01 de agosto, de 2008 | 00:00

Cariru, um bairro “envelhecido”

Marca de 15% de idosos ultrapassa média brasileira, segundo IBGE

Fotos: Wôlmer Ezequiel


Cornélio afirma que o Cariru tem ainda o maior número de idosos com formação acadêmica
IPATINGA – Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para cada 100 jovens, há 11 idosos no Brasil. O número de brasileiros maiores de 60 anos é de cerca de 17,6 milhões, o que significa dizer que 9,7% da população brasileira é formada por pessoas da terceira idade. Levantamento do médico geriatra e gerontólogo Cornélio Magalhães Júnior, feito em 2007, aponta que o bairro Cariru está apto a ganhar a conotação de “bairro envelhecido”. Cornélio Júnior realizou uma pesquisa usando como parâmetro o cadastro dos idosos que fazem tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS) do município. O trabalho levou em conta vários bairros e apenas no Cariru atingiu a marca de 15% de idosos. O curioso é que a projeção para que o Brasil alcance este percentual ainda é para 2.025, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Fiz este levantamento quando estava ajustando o Programa de Saúde dos Idosos de Ipatinga. Nem todos os idosos do Cariru fazem tratamento no SUS, portanto há uma janela de erro, porém, ela é pequena. Além disso, a diferença de população idosa do Cariru em comparação à dos outros bairros da cidade é grande. De fato, é um bairro com população idosa muito acima da média do Brasil”, comenta Cornélio Júnior, que atende em seu consultório particular no bairro Horto e no Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Ipatinga (Sindipa).Ainda conforme a pesquisa do geriatra, o Cariru é o bairro de Ipatinga com o maior número de idosos com formação acadêmica. “É o bairro com maior número de idosos com curso superior, mestrado e até mesmo doutorado. Aliás, a educação está muito relacionada à longevidade. Pessoas com elevado grau cultural tendem a se preocupar com uma vida mais saudável”, observa Cornélio Júnior.InsuficiênciaNa avaliação de Cornélio Magalhães Júnior, o Vale do Aço não está preparado para lidar com a saúde da terceira idade tanto quanto outros centros urbanos do país. “Na Região Metropolitana de Belo Horizonte há vários Hospitais-Dia, que consistem no atendimento aos idosos com quadros de agravos à saúde. Em nossa região ainda não há essa modalidade, embora outras regiões tenham percebido que o Hospital-Dia é um mercado altamente rentável. Afinal, hoje quase todas as pessoas de uma casa trabalham e não têm tempo de cuidar de um idoso durante o dia”, ressalta o médico. No entendimento de Cornélio, outra deficiência da região em relação aos poucos recursos para tratamento da terceira idade é a ausência de Instituições de Longa Permanência do Idoso (ILPI), mais aprimorados que os asilos. “Em Ipatinga há apenas um ILPI registrado no Conselho Municipal de Medicina, que funciona no bairro Bom Retiro”, exemplifica o geriatra, em referência ao Instituto Paulo de Tarso.

Agenor acredita que o Bom Retiro também concentra o maior número de aposentados de Ipatinga
Moradores aprovam pesquisaMoradores do Cariru não discordam do resultado da pesquisa feita pelo geriatra Cornélio Magalhães Júnior, apontando que 15% da população do bairro tem acima de 60 anos. Logo que chegou à praça Natsuo Esaki, no Centro Comercial, a reportagem do DIÁRIO DO AÇO constatou inúmeros aposentados se distraindo com o jogo de buraco, tradicional no local há anos. O primeiro a ceder entrevista foi Renato Carlos Poggiali, de 66 anos. De imediato, ele comprovou outra estatística de Cornélio Júnior, de que o Cariru concentra o maior número de idosos com formação superior em Ipatinga. Poggiali é bacharel em Ciências Contábeis e opina sobre o volume de idosos no bairro. “O Cariru foi formado pela Usiminas, há mais de 40 anos. Muitos de nós viemos trabalhar na empresa e aqui constituímos família. Agora, temos mais de 60 anos”, diz Poggiali.Agenor José da Silveira Júnior, de 66 anos, chegou ao Cariru em 1963. Ele defende que não só o Cariru, como também o vizinho Bom Retiro, são os bairros da cidade que mais concentram pessoas acima de 60 anos. “Nos dois bairros a quantidade de aposentados é enorme. Aliás, enquanto no Cariru nossa tradição é de jogar buraco, no Bom Retiro a preferência é pelo jogo de damas. Aqui, há vezes em que jogamos cartas 24 horas por dia. Essa é a nossa distração, é bom para a mente”, diz Agenor, que também é aposentado da Usiminas. Região carece de cuidadorUm novo mercado que tem emergido no Brasil é o do cuidador, profissional que toma todos os cuidados com o idoso, no banho, na parte financeira, caminhada, vestuário, entre outros. Na análise do geriatra Cornélio Magalhães Júnior, os profissionais da sua área necessitam muito do auxílio deste profissional na região. “Talvez o trabalho da geriatria e da gerontologia na região fique comprometido porque não temos a figura do cuidador. Em 2005, o Ministério do Trabalho reconheceu este profissional, mas em nossa região não existe nenhum curso para formar cuidadores”, lamenta Cornélio Júnior.Bruno Jackson
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário