29 de julho, de 2007 | 00:00

Um algo a mais que faz a diferença

Profissionais do SAMU admitem que paixão pela profissão supera desgaste do dia-a-dia. Apesar do preparo, há situações que abalam

Arquivo/DA


O técnico em enfermagem André Luiz (D) admite que alguns casos do dia-a-dia ainda o impressionam
IPATINGA - “Há pessoas que ligam para o 192 para quase tudo. Se estiver com apenas uma gripe e até mesmo para nos perguntar se pode tomar este ou aquele remédio”. A declaração é de Edney Gomes Ribeiro, médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).  Edney reconhece que a maior parte da população é carente do serviço de saúde pública. Por isso mesmo, ele às vezes transgride o limite de sua função para aliviar, mesmo que por telefone, a angústia de um paciente. “Quando é possível, a gente chega a informar alguma coisa. Afinal, sabemos que boa parte das pessoas que nos ligam carece”, pondera o médico.Se por telefone os profissionais do SAMU são estimulados a prestar cuidados extras às pessoas, nos atendimentos das ambulâncias isso se torna um hábito. Além disso, um ingrediente a mais parece fazer parte do cotidiano da equipe. “A satisfação de ver a alegria no rosto das pessoas, ao serem bem atendidas, e de se recuperarem a partir de um atendimento bem-sucedido de nossa parte, é que nos gratifica. Não há nada melhor”, admite André Luiz, técnico em enfermagem do SAMU.Solícito à reportagem do DIÁRIO DO AÇO, que na última quinta-feira acompanhou o trabalho do SAMU durante todo o dia, André Luiz parece ter um dom particular de fazer com que os pacientes, mesmo em situações de angústia, fiquem calmos. Foi exatamente o que aconteceu às 14h50, quando a equipe do SAMU chegou à rua Pérola, no bairro Iguaçu, para atender a estudante Kelen Paulina Ângelo, 14 anos, que havia sofrido queimaduras de segundo grau na mão direita, no momento em que fritava banana numa frigideira.Apavorada e sentindo muitas dores, a garota entrou no carro gritando: “Moço, moço, eu vou ficar sem dedo? Moço, eu vou conseguir dormir à noite?”. Sereno, André Luiz a tranqüilizou: “Calma, minha querida, você não irá perder seu dedo. Já, já, você vai ficar boa”. Os primeiros cuidados médicos, aliados à maneira de pronunciar as palavras por parte do técnico em enfermagem, rapidamente interromperam o choro de Kelen. AvaliaçãoA dona de casa Priscila Paulina Ângela, 20 anos, irmã de Kelen, disse que a sobrinha é a terceira pessoa na família a ser atendida pelo SAMU. “Meu filho de um ano e outra irmã minha precisaram do SAMU. Eles atenderam muito bem. São bons profissionais. A única coisa negativa que acho é que ainda são poucas ambulâncias para atender a todos que precisam”, analisa Priscila, que acompanhou Kelen até o Pronto Socorro Municipal. OportunidadeNo dia-a-dia do SAMU, o atendimento aos pacientes às vezes torna-se uma boa oportunidade para incentivá-los a mudar de postura com relação à conservação de sua saúde. Foi o que aconteceu em um dos atendimentos da quinta-feira, quando uma das ambulâncias socorreu Raquel Carvalho, 21 anos, na avenida Londrina, bairro Veneza II, por volta das 16h25. Ela é cardíaca e, repentinamente, começou a sentir dores no peito. Dentro da ambulância, o auxiliar de enfermagem Wilson Marques fez algumas perguntas à paciente ao longo do percurso. Em certo momento, ela disse que não consultava há dois anos. Ciente do compromisso, Wilson a orientou. “Veja bem, você não pode ficar tanto tempo assim sem ir ao médico. Consultando regularmente, você poderá ficar mais tranqüila no seu dia-a-dia e poderá tratar melhor desse coração, que é importante para você e todos nós”, orientava Wilson, que pareceu convencer a moça.Fatos marcantes Embora alguns profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) tenham vasta experiência na área de saúde, alguns ainda conseguem se emocionar ou se chocar em certas situações. O técnico de enfermagem André Luz, por exemplo, confessa ter ficado bastante abalado com a morte de uma garota que foi atropelada ano passado no bairro Jardim Panorama e veio a falecer posteriormente. “Algumas coisas me surpreendem, sim. Como o caso de uma menina que foi atropelada por um carro no Panorama, quando ela atravessava de bicicleta. Por coincidência, nossa ambulância estava a apenas 300 metros do acidente. Chegamos rápido e ainda conseguimos estabilizar o quadro. Mas, infelizmente, dois dias depois ela veio a falecer”, relembra André. O médico Edney Gomes Ribeiro, que também trabalha no SAMU, narra um relato com final feliz, do qual ele foi protagonista. â€œComo o SAMU já se acostumou a atender casos clínicos, em algumas ocasiões temos de fazer até parto. Já fiz um dentro da ambulância, porque não dava tempo de chegar ao Hospital. E em outra ocasião, fiz um parto dentro da própria casa da gestante, já que não havia tempo de conduzi-la nem para a ambulância”, conta o médico.
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