel, a iniciativa simbólica, além da conscientização dos alunos, busca principalmente alcançar alguns proprietários de terreno no Ipanemão, que criam peixes em situação irregular. “Há peixes que degradam a nascente, como a tilápia, um conhecido predador. Por sinal, aqui no Ipanemão houve exemplo de poço de peixe irregular embargado pela Justiça”, completa Manoel Viana, que acompanha Janice Ferreira nos trabalhos voluntários prestados pela geógrafa. Visão de futuroNa avaliação de Elizabete Alves Santana, coordenadora pedagógica da E.M. Artur Bernardes, conhecer de perto uma nascente importante como a visitada ontem permite aos alunos adquirir permanente consciência ambiental. “O ribeirão Ipanema passa próximo à nossa escola e as crianças puderam ver onde ele nasce. Iniciativas como esta permitem que elas aprendam a reflorestar e a preservar as nascentes e o meio ambiente em que vivemos”, comenta. Os alunos aprovaram a visita à nascente. Alguns ficaram deslumbrados. “A nascente é muito bonita. Temos que preservar todas elas para que a nossa cidade sempre tenha água”, frisou Jéssica Neves Lima e Silva, de 10 anos.

Cerca de 60 alunos da E.M. Artur Bernardes participaram da visita à nascente do ribeirão Ipanema
Falta de cercamento é o principal problemaA geógrafa Janice Rodrigues Ferreira, especialista em Ciências Ambientais, afirma que os principais entraves à conservação de nascentes nas localidades rurais de Ipatinga são as irregularidades no cercamento. “A lei prevê que toda nascente tem que ser cercada e revegetada em um raio de 50 metros. O grande problema no município é a falta de cercamento adequado por parte dos proprietários de terrenos. Como não há cercamento, é comum bois e cavalos pisotearem a nascente, fazendo-a secar”, lamenta Janice.A geógrafa lembra, entretanto, que a fiscalização tem sido mais severa. “O trabalho conjunto de fiscalização entre o Departamento de Meio Ambiente do município, a Polícia Ambiental e a Justiça aumentou. A partir disso, o povo também se interessou em fiscalizar as agressões a nascentes”, concluiu Janice Ferreira.Bruno Jackson
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário