29 de julho, de 2008 | 00:00

Festa do Rosário em Jaguaraçu

Tradição secular ainda encontra espaço e reconhecimento popular

Fotos: Alex Ferreira


Rei, rainha e guarda desfilam na Festa do Rosário em Jaguaraçu
JAGUARAÇU – Uma festa que reúne tradição secular e religião movimentou as ruas de Jaguaraçu no fim de semana. Com uma programação que dura a semana inteira, marcada por novenas, ladainha e missa, o ponto culminante da Festa do Rosário é o último dia do evento, quando acontecem leilões de prendas, desfile do rei e rainha da festa, acompanhados da congada com a união de grupos folclóricos vindos de várias cidades. Domingo, em Jaguaraçu, havia grupos de Diamantina, Timóteo, Sem Peixe, Santana do Alfié e Rio Piracicaba. É marcante também um almoço servido gratuitamente a todos os participantes no último dia da festa e que representa a partilha. Todos os alimentos para o preparo do banquete são doados pela população.Durante o ciclo da festa, acontece o Reinado, que a cada ano é conduzido por um rei e uma rainha do Rosário, eleitos no ano anterior. Neste ano, a Festa do Rosário em Jaguaraçu teve como rei Roberto Lana Coelho, ladeado pela rainha Nair Pereira de Lana. Domingo, durante missa na Igreja do Rosário, eles entregaram o cetro aos reis que, a partir desta semana, conduzirão as iniciativas de preparo do festejo de 2009. O novo rei é o comerciante Aliomar José da Silveira. A rainha é Ivanete Dias Quintão Silveira. Nem sempre rei e rainha da Festa são marido e mulher, uma exceção no caso Aliomar e Ivanete.Uma mistura de folclore e religiãoO cortejo do congado é uma manifestação que persiste há várias gerações. Passos e cantos marcam o ritmo das evoluções pelas ruas. Os grupos se distinguem uns dos outros pelas coreografias, indumentárias e pela música que executam durante o bailado. Entre os participantes sempre há crianças. Os pais encontraram no incentivo à participação dos filhos uma forma de transmitir a herança cultural ameaçada pelos tempos e costumes “modernosos”.A população, costumeiramente, sai às calçadas ou vai para as janelas das casas observar a procissão. O canto dos participantes é acompanhado pelo som dos tambores e lutas simuladas de espada. Também é característico o sincretismo religioso presente nas apresentações do congado, marca de uma época em que os africanos trazidos ao Brasil eram coibidos de suas crenças e forçados a aceitar o dogma católico. Os registros das festas com os congados remontam ao ano de 1674. Depois de mais de três séculos, ver uma Festa do Rosário, como a realizada no fim de semana em Jaguaraçu, é voltar no tempo e renovar a consciência da importância da continuidade dessa manifestação de cultura popular.

Para professora, a fé mantém viva a tradição da Festa do Rosário em Minas
Resistência a modismosEstudiosa do assunto, a professora de língua portuguesa e folclorista Ocácia Terezinha Pereira afirma que é de grande importância a inserção das crianças nas festas do Rosário. Em Belo Horizonte, onde mora, Ocácia sempre participa dos eventos de origem secular e que sobrevivem em plena metrópole. “A escola também deve cumprir o seu papel e colocar o assunto na sala de aula”, defende. A professora observa que as manifestações folclóricas às vezes são interpretadas de forma errada por algumas pessoas, levadas a isso por seus antepassados. “Os senhores das fazendas queriam segregar os seus e afastar o povo negro. Por isso, colocavam medo nas crianças em relação às manifestações de origem africana e esse conceito sobreviveu aos séculos”, explica. Em relação ao futuro de eventos religiosos e culturais como a Festa do Rosário e a congada, Ocácia Terezinha disse entender que isso não vai acabar nunca. “Os grupos sobrevivem a duras penas, com o legado cultural transmitido de pai para filho. São movidos pela fé, e esses eventos resistem em tudo quanto é canto de Minas, com mais força naqueles lugares onde há remanescentes de quilombolas”, conclui a professora e folclorista Ocácia Terezinha Pereira.Alex Ferreira
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