09 de maio, de 2008 | 00:00
Estado quer reduzir cesarianas
Governo lança campanha pelo parto normal, mas publicidade é vista com receio
IPATINGA Com o intuito de promover a redução dos índices de cesarianas em Minas Gerais, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) lançou na última quarta-feira (7) a Campanha de Estímulo ao Parto Normal”, como parte das comemorações do Dia das Mães. O número de cesarianas realizadas no Estado em 2007 alcançou 49,12% do total de partos realizados. A campanha lançada pela SES visa reduzir esse percentual para pelo menos 25%, como é recomendado pelo Ministério da Saúde. Diversos estudos indicam os benefícios do parto normal, mostrando que é mais seguro para o bebê e para a mãe. O procedimento apresenta menor índice de nascimento de crianças prematuras e com problemas respiratórios.CulturalPor outro lado, a alta taxa de cesarianas realizadas no país é atribuída a uma questão cultural, já que muitas pessoas acreditam que a cesariana é o melhor tipo de parto por não causar tanto sofrimento à mãe”. Com a cesariana, é possível também programar antecipadamente a data e hora para o nascimento do bebê. O fato é que esse procedimento é recomendado especialmente para os casos em que a gestante tem problemas de saúde que tornam inviável o parto normal, ou ainda em função de uma posição anômala do feto e complicações imprevisíveis durante o trabalho de parto. Para estimular o parto normal em Minas Gerais, a SES vai investir pesado em campanha publicitária, que será veiculada em traseiras de ônibus (back bus). Também serão distribuídos folderes, chamando a atenção das pacientes e dos profissionais de saúde.PonderaçãoMas alguns médicos questionam o forte apelo das propagandas para induzir as mulheres a optarem pelo parto normal. É o caso do ginecologista e obstetra José Ibrahim Zeghzeghi, que atende no Hospital Márcio Cunha (HMC) e em uma clínica particular no centro de Ipatinga. Considero a campanha importante por estimular ao menos um questionamento das indicações abusivas e mesmo inconseqüentes de vias de parto. O governo faz um questionamento sério e responsável. Porém, tenho receio da maneira como isto é veiculado, de forma unilateral, sensacionalista, muitas vezes atendendo a outros interesses que não o bom atendimento que cada paciente merece”, observou José Ibrahim.RelacionamentoConforme José Ibrahim, não é ético induzir o paciente a escolher o parto normal, haja vista que cada gestante tem uma particularidade em sua gravidez. O parto não é uma questão de opção, em que a mulher escolhe a modalidade”, salientou o obstetra, lembrando que existem vários outros procedimentos de parto, além do normal e da cesariana.Na opinião dele, cada caso tem sua particularidade. O que deve haver é um relacionamento estreito entre o profissional e a paciente, para que o médico mostre seu ponto de vista através de uma explicação coerente. Creio que o conteúdo da campanha publicitária do governo deveria abordar este aspecto”, afirmou.Não há parto mais seguro do que outro, diz obstetraO obstetra José Ibrahim Zeghzeghi discorda da idéia propagada de que a cesariana é um procedimento mais seguro que o parto normal. Generalizar em qualquer área é complicado, mas em Medicina, além de tudo, é perigoso. Estimular um estudo da via de parto mais adequada a cada situação é muito importante”, argumentou o médico, criticando a generalização sobre as vias mais indicadas”.Dizer simplesmente que a recuperação é melhor se a via escolhida for tal, é o mesmo que desconsiderar todo o avanço do conhecimento científico”, defendeu. O obstetra alerta para os perigos de uma escolha unilateral da paciente. Muitas vezes, as conseqüências de um procedimento mal indicado são irrecuperáveis. Via de parto seguro é aquela decidida por profissional competente, após cuidadosa avaliação de cada caso”, concluiu. Gestante fará cesariana, mas defende parto normalA professora Rosa Pereira de Godoy, 42 anos, que está no 9º mês de gestação, já marcou a cesariana. Em consenso com o seu médico, ela explicou que o seu caso não permitiria outra modalidade, mas revela sua preferência pelo parto normal. A cesariana, no meu caso, é a melhor opção porque meu útero é de lado. Além disso, este é meu primeiro filho, aos 42 anos. Portanto, meu parto já é um pouco de risco, mas seu eu pudesse faria parto normal, porque a recuperação é mais rápida e é um procedimento mais natural”, comentou. Rosa de Godoy acredita que determinada resistência de mulheres quanto ao parto normal se deve a alguns mitos, muitos deles irreais. Acho que a cesariana deve ser adotada em último caso. O pós-parto da cesariana é mais dolorido. Porém, acho duvidoso quando dizem que no parto normal a criança passa da hora de nascer e a mãe sofre muito”, opinou.
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