03 de junho, de 2008 | 00:00

Promessa de 30 anos na estrada

Ciclista que percorreu a América lamenta preconceito racial

Bruno Jackson


Antônio vai encerrar a sua promessa pedalando pelo continente africano
IPATINGA – Mais da metade de uma vida sobre uma bicicleta, viajando todo um continente. Uma aventura inspirada em um único objetivo: pagar uma promessa. O protagonista dessa história é Antônio Rogério do Nascimento, 34 anos, que antes de pedalar mundo afora trabalhou como cortador de cana em sua terra natal, Corumbá (MS), que fica a poucos quilômetros da divisa com a Bolívia. Ele retornou ao Brasil dia 4 de abril, após 19 anos percorrendo de bicicleta a América do Sul e a Central. Na manhã de ontem, Antônio chegou a Ipatinga e se instalou em frente ao prédio da Prefeitura, na tentativa de falar com o prefeito Sebastião Quintão (PMDB) e conseguir apoio financeiro para ajudá-lo na seqüência da sua viagem. O ciclista falou com o DIÁRIO DO AÇO e revelou como tudo começou. “Quando era adolescente, fiquei internado com problemas de rins e pulmão e precisava de um transplante. Então, prometi a Deus que, se eu conseguisse, iria andar 30 anos de bicicleta por vários países”, conta. Os transplantes de rim e pulmão vieram e a promessa começou a ser paga quando ele tinha 15 anos. A odisséia começou pela Bolívia, passando por Venezuela, Equador, Peru, Colômbia, Suriname, Guatemala e México, onde Antônio se instalou a maior parte do tempo. Seu retorno começou quando ele estava no Chile, descendo pelo Uruguai, Paraguai, até a Argentina, país este que não lhe traz boas recordações. “Os argentinos foram muito preconceituosos comigo. Eles não acolhem bem os negros. Alguns policiais chegaram a me deter, alegando que eu tinha que andar com uma placa na bicicleta no país deles. Já em outras nações em fui bem acolhido, como no Chile e no México. Esses dois povos gostam muito de brasileiros”, comenta Antônio. Da Argentina, o ex-cortador de cana passou pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, até chegar a Minas Gerais. No final de maio, ele diz que tirou fotografias com o governador Aécio Neves (PSDB) e o prefeito de Betim, Carlaile de Jesus Pedrosa (PSDB). África do SulDesde que começou a andar de bicicleta pela América, Antônio Rogério do Nascimento sobrevive de doações. “Muitas famílias, alguns governos e principalmente caminhoneiros me ajudam bastante pela estrada afora”, afirma. Saindo de Ipatinga, Antônio vai percorrer outros Estados antes de parar em Brasília, de onde embarca de avião rumo à África do Sul. Ele conta que ganhou a passagem de uma empresa aérea para fazer essa viagem. A bicicleta vai acompanhá-lo para que ele possa cumprir o restante da sua promessa. “No continente africano, pretendo ficar mais 10 anos e alguns meses para encerrar a minha promessa. Depois, pretendo retornar ao Brasil e escrever um livro sobre a minha experiência e, principalmente, sobre as discriminações que sofri”, revela.Não foi só na Argentina que Antônio se sentiu discriminado. Segundo ele, o preconceito racial ainda é presente em qualquer território, inclusive no Brasil. “Tem muita gente que acha que não, mas o negro ainda é muito discriminado. Em alguns lugares existem poucas pessoas preconceituosas, mas esse problema é geral. Alguns acham até a que a gente é marginal. Queria que as pessoas fossem tratadas de forma mais igual”, desabafa Antônio Rogério. Bruno Jackson
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