10 de agosto, de 2008 | 00:00
Paixão pelo infinito
Observatório particular é atração para turistas em Alto Caparaó
Fotos: Alex Ferreira
Montado por dentista apaixonado pelo estudo do universo, observatório é atração em cidade mineira
CAPARAÓ - Localizada na base de uma das mais belas serras brasileiras, a cidade mineira de Alto Caparaó, com cerca de cinco mil habitantes, tem algo mais do que o Parque Nacional do Caparaó (Parnacaparaó) com sua cadeia de montanhas e picos, aconchego das pousadas e a boa comida mineira. A cidade, a 230 quilômetros do Vale do Aço, é refúgio para quem gosta de temperaturas mais amenas. Muita gente foi passear e mudou-se para lá de mala e cuia”. A poucos metros da portaria do parque administrado pelo Ibama, uma das maiores lojas de material de camping, souvenirs e roupas de frio é de propriedade de um ipatinguense que há 12 anos trocou o calor do Vale do Aço pelo ar puro e frio da montanha. No perambular pelas ruas da pequena cidade revelam-se curiosidades entre a população originária da época em que imigrantes europeus, principalmente alemães, italianos e suíços, encontraram, em meio aos vales e montanhas da Zona da Mata mineira, algumas semelhanças com sua terra natal. Quem vai a Alto Caparaó encontra gente como o dentista Hodias Miranda. Aos 70 anos, Hodias quase não atua mais em seu consultório. A ocupação de seu tempo e de um número considerável de turistas está no teto de sua casa. Localizada na rua Albino Monteiro, encontra-se ali o Observatório Astronômico HM. Hodias Miranda é um autodidata no estudo do universo. Tornou-se um cientista, mas sem se afastar dos princípios criacionistas. Aliás, os cristãos evangélicos somam a maioria em Alto Caparaó e Alto Jequitibá. As religiões protestantes sempre tiveram forte influência na região, também como resultado da presença de imigrantes desde o começo do século XX.PaixãoHodias Miranda nasceu em Alto Caparaó, mas rodou por várias partes do país. Nas idas e vindas, acabou por se casar em Recife e retornou è terra natal. A paixão pela astronomia, conta Hodias, vinha desde criança. Olhar para cima e ficar a imaginar quais mistérios se escondiam entre as estrelas inquietava o menino que viria a se tornar dentista de profissão, mas que gosta mesmo é de astronomia. À medida em que crescia, conta Hodias, a vontade da descoberta sobre o infinito também aumentava. Não há dúvidas que o autodidata fora influenciado ao observar o céu que, em Alto Caparaó, mesmo a olho nu se mostra sem igual, longe das luzes das grandes cidades e altitude média de 1.000 metros da cidade sem poluição. Acho que o mar e o céu são as duas coisas mais lindas da criação”.
Hodias: “repassar o que aprendi sobre astronomia é gratificante como realização humana”
Visitação sem formalidadesFabricado na Califórnia, o telescópio Meade computadorizado demorou oito anos para chegar ao estágio em que se encontra em Alto Caparaó. O equipamento é considerado um dos maiores observatórios particulares do Estado. Em valores de hoje, a obra é avaliada em torno de US$ 45 mil. O proprietário, Hodias Miranda, conta que fora o telescópio e os assessórios, que vieram dos Estados Unidos, todo o projeto foi desenvolvido por ele. Hodias conta que a cúpula de aço pesa quase uma tonelada. Ele enviou uma maquete para fabricação em uma caldeiraria em Manhuaçu. Quando ficou pronta, foi elevada por um guindaste sobre sua casa e instalada sobre trilhos. Acionada por um motor, a cúpula funciona como nos observatórios convencionais, com um giro de 360 graus. Também são motorizadas as escotilhas, por onde o telescópio aponta para o infinito.Para a visitação, não há maiores formalidades. A casa do cientista é aberta a todos. Assina-se um livro de presença, formam-se grupos de no máximo 15 pessoas. Antes da observação dos astros o astrônomo faz uma palestra que dura em média 30 minutos, esclarece dúvidas e depois opera o telescópio sem parar de falar um minuto. No dia em que acompanhamos a visita, a observação era sobre o planeta Saturno e seus anéis. Realização humana no ato de ensinarPara Hodias Miranda, receber milhares de pessoas em seu observatório é uma enorme satisfação. Do ponto de vista de realização humana é completamente compensador e gratificante. Faço isso com a maior satisfação de poder transmitir alguma coisinha que sei sobre astronomia. Fico muito contente quando chega alguém vindo lá do fim do mundo para vir aqui se interessar por uma coisa que eu construí sozinho”, diz o estudioso. Em cinco anos, Hodias Miranda calcula que tenham passado mais de seis mil pessoas pelo observatório. Mas do ponto de vista financeiro não há compensação. Também nem estou atrás disso”. Para as visitas ao observatório o turista paga R$ 5, um valor que Hodias diz servir apenas para cobrir custos com a limpeza e manutenção do local.Alex Ferreira
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Sigrid Costa Valbao Freire
06 de março, 2025 | 09:37Uau! Que genial! Meu marido e eu tivemos o prazer de conhecer o observatório do senhor Hodias há muitos anos. Um senhor educadissimo, extremamente culto e orgulhoso de sua construção. Fiquei emocionada de ver que está bem e ainda à frente desse projeto incrível. Parabéns ao senhor Hodias por tamanha dedicação.”