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29 de julho, de 2007 | 00:00

O perigo mora em casa

Pesquisa mostra efeitos da falta de prevenção de acidentes com crianças

Alex Ferreira


Vera Gaspar: acidentes domésticos não são coisas do destino e podem ser evitados
IPATINGA - Autora do estudo “Hospitalizações por acidentes em crianças e adolescentes em Ipatinga”, a médica Vera Gaspar, professora de Pediatria da Faculdade de Medicina do Vale do Aço, está empenhada em divulgar medidas preventivas de acidentes. Integrante do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria, sediada no Rio de Janeiro, a professora pesquisou, durante 12 meses, as principais causas dos acidentes que envolveram internações de pessoas com menos de 19 anos no Hospital Márcio Cunha (HMC), em Ipatinga. Os acidentes domésticos lideram a lista. Depois, vêm os acidentes de transporte – nova terminologia na CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde), e a violência em geral. O estudo sintetiza uma tese de mestrado, apresentada pela pediatra na Universidade Federal de Minas Gerais, e mostra que 40% dos pacientes de até 19 anos internados ao longo de um ano no HMC foram vítimas de acidentes em casa. No ambiente do lar, a médica conta que os locais mais comuns de ocorrências foram, em primeiro lugar, o quintal, onde ocorreram quedas, picadas por escorpião e intoxicações por plantas. Em segundo lugar, aparece a cozinha, onde ocorreram principalmente as queimaduras. Segundo a pesquisa, quase 100% das queimaduras nas crianças ocorreram na cozinha, onde também são comuns os acidentes com faca e a intoxicação.Em relação aos efeitos dos acidentes, a pediatra confirma que, para cada caso de morte de criança nos acidentes domésticos, há uma série muito maior de acidentes que deixam seqüelas temporárias ou permanentes. “Os que deixam mais seqüelas em crianças e adolescentes são os acidentes de transporte, previstos na CID-10”, esclarece. Por acidente de transporte a pediatra conta que o estudo levou em consideração qualquer ocorrência que esteja relacionada ao trânsito, deslocamento da pessoa em via pública, a pé, de bicicleta ou transportada em veículo de qualquer natureza.Além dos acidentes de causas externas, a pediatra destaca a incidência da violência contra o jovem. Os índices locais não fogem à realidade nacional. Drª Vera explica que são dois tipos de violência, a doméstica, contra a criança e o adolescente, com causas variadas e efeitos que vão desde a morte até seqüelas físicas permanentes, e a violência imposta pelo meio social. “A violência é um importante fator de morbi-mortalidade entre a população jovem”, conclui o estudo.Assunto requer política públicaO enfrentamento da situação passa por um leque de ações práticas. Conforme a autora do estudo, a professora de pediatria Vera Gaspar, não se pode continuar a atribuir ao destino e a fatalidades situações que podem ser evitadas, na maioria dos casos por medidas simples. A representante do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria entende que, no caso dos acidentes domésticos, há necessidade de uma responsabilidade compartilhada. No seu entendimento, a mídia tem uma importância muito grande na disseminação das informações sobre o assunto.“Quando fiz a pesquisa em Ipatinga, só 23% das pessoas entrevistadas já haviam recebido previamente orientação sobre prevenção de acidentes, de um modo muito geral. E uma das principais fontes foi a mídia. Entre os pesquisados, houve destaque para os funcionários da Usiminas. A maioria respondeu que já tinha conhecimento de ações preventivas de acidentes em casa, no trabalho e no trajeto. Mas, no geral, ainda falta orientação para as pessoas”, diz a médica. Por isso, a pediatra entende que a mídia, as empresas, os profissionais médicos, engenheiros de trânsito, legislação, políticos e outros segmentos sociais, não podem fugir da responsabilidade de alertar a população sobre os riscos dos acidentes domésticos que envolvem principalmente jovens e adolescentes. A ameaça do álcool líquidoEntre os produtos que não se deve nem ter em casa está o álcool líquido. Pesquisas mostram que o combustível ainda é responsável por queimaduras com muitas seqüelas. A integrante do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente, Vera Gaspar, informa que a Sociedade Brasileira de Pediatria, além de recomendar que não se tenha em casa, realiza campanhas no sentido de se proibir a venda do álcool líquido. “Infelizmente, o produto acaba voltando às prateleiras dos supermercados e sempre há criança queimada com álcool líquido. A queimadura, quando é extensa, é um acidente catastrófico, segundo alguns autores, porque acomete a pessoa em todos os sentidos, no físico, no psíquico, provoca dor, restrição de movimentos e muitas outras coisas. É uma coisa muito triste ver a dor de uma criança queimada”, diz a pediatra. Avaliação de risco por faixa etáriaNas causas dos acidentes domésticos, os dados registrados no estudo da médica Vera Gaspar mostram a necessidade de os pais avaliarem os riscos potenciais dentro de casa e ao redor do lugar onde a criança ou jovem vive, sempre a partir da correlação entre o desenvolvimento e as habilidades da criança para agir na eficiência da prevenção. Segundo a médica, o risco deve ser avaliado de acordo com a faixa de idade da criança. Menores de um ano têm maior risco de quedas. O estudo mostra que há incidência considerável de queda de todos os equipamentos de suporte da criança, a começar pelo trocador de roupa, passando pela cama e até pelo sofá, que em geral, segundo a pediatra, são locais desprotegidos. “Quero aproveitar para lembrar que o chamado ‘voador’ é absolutamente contra-indicado para criança. O equipamento atrasa o desenvolvimento, a criança corre sérios riscos de acidentes, inclusive com traumatismo craniano. Se a casa tiver degraus ou escadas, esse risco é maior ainda”, adverte a pediatra.A asfixia também está relacionada a um número considerável de acidentes registrados no estudo feito pela médica Vera Gaspar. Apesar dos alertas contidos nas embalagens da maioria dos brinquedos certificados pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), o descuido dos pais em deixar objetos menores do que a boca das crianças gera constantes acidentes. “Além das peças dos brinquedos, as sementes, alimentos, todos os objetos menores do que a boca de uma criança com menos de um ano representam riscos potenciais de asfixia”, ressalta a médica. Em relação aos riscos a partir de um ano de vida, a médica lembra que a criança de um a quatro anos já anda e tem uma curiosidade muito grande. Vera Gaspar chama a atenção para o que considera um aspecto muito importante. “Crianças nessa faixa etária esquecem muito as regras e, por isso, precisam de supervisão constante. O maior número de queimaduras em crianças ocorre entre um e quatro anos de vida. Para prevenção, se houver necessidade imperiosa de a criança ficar na cozinha, ela precisa ser observada o tempo todo, pois já é capaz de puxar um objeto quente sobre ela, mas não conhece o risco que isso representa. Além da queimadura, há o perigo de objetos cortantes, intoxicações medicamentosas e as quedas, de escadas, cadeiras, e qualquer objeto onde possa subir e cair”, informa. Atenção com medidas simples, como usar as bocas de trás do fogão e os cabos das panelas voltados para uma área protegida, são apontadas como essenciais para evitar grandes desgostos dentro do lar. Também recomenda que as mães não carreguem crianças no colo enquanto estão cozinhando. Da mesma forma, transportar panelas e ao mesmo tempo uma criança, é algo inadmissível para a profissional. Alex Ferreira
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