29 de abril, de 2008 | 00:00
Usiminas é uma empresa válida
Em seu último dia à frente da Usiminas, após 18 anos no exercício da presidência do grupo, Rinaldo Campos Soares faz um balanço positivo de sua administração. A privatização da empresa, em 1991, a formação do Sistema Usiminas, a incorporação de novas empresas, os altos investimentos sociais e na modernização do parque siderúrgico, além de seguidos recordes de produção, são alguns destaques. Acompanhe abaixo os principais trechos da entrevista:DIÁRIO DO AÇO - Sob sua direção, a Usiminas atingiu um nível de excelência que a fazem referência no país e no mundo. Como é ver esse resultado, após 40 anos de dedicação à empresa, e qual o motivo que o levou a deixar o comando da siderúrgica?RINALDO SOARES - Não há mistério. Mudanças são naturais e fazem parte da vida de qualquer empresa. Isso é muito salutar, inclusive. Concluo este ciclo de trabalho com muito orgulho, de forma tranqüila e com o sentimento de dever cumprido. Afinal, foram muitas as conquistas. A privatização, a incorporação da Cosipa, a formação do Sistema Usiminas, os ciclos de investimento que foram, em suas épocas, os maiores da siderurgia brasileira... enfim, movimentos que consolidaram a nossa posição de maior complexo de aços planos da América Latina e líder absoluto no mercado brasileiro. Creio que nenhuma empresa do nosso segmento fez mais do que a Usiminas nos últimos 15 ou 20 anos. Geramos valor para os nossos acionistas e conquistamos três graus de investimento, o que nos confere credibilidade para crescer ainda mais.DA - O sr. ainda exercerá alguma atividade dentro da Usiminas? Ou na área de siderurgia?RS - Estarei ligado à empresa na condição de conselheiro, o que me permite acompanhar de perto as decisões estratégicas do grupo. No tempo livre que dispuser, vou me dedicar à família e conduzir, como cônsul honorário, as comemorações do centenário da imigração japonesa em Minas.DA - O sr. é Cônsul Honorário do Japão em Belo Horizonte e tem uma relação muito pessoal com os japoneses. Em que isso o ajudou e que lições importantes o sr. adotou dessa amizade?RS - O contato com a cultura milenar do Japão me proporcionou uma experiência de vida extremamente enriquecedora. Há mais de 10 anos sou Cônsul Honorário do Japão em Belo Horizonte, cargo que procuro exercer aliando os conhecimentos que acumulei sobre a tradição nipônica ao espírito empreendedor mineiro. A ligação entre essas duas culturas e suas características diferentes, e ao mesmo tempo complementares, foi um dos pilares da construção da Usiminas, primeiro investimento nipônico no Brasil no pós-guerra. Continuarei, como cônsul, trabalhando para estreitar ainda mais os laços de amizade e cooperação entre Minas Gerais e o Japão.DA - A Usiminas exerceu um importante papel civilizatório em Ipatinga e o sr. foi um dos responsáveis por esse trabalho. Essa estratégia é um ponto de vista pessoal ou o sr. apenas seguia as determinações dos acionistas? Houve resistência a esse trabalho dentro da empresa?RS - Os investimentos sociais feitos pela empresa na cidade sempre foram estruturais. Seguem, portanto, uma vocação histórica, desde a fundação da Usiminas, há 45 anos. O Centro Cultural Usiminas e o incentivo à produção artística local, os diversos projetos de educação e preservação ambiental, o Hospital Márcio Cunha, o Colégio São Francisco Xavier e os projetos de inclusão social e de habitação são exemplos claros dessa missão civilizadora. É o que eu chamo de empresa válida”, aquela que é capaz não só de gerar valor para seus acionistas, mas também de repartir os bons resultados com a comunidade.DA - O sr. sempre demonstrou uma preocupação com a vida” da cidade, inclusive de se envolver em eventos sociais e culturais. Os investimentos que a Usiminas faz em cultura, esporte e lazer, além do apoio a entidades de assistência social, ganharam importância e dimensões consideráveis sob sua direção. Há o risco de a diretoria da Usiminas perder esse vínculo de pessoalidade com a cidade?RS - Estamos confiantes que a nova gestão, encabeçada pelo engenheiro Marco Antônio Castello Branco, saberá agregar sensibilidade social aos negócios da Usiminas. Trata-se de um profissional com sólida formação acadêmica e larga experiência no setor industrial. Sua escolha foi um consenso entre os principais acionistas e estaremos sempre dispostos a colaborar com o êxito de seu trabalho.DA - O sr. continua como presidente do IBS? Como tem sido o seu trabalho à frente dessa entidade?RS - Ainda não temos isso definido.DA - Uma de suas críticas a respeito da siderurgia nacional diz respeito à falta de investimentos em indústrias de base. Esse é um problema que está sendo resolvido? O IBS tem algum projeto nessa área?RS - Hoje, nosso país tem esboçado uma agenda de crescimento contrapondo-se aos tantos planos de estabilização econômica de nossa história. É fato inconteste que o setor produtivo tem feito a sua parte. No setor siderúrgico, por exemplo, o Instituto Brasileiro de Siderurgia prevê a expansão do parque nacional das atuais 37 milhões de toneladas por ano para 59 milhões nos próximos cinco anos, considerando a ampliação da estrutura existente e os novos entrantes previstos. Dados vultosos como esse, invariavelmente, espelham não só o desejo de crescer, como também refletem as mudanças profundas vividas pela cadeia siderúrgica mundial, redesenhada com dinamismo em todos os cantos do globo por novas forças e novas ambições.DA - O que o sr. diria para os seus companheiros de trabalho na Usiminas?RS - Eu diria que quero deixar aceso em todos eles o entusiasmo que tenho pela empresa. E compartilhar com todos o trabalho e as conquistas desses 18 anos como presidente da Usiminas. Todos nós, juntos, transformamos a Usiminas e as comunidades a nós ligadas em modelos de sucesso. Eu diria a meus companheiros de trabalho que tive muita honra em contar com a sua dedicação ao longo desses anos. E que tenho certeza de que eles ainda contribuirão muito para o sucesso da empresa.
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