04 de maio, de 2008 | 00:00

Falta de amor e equilíbrio emocional

Wôlmer Ezequiel


Psicanalista Leila Lacerda: “as pessoas se sentem estranguladas com as cobranças do mundo moderno”
IPATINGA – Ao longo da história, a violência nunca deixou de fazer parte da vida, seja ela qual for. Por mais que isso não justifique a onda de crimes violentos que assolam o Vale do Aço, na avaliação da psicanalista Leila Resende Lacerda, as pessoas ainda carregam consigo a violência como um caminho para resolver as coisas.“O ser humano não é tão certinho como se imagina, e todos sabemos que o bem e o mal caminham lado a lado. É preciso saber equilibrar as situações”, diz a psicanalista, acrescentando que a violência do passado tem nova roupagem, agora, na pós-modernidade.Para ela, apenas a ação conjunta entre polícias, famílias, escolas e governos é que pode minimizar todas essas atrocidades que tanto incomodam. “Muitos poderes constituídos só se preocupam em levantar estatísticas, mas nenhum propõe uma solução mais enérgica, não se vê propostas de canalização de recursos e resolução dos casos”, critica.A psicóloga de crianças e adolescentes explica ainda os traumas de adultos que cometem crimes no presente relacionados ao passado pueril. “Crianças com disfunção cerebral, síndromes, depressão, tudo isso pode complicar a vida adulta. Além do mais, elas vivem num mundo em que se dá muita visibilidade à perversão. Não se fala mais de coisas boas”, ressalta.ReligiãoDe acordo com o padre Geraldo Ildeo Franco, da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Ipatinga, o Brasil tem se mostrado um “país adolescente” em diversas situações, em que a mídia ridiculariza o que é certo, segundo os dogmas da Igreja Católica. “Só se fala de crime. Olha o caso da menina Isabella. O tempo todo bombardeando informações e, ao mesmo tempo, não se discute a importância da família, da vida em harmonia com Cristo, do bem-estar comum”, desabafa Ildeo.Ele alerta também que, sozinha, a Igreja não consegue obter os resultados esperados para a formação de uma sociedade mais justa e fraterna. “Precisamos de apoio. Os crimes do Vale do Aço refletem um sistema nacional de falta de família, comunidade e religião. Tudo faz parte de uma cadeia e a solução não pode ser individualista”, espera o padre.
Arquivo/DA


Padre Geraldo Ildeo: “a Igreja está de portas abertas para a comunidade e as ações devem ser conjuntas”
‘Cobranças do mundo moderno favorecem elevação de crimes’Pais que não dão conta da própria angústia; o ser humano perdendo, a cada dia, a própria subjetividade; inversão de valores, em que o interior das pessoas deixa de ser importante. Esses são apenas alguns dos problemas levantados pela psicanalista Leila Resende Lacerda para explicar “a falta de humanidade que o mundo presencia a cada dia”.Ela é taxativa ao afirmar que a perda de referência no seio da família favorece grande parte das frustrações na vida adulta. “A figura do pai, e até da mãe, está perdendo força devido toda a busca que o casal faz no mundo moderno. Com isso, o relacionamento entre as pessoas fica para segundo plano. Num futuro, sem sombra de dúvidas, essa falta de referência age negativamente nas pessoas”, frisa a psicanalista.Leila Lacerda destaca também que, devido a essa correria, as pessoas estão com dificuldade de formar vínculos afetivos. “Com isso não é difícil ver pai maltratando filhos, como o caso que aconteceu em Coronel Fabriciano”, revela, recordando do “caso Rafael”.ReferênciaNa avaliação da psicóloga, as cobranças do mundo moderno fazem com que as pessoas se sintam cada vez mais estranguladas. “É tanta coisa ao mesmo tempo que todo mundo deixa de se relacionar”, pontua. Ela acredita que, em algumas situações de violência extrema, como o caso Isabella Nardoni acompanhado por todo o país, o foco da ação está na falta de conquistas e desejos pessoais realizados.“Um pai que, ao longo da vida, investe no filho até a faculdade e depois, com esse jovem no mercado de trabalho sem conseguir arrumar emprego, causa cobrança interna no filho muitas vezes fora do comum. Numa situação de depressão, essas pessoas acabam ‘estourando’ contra alguém e cometendo um crime bárbaro”, salienta.Roberto Bertozi
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