12 de março, de 2008 | 00:00

Mãe amarra o filho há seis anos

Sem recursos para medicamento, lavadeira mantém filho em cativeiro

Hemeline Camata


Lúcia Helena espera que as autoridades ajudem a encontrar uma solução para o filho
TIMÓTEO - A lavadeira Lúcia Helena de Oliveira, moradora do bairro Garapa, há seis anos vive um drama. Ela é obrigada a manter seu próprio filho, Wallisson Manuel Silva, de 25 anos, amarrado a uma corda. O rapaz, que sofre de problemas mentais, tem constantes crises acompanhadas de comportamento violento. A medida foi a única solução encontrada por Lúcia para manter a segurança de sua família e de seu filho, que se auto-agride, quebra objetos e ataca as pessoas nos momentos de crise.Deitado em um colchonete na varanda da casa, o tempo todo e, desde seus 19 anos preso a uma corda em sua cintura e na parede, Wallisson faz suas necessidades fisiológicas no mesmo local onde passa o dia. “Ele não é o tempo todo violento, mas o surto pode acontecer a qualquer instante caso falte algum dos medicamentos de uso contínuo”, explica a mãe, enquanto seu filho lhe beija a face.Até setembro de 2005, Wellington recebia o valor de um salário mínimo, pago pela Previdência Social, mas o pagamento foi suspenso. Um dos requisitos para o ganho do benefício é que a renda familiar seja até, no máximo, de um quarto do salário mínimo. Porém, a filha de 22 anos começou a trabalhar com a carteira assinada e a receber exatamente um salário, o que suspendeu o recurso. A quantia que a garota ganha cobre apenas o custeio de seus estudos e algumas despesas de casa. Por falta de condições financeiras, o rapaz não faz consultas periódicas.Wellington estudou na Associação de Pais e Amigos Excepcionais (Apae) dos 7 aos 16 anos, mas teve que sair, pois seu comportamento começou a por outras pessoas em risco. “Ele não suporta barulhos altos, o que dificulta muito no seu convívio social. O que eu mais queria na vida é não ter que passar por essa situação. Queria ver meu filho livre, como todos têm o direito de ser”, lamenta Lucia.Atualmente a secretaria de saúde ajuda com a doação de dois remédios que o jovem toma. Um terceiro medicamento, pago pela família, custa cerca de R$ 24,00. Ministério Público e PM acompanham o casoNa tarde de ontem, o vice-presidente da Comissão de Direitos da Câmara Municipal de Timóteo, vereador Beto Poeta (PPS), esteve na casa da lavadeira para orientar a família nos procedimentos que podem ser tomados para que mudar a atual situação. Beto Poeta informa que já está adotando algumas providências. “Iremos ver um meio legal para que o rapaz consiga novamente o benefício do INSS e possa sair das cordas”, disse.A Polícia Militar esteve no endereço no momento da visita do vereador para registrar o boletim de ocorrência e levar o caso ao Ministério Público. Wellington foi encaminhado pelo sargento Carlos Antonio Freitas ao Hospital Vital Brazil, para realização do exame de corpo de delito.No BO, a Polícia relatou que, embora o rapaz estivesse amarrado, ele não apresentava sinais de maus tratos. “O que verificamos é que não há sinais de violência. O BO será levado à promotoria responsável que irá analisar a atitude da mãe”, frisa o sargento Freitas.Durante a abordagem, Lúcia Helena informou que não se opunha que a polícia levasse o filho ao médico. “Tenho esperança que isso se resolva e sei que teremos que passar por um processo burocrático”, disse com relação à confecção do Boletim de Ocorrência.No final da tarde de terça-feira, a promotora responsável pelo caso, Daniele Naconescki, já havia recebido o BO. O advogado da Câmara Municipal, Lair Horta, será o responsável por acompanhar a família durante o processo, com orientação jurídica.Ontem mesmo o vereador Beto Poeta acionou a Secretaria de Saúde e Assistência Social do município. “Pedimos que a assistência social do município acompanhe esta família que necessita de apoio. Percebemos que a mãe age desta forma, colocando o filho em cativeiro, por não ter outra  alternativa”, frisa o vereador. Augusto Pascoal
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